sexta-feira, 29 de junho de 2012

CALMA


Bem que à tona passe a haver,
no mar alto, a tempestade,
lá no fundo pode ele ter
placidez, tranquilidade.

Tal se dá em cada ser.
Nas tormentas do labor,
quanto importa conhecer
um retiro interior.

Ele é seio da bonança;
nele me é dado recolher,
encontrar serenidade.

Gera a calma confiança,
essa paz do meu viver
com sabor de eternidade.

                                                  João d’Alcor

quarta-feira, 27 de junho de 2012

OS JOVENS E A EUROPA


A Europa alargada conta com perto de 75 milhões de jovens entre os 15 e os 25 anos. Independentemente da sua heterogeneidade (em termos de acesso ao mercado de trabalho, educação, vida familiar, rendimento, etc.), os jovens reivindicam o seu estatuto de cidadãos, com os respectivos direitos e obrigações. Investir na juventude significa investir naquilo que constitui a riqueza das nossas sociedades, hoje e no futuro.
Trata-se de uma das chaves do sucesso do objectivo político definido pelo Conselho Europeu de Lisboa: fazer da Europa "a economia do conhecimento mais competitiva e mais dinâmica do mundo". Apesar de se encontrarem em situações muito diversas, os jovens partilham valores e ambições, mas também dificuldades.
Estes jovens constituem um grupo em plena mutação, caracterizada por um acesso ao emprego e à fundação de uma família mais tardios, envolvendo percursos individuais muito mais variados do que no passado.
 A escola ou a universidade, o emprego e o ambiente social deixaram de desempenhar o mesmo papel integrador. A autonomia adquire-se cada vez mais tarde. Isto traduz-se, muitas vezes, por um sentimento de fragilidade da sua condição, uma perda de confiança nos sistemas de decisão existentes e um certo desinteresse não só pelas formas tradicionais de participação na vida pública, mas também de participação nas organizações de juventude.
Alguns dizem que nem sempre se identificam com as políticas públicas. Outros fecham-se na indiferença ou no individualismo, utilizando formas de expressão, por vezes excessivas e mesmo à margem dos canais democráticos. No entanto, a maioria desses jovens pretende influenciar a acção política mas não encontra os meios para o fazer.
Os jovens europeus têm, contudo, algo a dizer pois são eles os primeiros a sofrer os efeitos da evolução económica, dos desequilíbrios demográficos, da globalização e da diversidade das culturas. Pede-se-lhes que inventem novas formas de relações sociais, novas formas de exprimir a solidariedade, de viver as diferenças e de as incorporar no próprio momento em que surgem novas incertezas.
Apesar de um contexto social e económico cada vez mais complexo, os jovens dão provas de uma grande capacidade de adaptação. Os responsáveis políticos nacionais e europeus têm, pois, a responsabilidade de facilitar essa adaptação, fazendo dos jovens intervenientes de pleno direito nas nossas sociedades.

                                                         FNeves


segunda-feira, 25 de junho de 2012

"PÕE QUANTO ÉS NO MÍNIMO QUE FAZES" (Fernando Pessoa)



Se as emoções são o combustível das nossas ações, a motivação é o seu motor. Sem a motivação adequada fazemos as coisas contrariados, o que alimenta sentimentos negativos.
Quer no trabalho, quer na vida pessoal, é importante fazermos escolhas que reflitam o nosso desejo mais profundo, a nossa forma de ver as coisas. Para isso temos de desenvolver a chamada motivação intrínseca, isto é, a motivação que nos leva a fazer escolhas por nós e não por pressões externas.
Quando fazemos algo exclusivamente em função da finalidade (ex. trabalhar para ganhar dinheiro, estudar só para passar num exame, etc.) acabamos por viver dependentes do resultado e da reação dos outros para que essa atividade faça sentido. Pelo contrário, quando nos dedicamos a atividades simplesmente porque queremos e da forma como queremos, aumentamos a nossa autoestima, a nossa perceção de autonomia e de responsabilidade bem como a nossa sensação de bem-estar.
Nestes casos, apesar do resultado poder ser importante, o que mais conta é a atividade em si, e é por isso que nos faz sentir bem. Em geral, tanto as respostas negativas como as positivas (isto é, as repreensões/punições ou os elogios/prémios) têm tendência a reduzir a intensidade da nossa motivação interior na medida em que a longo andar acabam por condicionar o nosso comportamento.
Quanto mais importância damos ao que os outros pensam ou exigem de nós, maior é a nossa dependência externa. Ao perdermos a nossa autonomia emocional, vamos perdendo a autoconfiança e a autoestima. Apesar de ser importante ter um reforço positivo por parte dos pais, colegas, chefes, amigos, etc., necessitamos de uma autodeterminação individual, fruto de uma atitude exclusivamente nossa.
Por isso façamos o que nos motiva interiormente, e mesmo que tenhamos de fazer coisas de que não gostamos, há que encontrar algo positivo que nos dê motivação para darmos o nosso melhor, sempre!

                       Rossana Appolloni


sábado, 23 de junho de 2012

O ABANDONO ESCOLAR - 2


                             O papel do professor

Foi referido em crónica anterior que a família pode constituir-se num factor crucial para o abandono escolar. Ela, no entanto, não é a única instituição que nele tem responsabilidades. À escola cabe um papel primordial para que o aluno continue nela, se valorize e possa, um dia, dar o seu contributo à sociedade.
É nas primeiras experiências escolares que as dificuldades nas aprendizagens se começam a sentir. Se, depois, em anos subsequentes, elas foram reforçadas através de veredictos escolares negativos, de repetências repetidas, o aluno vê-se constantemente confrontado com o insucesso.
Para interromper este caminho, duas vias, em simultâneo, terão que ser percorridas. Uma, de carácter psicopedagógico, centra-se na acção do professor. A outra, de cariz curricular, tem a ver com a existência de currículos alternativos.
Relativamente à primeira via, a psicopedagógica, ela consiste, fundamentalmente, em o professor, mais do que reforçar os erros cometidos pelo aluno, tentar valorizar aquilo que ele fez de bem, ainda que pouco seja. O aluno sente-se estimulado a prosseguir quando vê que algo do que produz merece consideração positiva.
Depois, há que ensiná-lo a estudar, a compreender aquilo que lê.
Interessa, ainda, que o aluno saiba, concretamente, o que se pretende dele, quais as metas que deverá alcançar. Estabelecer-lhe, com precisão, os objectivos que deverá atingir, mostrar-lhe confiança no trabalho que está a realizar, são actos do professor que podem contribuir para que o aluno se empenhe no estudo e consiga mudar para a rota do sucesso.

                                            Mário Freire

quinta-feira, 21 de junho de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 10


                                   Princípios a honrar (Continuação)

Na sequência dos predicados anteriormente apontados, prossegue a lista dos seguintes princípios a destacar:
Estímulo – O educador é ao mesmo tempo um estimulador e um facilitador. Ao mesmo tempo que partilha informação, torna  o educando mais consciente de si mesmo e mais apto a encontrar a sua própria via. As provas desta via são um incentivo do potencial humano tendente a manifestar-se na sua plenitude.    
Ética – O confucionismo insiste no seguinte mandamento; “Faz o teu possível para tratar os outros como gostarias de ser tratado tu mesmo. Verás que isso constitui a via mais curta para a humanidade.” Idêntico é o princípio bíblico do “ama o teu próximo como a ti mesmo.”  Assagioli nota que isto “se inspira de valores éticos essenciais e universais.” A consciência ético-social procede mais da dignidade do que se é do que de normas exteriores. Como nota Viktor Frankl, “existe uma espiritualidade inconsciente, uma moralidade inconsciente e uma fé inconsciente.”
Exemplo – De acordo com o provérbio latino, verba volant, scripta manent, exempla trahunt (as palavras voam, os escritos permanecem, os exemplos arrastam), Assagioli tem conta da “educação indirecta” relacionada com a “atmosfera psicológica”. Ele próprio fora modelo inspirador desta atmosfera. No dizer de Teresa D’Amico, “ele ensinava nos dando a todos o exemplo pessoal: Ele era o testemunho vivo da psicossíntese.” É particularmente na educação que os modelos exemplares se qualificam pela integridade e coerência.
Experiência -  Só o ensino proveniente da vivência evita que o educador não seja um diletante a fazer do educando uma cobaia. Vem daí a ilação de Assagioli afirmando que “nós podemos educar os outros apenas na medida em que atingimos a nossa educação.” Noutros termos: “Previamente a estarmos à altura de transmitir a psicossíntese aos outros, devemos aplicá-la em profundidade a nós mesmos; não basta ter dela um conhecimento intelectual.”
Higiene psicológica – Jung adverte para o perigo de “infecções psíquicas” e  Assagioli propõe campanhas de “desinfecção psicológica”, tidas como urgentes, à semelhança das campanhas ecológicas. A psicossíntese investe numa educação, quer individual quer colectiva, em ambiente são e harmonioso.
Mutualidade – A educação permanente evoca uma auto-didaxia assistida. Assagioli insiste sobre “o princípio esquecido e negligenciado: a educação do educador.” Dele provém esta questão fundamental: “Onde estão os educadores dos educadores dos educadores?” Nesta mutualidade há um processo que apela para um encadeamento ininterrupto de qualidades a cultivar e compartilhar.

NB - Prosseguirá a lista de vocábulos sob a temática de princípios educativos a ter em conta.
João d’Alcor

                                               João d’Alcor

terça-feira, 19 de junho de 2012

UM FUTURO VERDE PARA O NOSSO PLANETA


Que mundo iremos deixar aos nossos filhos? Esta é uma pergunta que deve preocupar a todos. Cada geração é responsável por melhorar a vida das gerações futuras mas a rapidez com que estão a verificar-se as alterações climáticas, conjuntamente com a actual recessão económica, fazem aumentar o risco com que os nossos descendentes terão de lidar com a subida do nível do mar, a desflorestação, a escassez de comida e água e o aumento das doenças. Uma séria instabilidade social poderá vir a tornar-se uma realidade.
            Antes que seja demasiado tarde para inverter a situação, diversos países da Europa desenvolvem projectos cujos objectivos passam, por exemplo, por reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em, pelo menos, 20% até 2020. Também a União Europeia pôs em marcha uma ambiciosa legislação que regula o registo, a avaliação, a autorização e a restrição de substâncias químicas, que se propõe levar à supressão progressiva de materiais perigosos.
A investigação científica está a ajudar a desenvolver novas formas de energias renováveis a partir do vento, da água, do sol e dos biocombustíveis. Muitas delas têm origem em iniciativas locais em pequena escala, mas novas tecnologias eficientes poderão ser partilhadas em todo o mundo, promovendo simultaneamente a criação de empregos no sector.
A crise dá-nos a oportunidade de tirar lições importantes e de decidir sobre a forma que queremos dar à nossa economia no futuro, bem como a forma de ajudar as empresas no sentido de contribuírem para a construção dum planeta onde seja tida em consideração a preservação do ambiente que é de todos nós.

                                                                  FNeves


domingo, 17 de junho de 2012

ATREVA-SE A TER SUCESSO



Quando fazemos coisas que nos estimulam sentimos prazer. Fazer algo que é demasiado difícil cria-nos ansiedade mas se for demasiado fácil também nos aborrece. Entre estes dois extremos da ansiedade e do aborrecimento, podemos encontrar uma atividade que nos interessa e que consegue pôr à prova as nossas capacidades. Quando isso acontece, mergulhamos num estado psicológico estimulante e positivo. A criação artística, a pesquisa científica e os processos de descoberta, a resolução de problemas, a realização de projetos pessoais ou coletivos que valorizam a nossa autonomia individual e que nos dão a impressão de controlo sobre o mundo externo são muito gratificantes, sobretudo quando a conclusão desses projetos nos dá uma sensação de realização pessoal.
Quando fazemos algo que nos preenche, não só a nossa capacidade de concentração é muito maior como facilmente nos abstraímos de preocupações e frustrações que possam fazer parte da nossa vida. Por outro lado, a nossa imersão pode ser tão intensa que perdemos a noção do tempo, envolvemo-nos de tal maneira que parece que a nossa consciência desaparece para depois voltar. Quando terminamos com sucesso a dita atividade sentimo-nos muito mais fortes e seguros para lidar com os desconfortos do quotidiano.
Resta saber: no seio das atividades que fazemos ao longo do dia, quais são as que nos proporcionam este estado positivo? Conseguimos dar o melhor de nós quando fazemos algo que nos coloca obstáculos possíveis de ultrapassar, que nos põe ativos e desafia as nossas capacidades. Por isso inventem, criem projetos, arrisquem… só os que ousam é que se atrevem a ter sucesso!
                                       Rossana Appolloni


sexta-feira, 15 de junho de 2012

LARGO DOS CORREIOS


            Falou-se há dias no aparecimento de mais um número de uma revista, em Portalegre. Chegou, agora, a vez de ser criado mais um blog. Este acontecimento nada teria de anormal, não fosse o seu autor – António Martinó de Azevedo Coutinho – uma das figuras marcantes da cultura portalegrense dos nossos dias.
Tomando como título a designação popular Largo dos Correios, um espaço de Portalegre com antigas tradições, este blog vem enriquecer o panorama cultural desta bela, antiga mas tão esquecida cidade alentejana.
Transcreve-se o primeiro texto com que se iniciou o blog, sendo dele retiradas as figuras e vídeos, aliás muito significativos, mas que não se enquadram na estrutura do Educologia.
                                                                  Mário Freire

                                 A Senhora dos aneis

A Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Portalegre organizou um notável evento, um Congresso Internacional de Cultura Lusófona Contemporânea, subordinado ao tema A Mulher na Literatura e Outras Artes.
Dispondo duma parceria com a Universidade Federal de Juiz de Fora (Brasil), esta realização pretende instituir-se como um espaço de discussão e reflexão em torno das questões de género nas literaturas de expressão portuguesa contemporânea.
Logo a iniciar o Congresso, este contou com a presença da escritora Maria Teresa Horta que se comprometeu com a conferência de abertura, sob o título de Arte Poética.
A forçada ausência da Doutora Maria Helena Carvalhão Buescu, que a deveria apresentar, remeteu tal função para a jornalista Patrícia Reis, confessa admiradora e íntima amiga da co-autora das Novas Cartas Portuguesas.
Bem se poderá afirmar que logo aí começou o encantamento que prendeu todos os que tiveram a rara felicidade de partilhar, no auditório da ESEP, de um superior e prolongado momento de emoção elevada a um invulgar grau de qualidade e de afecto. Intercalando a apresentação, nada formal, da autora, Patrícia Reis evocou o seu próprio itinerário pessoal de descoberta, apreço, progressivo contacto e cumplicidade pessoal com Maria Teresa Horta. E leu de forma sentida alguns textos de ambas, na ilustração dum apaixonado relato que antecipou a revelação seguinte.
A senhora dos anéis, como acabara de ser retratada, surpreendeu-nos depois com a força duma palavra onde literatura e poesia se fundiram, em que até a própria e cuidada leitura traduziu a serena firmeza com que Maria Teresa Horta soube sempre enfrentar o risco e a esperança, num trajecto de intervenção cívica e cultural onde a coragem e a coerência foram permanentes marcas da sua invulgar personalidade.
Preenchendo a admirável descrição do seu percurso de vida, a poetisa foi declamando trechos da obra, enquanto pela sala perpassava um colectivo fascínio pela personalidade que todos prendia pela magia da autorizada palavra. Alguns dos episódios, como o das Três Marias, protagonizado com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, trouxe-nos a colorida descrição de dias de resistência, onde a literatura foi arma de combate contra a opressão, sobretudo a cultural.
Duma vida densamente preenchida pelo culto do jornalismo e do cineclubismo, Maria Teresa Horta soube trazer-nos com rigor e saudade momentos inesquecíveis que partilhou com todos aqueles que, presos pela sua fácil palavra, ali eram contagiados pela magia duma cultura viva e actuante.
Poetisa a tempo inteiro, anotando do quotidiano os permanentes pretextos de inspiração, a feminista militante evocou os marcos pessoais, hoje históricos, da sua rica e dinâmica existência. E lembrou companheiros e companheiras de jornada, quando até em França e nos Estados Unidos colheu inestimáveis apoios cívicos.
Desde Espelho Inicial, primeira obra publicada em 1960, até As Luzes de Leonor, a mais recente, Maria Teresa Horta evocou sobretudo  Minha Senhora de Mim e A Paixão segundo Constança H. Descendente familiar da Marquesa de Alorna, dela herdou certamente o dom de uma poesia original de rara qualidade...
Se o uso da expressão “abrir com chave de ouro” alguma vez teve absoluta pertinência, então isso aconteceu no promissor arranque deste evento portalegrense. Que continue e se reforce.
Porque é sempre reconfortante e útil prolongar, partilhar ou guardar os momentos invulgares, tal é felizmente possível, por indirectos registos de arquivo, quanto a Maria Teresa Horta. Da excelente série literária Ler Mais Ler Melhor, da RTPN, podemos apreciar dois programas recentes, de 2011, sobre a vida da autora e sobre o episódio das Três Marias. Nestes relatos da poetisa, organizados com base na primeira pessoa, prolongamos o encantamento da sua recente estada entre nós, então bem ao vivo e em directo.

                             António Martinó de Azevedo Coutinho

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CALINADA


Ir provar que não morri
faz pensar em La Palisse.
No entanto não menti,
ao cair em tal tolice.

Isto em termos de evidência
não é sempre o que parece.
Falhas há de inteligência;
quantas vezes acontece.

Face a boa calinada
que desperta a gargalhada,
o bom senso até se rende:

Faz de conta não ser nada.
Toda esta tabuada,
com humor, melhor se aprende.

João d’Alcor

segunda-feira, 11 de junho de 2012

SER FELIZ É POSSÍVEL



Quando temos um problema e não sabemos como resolvê-lo é frequente pensar que, se o conseguirmos ultrapassar, seremos felizes. Imaginar algo do género “se conseguir atingir determinado objetivo resolverei todos os meus problemas” é acreditar que uma vez alcançada a meta (acabar os estudos, mudar de emprego, ganhar mais dinheiro, ser promovido, casar, etc.) vamos conseguir curar os nossos males. Na verdade, podemos até sentir uma forte emoção no momento em que concretizamos um sonho, mas depois, quando a vida retoma a normalidade, a sensação de vazio volta. Como é que se pode então sentir um estado positivo duradouro por oposição a uma emoção fugaz?
Quando pensamos em ser felizes pensamos na felicidade como uma meta, como a fase final de um processo. No entanto, assim que atingimos o objetivo apercebemo-nos que ainda não é suficiente e facilmente nos sentimos insatisfeitos e frustrados. Esta situação tão comum deve-se ao facto de concentrarmos todas as nossas esperanças na meta em si e não no percurso que nos leva até lá. Atingir o objetivo é importante, mas a forma de lá chegarmos acaba por ser tão ou mais importante. Ter objetivos é fundamental mas o que nos preenche mais acaba por ser o prazer que sentimos durante as nossas conquistas diárias para lá chegarmos.
Desta forma, a pergunta que nos devemos fazer não é tanto se somos felizes ou não mas sim o que podemos fazer para sermos cada vez mais felizes: o que é que podemos fazer hoje para nos sentirmos mais felizes do que ontem? E se hoje nos sentimos mais felizes do que ontem, então significa que estamos no caminho certo!

                                  Rossana Appolloni

sábado, 9 de junho de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 9



                                  Princípios a honrar (Continuação)

Na sequência do texto anterior, segue a enumeração de alguns princípios educológicos a ter em conta, a partir de vocábulos evocadores, sumariamente expostos.
            Co-responsabilidade – Sem colocar de parte o empenho e o apoio a dispensar, Assagioli entende que é de ter em conta  o caso de “indivíduos mais passivos aos quais importa dizer:  ‘sim, apraz-me ajudar-te, mas cabe a ti fazer o trabalho’.”
Correcção – Ensinar e de corrigir se conjugam numa mesma dádiva. Assagioli recomenda o método socrático destinado a levar o educando a descobrir por si mesmo o erro cometido, em lugar de lho indicar. Fazendo ver quanto a correcção é incompatível com a critica negativa, ele aponta  como “verdadeiros venenos, o criticismo, a desvalorização, o pessimismo e os prognósticos de insucesso.”  
Criatividade – Para o conceptualizador da psicossíntese a educação não segue a lógica da construção de uma casa, de forma a começar pelos caboucos, partindo para as paredes e terminando no tecto. Trata-se de um organismo vivo em que são de ter em conta, ao mesmo tempo, todos os elementos. A criatividade prima pela originalidade e faz apelo à liberdade. Submetê-la às correias de um sistema conduz ao detrimento do indivíduo, colocando-o num dependência escrava que se limita ao déjà vu.
Diferenciação – A educação diferenciada presta atenção às características e às possibilidades de todos. Assagioli chama a atenção para ocaso de indivíduos superdotados, entendendo que “é do interesse geral de cada comunidade e nação descobrir e oferecer todo o apoio possível aos que, pelas suas qualidades superiores, se podem tornar futuros guias da humanidade, os seus cientistas, políticos, economistas, artistas, educadores e os criadores de uma nova civilização e cultura.” Longe porém de cair num procedimento discriminatório, entende ele que cada criança deve ser considerada como potencialmente superdotada: “Se educamos as crianças normais como sendo superdotadas, as suas capacidades latentes começam a se exprimir.” 
Disciplina – Esta deve ser encarada e utilizada como um meio; jamais como uma finalidade. Tal como o sal para o alimento, são de excluir  insuficiente e o demasiado. A disciplina repressiva impede a auto-afirmação, prepara o terreno par a mediocridade e provoca a nevrose. Uma disciplina adequada leva a respeitar as fronteiras entre si mesmo e os demais. Ela leva a compreender que há um preço a pagar pela educação o qual jamais virá a ser tão custoso como o da ignorância.

NB --Prosseguirá a lista de vocábulos sob a temática de princípios educativos a ter em conta.

                                                 João d’Alcor

quinta-feira, 7 de junho de 2012

UM PLÁTANO ÁRVORE E UM PLÁTANO REVISTA



Teve lugar no passado dia 23 de Maio o lançamento do número 5 da revista Plátano, em Portalegre. Trata-se, praticamente, da única revista de natureza cultural existente na cidade.
Ora, para Portalegre, a palavra plátano tem um significado muito próprio pois é aqui que existe uma das árvores maiores e mais antigas do País. Aquela sua copa gigante ouviu muitos lamentos e projectos, alguns dos quais se tornaram realidade; foi testemunha de negócios das gentes simples da cidade.
Numa outra faceta na sua já longa vida de 174 anos, o Plátano-árvore foi, e continua a ser, um ponto de encontro das pessoas. Com os de fora e com os de dentro. Ali se trocam abraços, se matam saudades, se fala das coisas que nos alegram e das que nos amarguram.
Mas em todas as circunstâncias, ela é aquela sombra refrescante que nos dias de calor nos protege do sol escaldante e nos convida a descansar debaixo dos seus ramos, para depois prosseguirmos a nossa marcha. Ela não rejeita ninguém; a todos acolhe.
Também a revista Plátano é um espaço cultural que não discrimina, acolhendo portalegrenses e não portalegrenses. Ela é um ponto de encontro de várias correntes, gerações, temas e ideologias numa diversidade e complementaridade que a enriquecem.
Neste número fala-se predominantemente de Portalegre, quer nos anos da II guerra mundial e de recordações familiares que são um pretexto para a história da cidade desse tempo, quer de uma sua escritora, Luísa Grande, e ainda de duas instituições, a Escola Secundária Mouzinho da Silveira e a Biblioteca Municipal em que, com os seus espólios, mostram a riqueza bibliográfica ali existentes. Centrados, ainda, em Portalegre, a revista traz-nos um estudo sobre José Régio nos anos de 41 e 42 e, ainda, um artigo crítico sobre a Portalegre de hoje que, parecendo ir a caminho do deserto, nela existem réstias de esperança, pelo menos no que à cultura se refere. Num âmbito geográfico mais amplo, surge-nos um estudo sobre os celeiros no Distrito de Portalegre.
Alargando ainda mais o conteúdo dos temas, apresenta-se-nos um artigo sobre uma União Europeia mais solidária. Por fim, focando, agora, temas mais gerais, há um artigo sobre a “animação teatral no desenvolvimento local e comunitário” e um outro sobre “as crenças, as expectativas e os estereótipos em diferentes espaços sociais”.
Finalmente, nela aparece a poesia. Esta, mais do que nunca e para os dias de hoje, é uma das poucas fontes que nos pode trazer o lenitivo ao espírito, perante a realidade acabrunhante que estamos a viver
Voltemos ao Plátano–árvore. Ele tem uma história já longa. Atribui-se a José Maria Grande a plantação desta árvore em 1838. Aquele ilustre portalegrense, sendo médico, distinguiu-se fundamentalmente no domínio da Botânica, tendo vindo a ser, além de professor daquela disciplina na Escola Politécnica, o director do Jardim Botânico da Ajuda.
Ora o “plantador” desta Revista chama-se Mário Casa Nova. Ele tem propiciado, no meio da vertigem que nos envolve, momentos de repouso e de fruição intelectual a quem sob as páginas da Plátano se acolhe.
Como diz o editorialista deste número, esta revista “assume uma vez mais a responsabilidade de não deixar morrer o pensamento”.

                                             Mário Freire

terça-feira, 5 de junho de 2012

VALE A PENA TER EMOÇÕES POSITIVAS?


As emoções jogam um papel fundamental na nossa vida simplesmente porque são elas que nos levam a agir. É a emoção que sentimos que nos empurra a fazer escolhas, é ela que nos dá a motivação necessária para tomarmos decisões. Por vezes pensamos que é a nossa parte racional a decidir, mas na verdade é a expectativa de viver emoções positivas que nos leva a seguir uma determinada estrada. Se não tivéssemos emoções seríamos praticamente vegetais; poderíamos manter a razão a funcionar, mas viveríamos numa indiferença total perante os acontecimentos e os pensamentos.
Precisamos de nos sentir bem para dar sentido à nossa vida, daí ser fundamental fazermos o que nos dá prazer. É verdade que por vezes somos levados a fazer coisas de que não gostamos, mas se por cada “obrigação” fizermos também algo por puro prazer, as emoções positivas acabam por ganhar mais peso na nossa vida! E porque é que é tão importante sentir emoções positivas? Porque elas alargam o nosso campo de interesse, preparam-nos para novos sonhos, estimulam a nossa criatividade e a nossa produtividade e facilitam a criação de novas relações humanas.
Se por um lado as emoções negativas agravam a nossa tendência a criticar, a fazer juízos de valor e a tornar mais difícil a nossa tomada de decisões, as emoções positivas facilitam a tolerância, a criatividade, a produtividade e até a longevidade. Ter emoções positivas contribui para o nosso bem-estar e ajuda a lidar com os desafios da vida. Por isso, façamos o que nos dá prazer, entreguemo-nos ao que nos faz sorrir, pois são esses momentos que dão significado à nossa existência e nos fazem viver num mundo positivo!

                                             Rossana Appolloni

domingo, 3 de junho de 2012

LIMITES NA PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NA ESCOLA


             Veio a público, recentemente, uma situação em que numa escola do 1º ciclo passaram a existir “patrulhas de segurança”, constituídas por professores e alunos, com o objectivo de “prevenir agressões” e “promover atitudes e comportamentos socialmente mais adequados.
            Na notícia dizia-se, ainda, que o papel das crianças era o de “tomar nota do nome dos colegas da escola que apresentam comportamentos inadequados. Estes nomes serão colocados em local público para que toda a comunidade escolar tenha conhecimento dos mesmos”.
            Fazendo fé na notícia, há vários aspectos a considerar nela:
            1º - Em abstracto, penso que é sempre de louvar o facto de uma escola chamar a participar alunos para a resolução de problemas concretos. Os alunos, dando-se-lhes responsabilidades ao nível das suas capacidades, sentem-se valorizados e podem constituir-se em sujeitos activos na resolução de problemas.
            2º - No caso em análise, nas atribuições dadas aos alunos incluía-se o “tomar nota dos nomes dos colegas”, os quais, posteriormente, seriam afixados “em local público”.
            Julgo que esta situação configura um acto deseducativo, na medida em que        
a)     se incita os alunos, ainda crianças, à delação dos seus próprios colegas;
b)    se propõe expor na praça pública escolar os supostos transgressores.
Ora, o aluno não tem atribuições de julgador dos actos dos seus colegas. Embora a disciplina na escola seja um tema com múltiplas vertentes (nestas crónicas já tratado), ela não deixa de responsabilizar, em primeira instância, o professor. O aluno tem que participar na escola em actividades nas quais a interactividade, o trabalho em equipa com os seus pares vise um objectivo construtivo, seja ele de natureza lúdica, social ou científica.
Outro aspecto da notícia que, julgo, não tem efeito educativo é o facto de os alunos delatados verem os seus nomes expostos publicamente. Ora, um castigo, se dele se pretende tirar efeito educacional, é o de ele ser dado em privado. Aí, no recato de uma sala, se pode mostrar ao prevaricador o dano provocada pela acção cometida e encontrar compromissos e meios para que a mesma não venha a ser mais repetida.
Aprendi ao longo da minha carreira de professor que, relativamente aos alunos, apenas os elogios deveriam ser públicos; as admoestações, para terem efeito, só em privado podem resultar.  

                                                              Mário Freire



sexta-feira, 1 de junho de 2012

CALEIDOSCÓPIO


Uma prenda de guardar
foi o meu caleidoscópio.
Já falei com ele eu próprio,
em criança, a perguntar:

Não será que o Pai do Céu
foi em ti que s’inspirou
para o mundo que criou
e que expôs, assim, ao léu?

Já o dei. Com ele não brinco.
Mas contemplo o céu aberto,
vendo Deus, de mim tão perto,

que lhe digo, e com afinco:
Belo rosto que Tu tens...
Infinitos parabéns!

                                                        João d’Alcor