sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

DOCILIDADE



Evoca a docilidade
luz que vem do coração.
Sem vislumbres de vaidade,
transparece a distinção.

Na meiguice em seu olhar,
longe de escrava submissão,
há o amor que tem p’ra dar;
tudo é prova de atenção.

Vem do dar-se, sem palpite,
o segredo da ternura,
em tal jeito que é sem par.

Surge à guisa de um convite
o modelo da doçura
que não cessa de inspirar.


João d’Alcor

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A ARTE E O ENSINO DA MATEMÁTICA

 
 
 
 
 
       A preparação em Matemática dos alunos, num mundo cada vez mais tecnológico, é um dado que os políticos, os gestores, os professores e os pais têm que assumir. Esta disciplina, para além de proporcionar uma organização lógica da mente, desafia-a constantemente a procurar soluções para os problemas que o desenrolar dos programas vai colocando.
Estudar é preparar para a vida, mas a Matemática desempenha, sem dúvida, um papel importante nessa preparação.
Houve já oportunidade, nestas crónicas, de destacar a Música no combate ao insucesso e ao abandono escolares e a referência a casos concretos, inclusive, em Portugal.
Surge agora uma outra experiência, na Jefferson Elementary School, em Passadena, E.U., de utilização da Arte, agora na forma das Artes Plásticas, para a motivação e recuperação dos alunos em Matemática. Assim, por exemplo, estes foram desafiados a planear e, depois, a executar uma escultura. Para isso, receberam um orçamento e uma lista de preços dos materiais que poderiam usar.
Perante a situação, os alunos confrontaram-se com vários problemas a resolver: de natureza financeira, tendo que apresentar os dados que ilustravam o modo como geriam o orçamento que lhes foi dado; de natureza científica, estudando os conceitos matemáticos que eram necessários para a execução da obra, tais como o de área e de perímetro; de natureza estética, fazendo os ensaios e procurando os caminhos que os conduzissem ao objectivo formulado.
Ora, o projecto foi muito motivador para os alunos, mostrando como a Matemática se relaciona com outras áreas, tendo trazido, para além dos conhecimentos, lições para a vida.
Este projecto teve um financiamento extra. Pergunto-me, no entanto, se não seria possível, na medida dos nossos recursos, desenvolver actividades que, dando maior dignidade às Artes no nosso sistema de ensino, pudessem aproximar a Matemática à vida.
 
                                                     Mário Freire
 
 
 



segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

BARBA AZUL E O SEGREDO DO QUARTO FECHADO


      Barba Azul conta a história de um aristocrata rico, muito feio e com uma horrível barba azul. Um dia, ao visitar um dos seus vizinhos, pediu para casar com uma das filhas e a família ficou muito assustada, pois ele já se tinha casado outras seis vezes e ninguém sabia o que tinha acontecido com as anteriores esposas. Acabou por convencer a família e casou com a filha mais nova.
      Após o casamento foram viver para o castelo de Barba Azul. Algum tempo depois, Barba Azul precisou de ir de viagem e entregou todas as chaves de casa à sua esposa, incluindo a de um quarto que ele a tinha proibido de abrir.
      Assim que ele partiu, ela começou a sofrer de uma enorme curiosidade pelo quarto proibido. Contou o segredo à irmã, que a convenceu a entrar no quarto. Ao satisfazer a curiosidade viu o chão do quarto todo manchado de sangue e os corpos das ex-mulheres pendurados na parede. Apavorada, voltou a trancar a porta mas não reparou que o sangue tinha sujado a chave. Quando Barba Azul voltou, percebeu imediatamente o que a esposa tinha feito e, tomado pela raiva, tentou matá-la mas ela conseguiu fugir e salvar-se.
      Esta história serve-nos de ponto de reflexão para as relações que hoje vivemos. Todos nós temos um passado, vivido com outras pessoas, do qual nos devemos distanciar para vivermos novas relações saudáveis. Tentar escavar no passado do outro implica querer entrar num mundo do qual nós não fazíamos parte e que pode ser prejudicial trazê-lo para o presente. Nunca conheceremos a outra pessoa na sua plenitude, é um facto.
      O desafio e a magia das relações é precisamente tentar conhecer o outro no seu presente, pois é nesse presente que nós temos espaço. Conhecer formas de pensar, sentir ou agir do passado e trazê-las ao de cima é meio caminho andado para reviver as mesmas coisas. Ora, se a relação anterior já acabou, será que queremos reviver as mesmas situações ou queremos ter algo diferente? Repetir padrões vai-nos levar sempre ao mesmo sítio. E porque não respeitar os quartos fechados do outro e viver aqueles que estão abertos, agora, para nós?


                                           Rossana Appolloni

sábado, 7 de dezembro de 2013

"MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES"


            Morreu, aos 95 anos, Madiba, assim lhe chamavam, carinhosa e afectivamente, os que o admiraram, respeitaram e amaram. Estamos de luto, de verdade, todos os que puderam conhecer a vida e a obra desta figura ímpar, bondosa, tolerante, sorridente e bonita, moral e fisicamente.
     No dia 11 de Junho de 2008, o deputado António Filipe, do PCP, numa intervenção no Parlamento, por altura da comemoração do 90º aniversário de Mandela, disse para os que não sabiam e lembrou aos interessados em fazer esquecer que, em 1987, há pouco mais de um quarto de século, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, com 129 votos, um apelo para a libertação incondicional de Nelson Mandela, e que os três países que votaram contra foram os Estados Unidos da América, de Ronald Reagan, a Grã-Bretanha, de Margaret Thatcher, e Portugal, de Cavaco Silva, na altura Primeiro Ministro.
         No site da Presidência da República, datada de 5 de Dezembro de 2013, pode ler-se a mensagem de condolências enviada pelo Senhor Professor Cavaco Silva ao seu homologo Jacob Zuma pela morte de Nelson Mandela, que aponta como “figura maior da África do Sul e da História mundial”. Nesta mensagem, o Professor afirma que “Nelson Mandela deixa um extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações”. Realça “O seu exemplo de coragem política, a sua estatura moral e a confiança que depositava na capacidade de reconciliação constituem verdadeiras lições de humanidade”. E acrescenta, lembrando que “A dedicação de Nelson Mandela aos valores da democracia, da liberdade e da igualdade invadiu os corações de todos quantos o admiram, na África do Sul ou em outro lugar, incutindo esperança, mesmo diante dos desafios mais difíceis”.
       O Professor afirma, ainda, que “A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Nelson Mandela e a sua eleição massiva para a mais elevada Magistratura da África do Sul simbolizaram o merecido reconhecimento de um político de causas e uma vitória para os Direitos Humanos no mundo”. Nesta dualidade de posições, flagrantemente antagónicas, duas conclusões se poderão tirar: ou o nosso Presidente mudou radicalmente de opinião ou as palavras que agora subscreve são pura hipocrisia.

                                       Galopim de Carvalho

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A COMUNICAÇÃO DIGITAL ENTRE A ESCOLA, OS ALUNOS E A FAMÍLIA




           Encontram-se a funcionar várias redes comunicacionais assentes em plataformas exclusivamente orientadas para a educação (Moodle, Weduc…). Estas plataformas permitem a partilha de informação entre professores e alunos, professores e encarregados de educação, instituição escolar e família, não deixando de fora outras interacções entre os agentes educativos.

            A eficácia destas redes depende sobretudo da adesão e da disponibilidade das escolas e dos professores em partilharem a informação sobre os alunos com os respectivos encarregados de educação.

            Havendo essa adesão e disponibilidade, é possível os professores darem conta dos conteúdos pedagógicos aos seus alunos, fornecerem-lhes informações suplementares, novos problemas, novos textos e verem, assim, valorizado e ampliado o trabalho que realizam na sala de aula, ao mesmo tempo que incentivam o seu feedback.

Por sua vez, o director de turma pode proporcionar ao encarregado de educação informações sobre aproveitamento escolar, faltas, aspectos disciplinares, normas escolares e outras que ajudarão os pais a desenvolver o seu trabalho de educadores. Igualmente, a direcção da escola tem a oportunidade de contactar a família, dando-lhe as informações que julgar convenientes.

            A interacção digital permite que os pais deixem o seu papel de simples espectadores da vida escolar dos seus filhos e passem a interagir quer com a escola, quer com outros encarregados de educação.

            Estas redes estão a implantar-se, crescentemente, nos vários sistemas educacionais, em diferentes países.

            Dificuldades em levar em frente uma rede deste tipo há, sem dúvida, a primeira das quais decorre do analfabetismo informático de muitas famílias. O mundo, no entanto, mudou e todos nós, queiramos ou não, a ele teremos que nos adaptar!

 

                                                                       Mário Freire

terça-feira, 3 de dezembro de 2013




 

No chão rola uma andorinha.

Fisga houve que a atingira.

Se contorce, sobre si gira,

infeliz. Pobre avezinha...

 

Vitimada e indefesa,

eis que acorre o seu parceiro,

a acudir, qual enfermeiro,

condoído, face à presa.

 

Quão grande é o termo dó:

Seu alcance é sem limites.

Condoer-se é ‘star presente.

 

Dobra a dor no estarmos só.

Face a tal, jamais hesites

no acudir. É sempre urgente.

 

João d’Alcor

 

domingo, 1 de dezembro de 2013

MECANISMOS DE DEFESA



Os mecanismos de defesa são mecanismos a que todos nós recorremos em situações onde nos sentimos ameaçados. Na maioria dos casos, fazemos uso deles de forma inconsciente, isto é, sem serem fruto de uma escolha racional e voluntária. Se temos medo de sofrer um assalto em casa durante a noite, em vez de deixar a porta aberta para enfrentar um possível ladrão, é mais natural fecharmos a porta à chave.

Com os mecanismos de defesa psíquicos acontece a mesma coisa: quando vivemos um conflito interno, na incapacidade de o resolver, adotamos formas de nos protegermos para não os enfrentarmos. Trata-se de uma maneira de reduzir a possibilidade de concretização de uma situação que possa pôr em perigo a integridade do nosso Eu. A questão é que, subjacente a estes mecanismos de defesa, estão determinados medos e quantos mais mecanismos de defesa tivermos para evitar as situações significa que mais medos temos.

Há vários tipos de mecanismos de defesa: fuga (evitar o conflito), projeção (projetar no outro características nossas), racionalização (arranjar justificações racionais para fatores emocionais), repressão (esquecer determinado evento – é frequente quando o trauma é forte, como é o caso de abusos sexuais), formação reativa (adquirir o comportamento oposto ao desejado – por exemplo, o desejo de comer é tanto que a pessoa torna-se anorética), negação (negar fatos), intelectualização (lidar de modo intelectual com o problema), idealização (atribuir ao outro uma qualidade de perfeição), conversão (converter um conflito psíquico em expressões somáticas, como por exemplo dores de cabeça ou sono), entre outros.

Pessoas diferentes utilizam mecanismos diferentes e são formas que encontramos de nos ajustarmos à nossa realidade. Quanto mais conscientes estivermos dos nossos, mais nos apropriamos da nossa capacidade de lidarmos com os medos e de os ultrapassarmos. Como os medos nos impedem de agir, é importante enfrentá-los se desejarmos viver uma vida mais plena.

                                           Rossana Appolloni