O Papa Francisco publicou a sua nova encíclica 'Laudato si'. Não é
a primeira vez que um Papa se debruça sobre os temas ambientais mas, uma
encíclica inteiramente dedicada ao ambiente, é uma novidade.
A longa espera que precedeu a publicação da “Laudato si', gerou
uma grande expectativa. Ao lê-la, pode encontrar-se uma continuidade com
pontificados anteriores, especialmente com os escritos de São João Paulo II e
do Papa Bento XVI. O termo "ecologia
humana", que se refere à centralidade da pessoa humana na questão
ecológica, numa perspectiva distinta da dos ecologistas e dos tecnocratas, foi
já usado por João Paulo II. Se é verdade que os seres humanos são a causa do
desequilíbrio actual, cujas consequências caem sobre os mesmos homens e sobre
toda a natureza são, ao mesmo tempo, protagonistas da mudança. Dessa forma, a
questão ecológica não pode ser separada de outras questões com ela relacionadas,
que dizem respeito à economia, à pobreza e à religião que, juntas, contribuem
para o bem comum.
O progresso moderno, trouxe-nos muita comodidade e sanou muitas
dificuldades. No entanto, enquanto a tecnologia tem, sem dúvida, melhorado a
qualidade de vida, estamos apenas a começar a reconhecer os muitos problemas
ambientais que daí resultaram. Clima, biodiversidade, poluição da água,
poluição do ar, energia, resíduos, são aspectos da crise ambiental mundial, numa
abordagem nova e prática, na encíclica do Papa Francisco, inteiramente dedicada
à protecção do planeta.
O Papa afirma: “A humanidade é chamada a tomar consciência da
necessidade de mudar o seu estilo de vida, de produção e de consumo, para
combater as alterações climáticas ou, pelo menos, as causas humanas que o
provocam ou agravam”. E, acrescenta a encíclica, na mesma linha do que
cientistas e políticos têm vindo a seguir nas últimas duas décadas: “As
alterações climáticas são um problema global, com graves implicações
ambientais, sociais, económicas, distributivas e políticas e constituem um
grande desafio para a humanidade”.
O clima não é senão um dos
tópicos abordados pela encíclica. O texto preocupa-se com tudo o que diga
respeito à crise ambiental – ou seja, à forma como a humanidade está a
desestabilizar o planeta. Francisco cita os efeitos da poluição atmosférica,
que “provocam milhões de mortes prematuras”, e fala do problema dos resíduos.
“A Terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso depósito
de lixo”, afirma.
É também referido o risco de extinção de espécies, com o alerta de
que os animais e as plantas não são apenas “recursos exploráveis” mas têm “um
valor intrínseco”. O papa reflecte ainda sobre os problemas de acesso à água,
criticando a tendência de privatização deste recurso fundamental para a vida
humana, levada a cabo já em diversos municípios portugueses, que se torna assim
“uma mercadoria sujeita às leis do mercado”.
FNeves