Em encontros onde
sentimos que a proximidade com determinada pessoa é grande, descobrimos que os
nossos caminhos de vida não são assim tão distantes. Chegamos mesmo a ter a
sensação de que antes ou depois a iríamos conhecer, como se estivesse
predestinado a acontecer, talvez porque se torna quase difícil relembrar como
era a nossa vida no passado, ou como seria no futuro, sem essa pessoa. Esse
‘outro’ passa a fazer parte de nós e começamos a descobrir muitas coisas em comum,
por vezes até amizades, dando voz à exclamação ‘O mundo é mesmo pequeno!’. Somos 7 milhões, será que o mundo é
assim tão pequeno? O que nos leva a estar em determinado sítio, num momento
específico – quando se calhar até nem era suposto –, a cruzar-nos com uma
pessoa, a estabelecer contacto para que ela fique na nossa vida, é apenas fruto
de uma coincidência de que o mundo é pequeno? Num desses encontros recheados de
magia, esse outro usou uma expressão que achei deliciosa: ‘O mundo não é pequeno, nós cruzamo-nos é com as pessoas certas!’.
Agostinho da Silva
dizia: ‘Não faças demasiados planos para
a vida para não estragares os planos que a vida tem para ti!’. Experienciar
aquilo a que o psicólogo Carl Jung chamou de ‘sincronicidades’, dá sabor à nossa
existência, sobretudo pelo subjacente fator surpresa. Diz-se que duas pessoas
estão em sincronia quando pensam e/ou sentem numa harmonia intensa a ponto de
se sentirem vinculadas por um forte elo de ligação. Uma sincronicidade tem
lugar quando se materializa um encontro no qual sentimos uma naturalidade e
espontaneidade únicas, não tendo havido nenhum planeamento da nossa parte para o
provocar. Simplesmente acontece. Acontece após abrirmos mão da nossa
necessidade de controlar e de concretizar apenas o que idealizamos. Nas
sincronicidades não existe espaço para planos, manipulações, ou calculismos;
nas sincronicidades existe naturalidade, espontaneidade, autenticidade, fluidez,
conforto e uma sensação de plenitude por ter encontrado a chave certa para uma determinada
porta. Mas não é coincidência, não é um mero acaso ou sorte. É algo que
acontece na sequência dos movimentos que vamos fazendo no nosso percurso de
vida e que à medida que vamos confiando, que nos vamos entregando à beleza do
inesperado, vamos simultaneamente desobstruindo o terreno para que a vida nos
proporcione os tais planos que tem para nós. Planos carregados de significado,
planos que fazem sentido e que mudam a trajetória que eventualmente tínhamos previsto,
planos que nos fazem sentir a serenidade e a confiança de que estamos novamente
num caminho que é o nosso, em sincronicidade com o mundo.
Rossana Appolloni