quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ENSINAR A FAZER PERGUNTAS

                                  

Numa escola do ensino básico, no 8ºano, a professora de Ciências, num dia que estava determinado para a realização de um teste, apresentou aos alunos a tarefa de serem eles próprios a fazerem as perguntas a que iriam responder. As surpresas foram evidentes, começando logo pelo facto de que para se fazerem perguntas com significado sobre um conteúdo, é preciso ter conhecimentos sobre aquilo que se vai perguntar.
O interessante desta ocorrência é que a professora valorizou, com este teste, o acto de fazer perguntas. Ora, o nosso ensino baseia-se mais em ensinar os alunos a dar boas respostas do que ensinar os alunos a fazer perguntas significativas. Perguntar significa indagar, inquirir, interpelar, pesquisar, procurar. Ora, estes são alguns dos mais importantes comportamentos que se visam quando se procura desenvolver capacidades de natureza cognitiva. Imagine-se que, numa breve visita de estudo, um passeio no campo, por exemplo, se propõe aos alunos que escrevam perguntas suscitadas por aquilo que vêem, ouvem, tacteiam ou cheiram. E que, depois, na aula, se discutam as diferentes questões formuladas. Destas duas actividades, estar em plena natureza, interrogando-a naquilo que ela oculta e procurar dar respostas às perguntas que tenham significado, eis uma boa maneira de ensinar a formar um espírito inquiridor, que se interpela por aquilo que à sua volta se passa. Claro que este espírito pode desenvolver-se de múltiplas maneiras. Uma delas, por exemplo, seria partir de um texto e propor que o aluno fizesse perguntas sobre ele e não o professor a fazê-las, para que o aluno respondesse.
À escola compete um lugar privilegiado na formação geral do aluno. E um dos aspectos dessa formação passa por proporcionar situações em que os alunos não sejam, apenas, receptores de um ensino que lhes é ministrado, meros espectadores das realidades que os envolvem. Há que fazer deles sujeitos na construção dos seus conhecimentos, pessoas interessadas por aquilo que os rodeia, que questionem a realidade envolvente, nos seus múltiplos aspectos e que se questionem, também, a si próprios sobre os seus comportamentos e atitudes.


                                                      Mário Freire