sexta-feira, 3 de julho de 2015

OS CUSTOS DE UMA REPROVAÇÃO

     
                   
Foi emitida no passado mês de Fevereiro, pelo Conselho Nacional de Educação, uma recomendação, tendo em vista um conjunto de medidas ao nível da administração central, escolas, alunos e famílias, que combata a retenção escolar. Esta recomendação baseia-se na constatação de existirem mais de 150 000 alunos que, todos os anos, ficam retidos no mesmo ano de escolaridade mas que tal realidade em nada melhora o desempenho escolar desses mesmos alunos. Pelo contrário, tais alunos apresentam um maior risco de uma nova reprovação. São estes alunos que, nas aulas, evidenciam maior desmotivação e, consequentemente, uma maior propensão para a indisciplina.
O que se pretende com a retenção de um aluno num ano de escolaridade? Que ele fique mais motivado para o estudo quando vê os seus colegas transitarem de ano? Que as estratégias de ensino irão alterar-se no ano seguinte, de modo a proporcionar-lhe um maior empenhamento no estudo? Que irá ter matérias mais adequadas ao seu nível de desenvolvimento? Ora, nada disso acontece. Os conteúdos dos programas continuam os mesmos e as estratégias de ensino pouco irão modificar-se. O que, certamente, se alterará é a autoestima do aluno, levando-o a convencer-se que o insucesso faz parte da sua vida.    
O aluno ficar retido num ano, principalmente nos dois primeiros ciclos do básico, não significa maior exigência no ensino. O que significa é não haver mecanismos de personalização do ensino que atendam às dificuldades de determinado aluno, que lhe dê mais tempo, que o incentive nos seus pequenos êxitos no estudo, que com ele se procurem novas maneiras de aprender.
A passagem de ano de alunos com baixo rendimento escolar, principalmente nos dois primeiros ciclos do básico, exige uma atenção especial por parte do poder político, proporcionando meios e pessoas capazes de fazerem face ao insucesso escolar. E se este for adequadamente combatido, muito se poupará em indisciplina, abandono escolar, delinquência e criminalidade.

                               Mário Freire