Foi emitida no passado
mês de Fevereiro, pelo Conselho Nacional de Educação, uma recomendação, tendo
em vista um conjunto de medidas ao nível da administração central, escolas,
alunos e famílias, que combata a retenção escolar. Esta recomendação baseia-se
na constatação de existirem mais de 150 000 alunos que, todos os anos, ficam
retidos no mesmo ano de escolaridade mas que tal realidade em nada melhora o
desempenho escolar desses mesmos alunos. Pelo contrário, tais alunos apresentam
um maior risco de uma nova reprovação. São estes alunos que, nas aulas,
evidenciam maior desmotivação e, consequentemente, uma maior propensão para a
indisciplina.
O que se pretende com
a retenção de um aluno num ano de escolaridade? Que ele fique mais motivado
para o estudo quando vê os seus colegas transitarem de ano? Que as estratégias
de ensino irão alterar-se no ano seguinte, de modo a proporcionar-lhe um maior
empenhamento no estudo? Que
irá ter matérias mais adequadas ao seu nível de desenvolvimento? Ora, nada
disso acontece. Os conteúdos dos programas continuam os mesmos e as estratégias
de ensino pouco irão modificar-se. O que, certamente, se alterará é a autoestima
do aluno, levando-o a convencer-se que o insucesso faz parte da sua vida.
O aluno ficar retido
num ano, principalmente nos dois primeiros ciclos do básico, não significa
maior exigência no ensino. O que significa é não haver mecanismos de
personalização do ensino que atendam às dificuldades de determinado aluno, que
lhe dê mais tempo, que o incentive nos seus pequenos êxitos no estudo, que com
ele se procurem novas maneiras de aprender.
A passagem de ano de
alunos com baixo rendimento escolar, principalmente nos dois primeiros ciclos
do básico, exige uma atenção especial por parte do poder político,
proporcionando meios e pessoas capazes de fazerem face ao insucesso escolar. E
se este for adequadamente combatido, muito se poupará em indisciplina, abandono
escolar, delinquência e criminalidade.
Mário Freire