Leio
num artigo do “Público” de 30 de Setembro de 2013 que “a exposição a
comportamentos que comprometem o bem-estar da criança, sobretudo a situações de
violência doméstica, continua a ocupar o primeiro lugar das problemáticas
identificadas pelas comissões de protecção de crianças e jovens.” Muitas outras
crianças e adolescentes não têm a supervisão adequada, ficando entregues a si
próprios. Ora, são estas pessoas, cerca de 8500 em 2013, os maiores contribuintes
das instituições que os acolhem.
Conheço
razoavelmente os sofrimentos destas crianças e adolescentes e de quanto esses
sofrimentos têm tradução não só nas aprendizagens escolares como nas suas
personalidades.
A
maior parte deles manifesta um grande desejo de voltar para a casa dos pais.
Acontece, porém, que muitos destes se encontram separados e sem as mínimas
condições económicas de os receber; outros, por efeitos de dependências de
vária ordem e de desestruturação familiar também não reúnem as condições
mínimas de acolhimento. Apesar das visitas dos familiares, esta ausência da
casa traduz-se, numa angústia que os faz sofrer e numa revolta.
As
datas comemorativas que tenham a ver com a família, como o dia do Pai, o dia da
Mãe, o Natal, são, normalmente, motivos de alegria e a escola, e bem, dá a
oportunidade à criança de fazer algum desenho para levar para casa. Estas
datas, porém, para aquelas crianças e adolescentes que não podem estar com a
família, apesar de as instituições tentarem minorar a sua ausência, traduzem-se
em momentos de sofrimento.
Pois
são todos estes traumas, dos que resultaram da separação parental e dos que
viveram no lar a que, por vezes, se lhes adiciona o estigma da discriminação
dentro da escola, que fazem ferida na alma à maior parte destas crianças e
adolescentes e que lhes provoca quer a desmotivação no estudo, quer a revolta.
Muitos
destes alunos constituem, pois, um grande desafio, quer para os professores, quer
para o sistema de ensino, de modo que se possam encontrar para eles as melhores
vias para se realizarem como pessoas, como profissionais e como cidadãos.
Mário Freire