domingo, 9 de novembro de 2014

VOLTAR PARA CASA. MAS PARA QUÊ?





Leio num artigo do “Público” de 30 de Setembro de 2013 que “a exposição a comportamentos que comprometem o bem-estar da criança, sobretudo a situações de violência doméstica, continua a ocupar o primeiro lugar das problemáticas identificadas pelas comissões de protecção de crianças e jovens.” Muitas outras crianças e adolescentes não têm a supervisão adequada, ficando entregues a si próprios. Ora, são estas pessoas, cerca de 8500 em 2013, os maiores contribuintes das instituições que os acolhem.
Conheço razoavelmente os sofrimentos destas crianças e adolescentes e de quanto esses sofrimentos têm tradução não só nas aprendizagens escolares como nas suas personalidades.
A maior parte deles manifesta um grande desejo de voltar para a casa dos pais. Acontece, porém, que muitos destes se encontram separados e sem as mínimas condições económicas de os receber; outros, por efeitos de dependências de vária ordem e de desestruturação familiar também não reúnem as condições mínimas de acolhimento. Apesar das visitas dos familiares, esta ausência da casa traduz-se, numa angústia que os faz sofrer e numa revolta.
As datas comemorativas que tenham a ver com a família, como o dia do Pai, o dia da Mãe, o Natal, são, normalmente, motivos de alegria e a escola, e bem, dá a oportunidade à criança de fazer algum desenho para levar para casa. Estas datas, porém, para aquelas crianças e adolescentes que não podem estar com a família, apesar de as instituições tentarem minorar a sua ausência, traduzem-se em momentos de sofrimento.   
Pois são todos estes traumas, dos que resultaram da separação parental e dos que viveram no lar a que, por vezes, se lhes adiciona o estigma da discriminação dentro da escola, que fazem ferida na alma à maior parte destas crianças e adolescentes e que lhes provoca quer a desmotivação no estudo, quer a revolta.
Muitos destes alunos constituem, pois, um grande desafio, quer para os professores, quer para o sistema de ensino, de modo que se possam encontrar para eles as melhores vias para se realizarem como pessoas, como profissionais e como cidadãos.


                                        Mário Freire