Nos inícios dos anos
60, altura em que iniciei a minha carreira, sentia que a sociedade respeitava o
professor e como esse respeito se transmitia aos pais e aos alunos. Não era
difícil ser-se professor do liceu naquela época! A abertura da escola à
sociedade estava muito longe de ser aquela que hoje, felizmente, é. Alunos
oriundos de meios sociais problemáticos praticamente não existiam. A disciplina
dentro da escola e da sala de aula era mantida sem esforço e sem sobressaltos.
Diria que naqueles
tempos o poder e a autoridade se confundiam, isto é, o professor, com o poder
que possuía, tinha a capacidade de influenciar os comportamentos dos alunos mas
estes também reconheciam naquele essa mesma capacidade de serem influenciados,
isto é, reconheciam-lhe autoridade. Aquele, na prática, apenas se preocupava
com os conteúdos científicos dos programas e com as estratégias pedagógicas
mais adequadas.
Ora, nos dias de hoje,
devido à transformação profunda que se operou na família e na sociedade e no
acesso de todas as camadas sociais à escola, o papel do professor, sem deixar
de ter em conta os aspectos científicos e pedagógicos, tem que os subordinar ao
modo como gere as relações, por vezes, complexas, com os alunos. E essas
relações são determinantes no poder que os alunos atribuem ao professor, isto
é, na autoridade que lhe é conferida.
O professor pode ter o
poder de pôr os alunos fora da sala de aula, de reprová-los ou passá-los de ano
mas não conseguir que seja reconhecida por eles a sua autoridade para os
ensinar, para os ajudar a crescer. Ora, sem a autoridade do professor não pode
haver ensino capaz nem aprendizagem com significado. A perda da autoridade do
professor tem causas várias, começando, desde logo, por aquelas que residem no
poder político. E tem consequências devastadoras para o professor, para as
famílias, para o aluno e, principalmente, para a sociedade. Valeria a pena um
debate, diria mesmo de âmbito nacional, para discutir este grande problema da
sociedade portuguesa, mas que também ultrapassa fronteiras.
Mário Freire