sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O SUCESSO ESCOLAR VIRTUAL

                                   


Costuma designar-se por insucesso escolar a repetência ou retenção, durante um ou vários anos, ao longo do percurso escolar dos alunos. Isto significa que tais alunos não conseguiram atingir os objectivos que tinham sido estabelecidos para o ano de escolaridade que frequentavam.
Passando por cima das diversas causas que subjazem ao insucesso escolar, diria que há uma outra modalidade de insucesso que se traduz não em retenção mas em transição para o ano seguinte. Trata-se do sucesso escolar virtual que, longe de traduzir uma manifestação de aprendizagem por parte dos alunos, de estes terem alcançados os tais objectivos, eles são “empurrados” para o ano seguinte, depois de terem acumulado uma ou mais repetências.
O que está aqui em causa é uma questão estrutural do ensino que, tentando propor um único (ou quase) modelo (de objectivos, conteúdos, estratégias…) à generalidade dos alunos, vai esquecer outros que, pelas suas especificidades, exigiriam objectivos, conteúdos e estratégias de aprendizagem diferenciadas. Muitos destes alunos teriam maior êxito se lhes fossem proporcionados, por exemplo ou um tempo diferente para a aprendizagem ou conteúdos mais concretos ou estratégias mais participativas e proporcionadoras de maior autonomia, não sendo obrigados, assim, a seguir um modelo único. Note-se que, o que está a propor-se, não é uma utopia mas é já uma realidade em muitas escolas, mesmo em Portugal (v.g. Escola da Ponte).  
Não é com 30 alunos numa sala (ou quase), com as limitações de mobilidade e posturais que isso implica, que um professor consegue dar respostas a estes tipos de situações. Surgem, então, problemas disciplinares, repetências, abandonos. No entanto, se se contabilizasse o dinheiro que é gasto nas consequências deste modelo único (ou quase), nas frustrações que produz em professores e alunos, nos problemas pessoais e sociais que suscita, talvez valesse a pena pensar numa maior individualização do sistema, pelo menos no básico. Porventura, muito do sucesso virtual passaria a real e, acima de tudo, haveria uma maior humanização do ensino e uma maior eficácia na aprendizagem.


                                        Mário Freire