Costuma designar-se
por insucesso escolar a repetência ou retenção, durante um ou vários anos, ao
longo do percurso escolar dos alunos. Isto significa que tais alunos não
conseguiram atingir os objectivos que tinham sido estabelecidos para o ano de
escolaridade que frequentavam.
Passando por cima das
diversas causas que subjazem ao insucesso escolar, diria que há uma outra
modalidade de insucesso que se traduz não em retenção mas em transição para o
ano seguinte. Trata-se do sucesso escolar
virtual que, longe de traduzir uma manifestação de aprendizagem por parte
dos alunos, de estes terem alcançados os tais objectivos, eles são “empurrados”
para o ano seguinte, depois de terem acumulado uma ou mais repetências.
O que está aqui em
causa é uma questão estrutural do ensino que, tentando propor um único (ou
quase) modelo (de objectivos, conteúdos, estratégias…) à generalidade dos
alunos, vai esquecer outros que, pelas suas especificidades, exigiriam
objectivos, conteúdos e estratégias de aprendizagem diferenciadas. Muitos
destes alunos teriam maior êxito se lhes fossem proporcionados, por exemplo ou
um tempo diferente para a aprendizagem ou conteúdos mais concretos ou
estratégias mais participativas e proporcionadoras de maior autonomia, não
sendo obrigados, assim, a seguir um modelo único. Note-se que, o que está a
propor-se, não é uma utopia mas é já uma realidade em muitas escolas, mesmo em
Portugal (v.g. Escola da Ponte).
Não é com 30 alunos
numa sala (ou quase), com as limitações de mobilidade e posturais que isso
implica, que um professor consegue dar respostas a estes tipos de situações.
Surgem, então, problemas disciplinares, repetências, abandonos. No entanto, se
se contabilizasse o dinheiro que é gasto nas consequências deste modelo único
(ou quase), nas frustrações que produz em professores e alunos, nos problemas pessoais
e sociais que suscita, talvez valesse a pena pensar numa maior individualização
do sistema, pelo menos no básico.
Porventura, muito do sucesso virtual passaria a real e, acima de tudo, haveria uma
maior humanização do ensino e uma maior eficácia na aprendizagem.
Mário Freire