Quando nos chateamos
com alguém devido a uma situação com a qual não concordamos ou que nos cria
desconforto, facilmente começamos a dizer mal do outro e a criticar a sua
atitude. Por vezes, a desavença pode ser tão intensa que os envolvidos deixam
mesmo de se falar, ou afastam-se porque se sentem magoados e feridos,
alimentando uma revolta interior negativa.
Ora, se estamos a
falar de contrariedades que não tocam valores de base, é benéfico conseguir
distinguir a pessoa do conflito, como se fossem dois níveis distintos: a pessoa
e a relação que se tem com ela é uma coisa, o conflito e/ou o mal-entendido é
outra. Entrar em confronto porque não se concorda com a atitude do outro não
implica necessariamente entrar em confronto com o outro. Não se gosta mais ou
menos do outro pelos seus comportamentos a nosso (des)favor. Se o nosso amor é
verdadeiro, podemos exprimir o que sentimos relativamente a uma situação
concreta sem, com isso, entrarmos em guerra aberta com a outra parte. Mas, para
isso, há que ter a capacidade de se ser honesto e verdadeiro. São estes
elementos que vão dar espaço a uma relação autêntica e a autenticidade passa
por exprimirmos o que sentimos.
Dando um exemplo
simples: pedimos um favor a alguém que nos nega essa ajuda, dizendo-nos que não
tem tempo. Podemos ficar irritados com aquela pessoa e entrar numa espiral de
críticas e julgamentos que nos levam a sentir-nos ressabiados com ela; mas
também podemos transmitir-lhe os nossos sentimentos de incómodo por termos de
encontrar outra solução, e continuarmos a relacionar-nos com ela como dantes.
Neste último caso, ficamos incomodados com a situação, mas não com o sujeito em
si. São patamares distintos.
As situações podem
chatear-nos mas resolvem-se, as pessoas merecem toda a nossa compreensão e
afeto. Há sempre uma razão por detrás de cada atitude, nem sempre nos cabe
julgar e decidir pelo outro. Para pedirmos respeito e aceitação dos outros,
temos de saber respeitar e aceitar os outros.
Rossana Appolloni
www.rossana-appolloni.pt