quinta-feira, 16 de outubro de 2014

INCOMODA-ME A PESSOA OU A SITUAÇÃO?




               
Quando nos chateamos com alguém devido a uma situação com a qual não concordamos ou que nos cria desconforto, facilmente começamos a dizer mal do outro e a criticar a sua atitude. Por vezes, a desavença pode ser tão intensa que os envolvidos deixam mesmo de se falar, ou afastam-se porque se sentem magoados e feridos, alimentando uma revolta interior negativa.
Ora, se estamos a falar de contrariedades que não tocam valores de base, é benéfico conseguir distinguir a pessoa do conflito, como se fossem dois níveis distintos: a pessoa e a relação que se tem com ela é uma coisa, o conflito e/ou o mal-entendido é outra. Entrar em confronto porque não se concorda com a atitude do outro não implica necessariamente entrar em confronto com o outro. Não se gosta mais ou menos do outro pelos seus comportamentos a nosso (des)favor. Se o nosso amor é verdadeiro, podemos exprimir o que sentimos relativamente a uma situação concreta sem, com isso, entrarmos em guerra aberta com a outra parte. Mas, para isso, há que ter a capacidade de se ser honesto e verdadeiro. São estes elementos que vão dar espaço a uma relação autêntica e a autenticidade passa por exprimirmos o que sentimos.
Dando um exemplo simples: pedimos um favor a alguém que nos nega essa ajuda, dizendo-nos que não tem tempo. Podemos ficar irritados com aquela pessoa e entrar numa espiral de críticas e julgamentos que nos levam a sentir-nos ressabiados com ela; mas também podemos transmitir-lhe os nossos sentimentos de incómodo por termos de encontrar outra solução, e continuarmos a relacionar-nos com ela como dantes. Neste último caso, ficamos incomodados com a situação, mas não com o sujeito em si. São patamares distintos.
As situações podem chatear-nos mas resolvem-se, as pessoas merecem toda a nossa compreensão e afeto. Há sempre uma razão por detrás de cada atitude, nem sempre nos cabe julgar e decidir pelo outro. Para pedirmos respeito e aceitação dos outros, temos de saber respeitar e aceitar os outros.

                                         Rossana Appolloni

                                 www.rossana-appolloni.pt