sábado, 18 de outubro de 2014

AS REDES SOCIAIS E A ESCOLA

                              

A propósito das redes sociais, diria que à frase, atribuída a Descartes, de que “penso, logo existo”, se poderia substituir, nos dias de hoje, pela sua inversa, isto é, “se não sou participante no facebook, então não existo”.
Já aqui abordei o tema das redes sociais e das cautelas que o seu uso exige. Volto a esta temática por entender que a escola não pode alhear-se dela, na sua acção educativa. E a comprovar esta preocupação cito duas experiências de que tenho conhecimento, feitas em duas escolas secundárias francesas (Rumilly e Brest), a partir de uma rede social criada há pouco mais de três anos. Trata-se de uma rede ainda pouco conhecida em que os utilizadores não necessitam de se identificar nem de se cadastrar mas em que se fazem perguntas, versando, em regra, temas íntimos. O sucesso desta rede está a ser proporcional aos danos que tem provocado em muitos adolescentes, associando-se-lhe inúmeros casos de ciberbullying, ciber-assédio, ciber-perseguição, mensagens de ódio, pedofilia e, até, suicídio.
Ora a escola, a maior parte das vezes melhor do que os pais, está em condições de ensinar os seus alunos a lidar com os perigos que este tipo de redes é susceptível de gerar. Foi o que se fez na escola de Rumilly. Ela incentivou os alunos a fazer as suas próprias investigações acerca dessa rede (quem a criou, onde está a empresa, onde estão os servidores, aspectos técnicos da rede, polémicas que lhes estão associadas, conhecimento da lei aplicável à utilização de informações pessoais…).
Por sua vez, na escola de Brest a orientação foi totalmente diferente, convidando-se o aluno a criar uma conta para a personagem de um livro que os alunos andavam a estudar e suscitar em alguém, nessa rede, que fizesse perguntas sobre a personagem, que o utilizador julgaria como real. Claro que algumas destas perguntas iriam provocar uma leitura da obra com maior profundidade, ao mesmo tempo que a criatividade, o estudo literário e um uso adequado da rede social se combinavam entre si.
Enfim, a escola tem que saber combater o mal mas, também, saber utilizar para o bem aquilo que pode ser considerado como mal.


                                            Mário Freire