A propósito das redes
sociais, diria que à frase, atribuída a Descartes, de que “penso, logo existo”,
se poderia substituir, nos dias de hoje, pela sua inversa, isto é, “se não sou
participante no facebook, então não
existo”.
Já aqui abordei o tema
das redes sociais e das cautelas que o seu uso exige. Volto a esta temática por
entender que a escola não pode alhear-se dela, na sua acção educativa. E a
comprovar esta preocupação cito duas experiências de que tenho conhecimento, feitas
em duas escolas secundárias francesas (Rumilly e Brest), a partir de uma rede
social criada há pouco mais de três anos. Trata-se de uma rede ainda pouco
conhecida em que os utilizadores não necessitam de se identificar nem de se
cadastrar mas em que se fazem perguntas, versando, em regra, temas íntimos. O
sucesso desta rede está a ser proporcional aos danos que tem provocado em
muitos adolescentes, associando-se-lhe inúmeros casos de ciberbullying, ciber-assédio,
ciber-perseguição, mensagens de ódio, pedofilia e, até, suicídio.
Ora a escola, a maior
parte das vezes melhor do que os pais, está em condições de ensinar os seus
alunos a lidar com os perigos que este tipo de redes é susceptível de gerar. Foi
o que se fez na escola de Rumilly. Ela incentivou os alunos a fazer as suas
próprias investigações acerca dessa rede (quem a criou, onde está a empresa,
onde estão os servidores, aspectos técnicos da rede, polémicas que lhes estão
associadas, conhecimento da lei aplicável à utilização de informações
pessoais…).
Por sua vez, na escola
de Brest a orientação foi totalmente diferente, convidando-se o aluno a criar
uma conta para a personagem de um livro que os alunos andavam a estudar e
suscitar em alguém, nessa rede, que fizesse perguntas sobre a personagem, que o
utilizador julgaria como real. Claro que algumas destas perguntas iriam
provocar uma leitura da obra com maior profundidade, ao mesmo tempo que a criatividade,
o estudo literário e um uso adequado da rede social se combinavam entre si.
Enfim, a escola tem
que saber combater o mal mas, também, saber utilizar para o bem aquilo que pode
ser considerado como mal.
Mário
Freire