A produção de azeite
representa, a par com o vinho e as hortofrutícolas, um sector fundamental na
estrutura da produção agrícola dos países de sul da Europa, Portugal incluído.
Ela é indissociável da manutenção da actividade agrícola em grandes zonas vulneráveis,
sem alternativas culturais, e nas quais o processo de desertificação humana
mais se tem feito sentir.
Do Norte ao Sul do
país, crescem os receios sobre o impacte resultante da plantação de olival
(intensivo), tecnologia que chegou a Portugal há alguns anos pela mão de
empresários espanhóis. Técnicos agrários e investigadores universitários já
lançam o alerta para os malefícios que tal prática acarreta para os solos.
Nas áreas onde foi
instalado este tipo de cultura, não há ribeiras nem rios, nem peixes, nem rãs,
nem sequer cágados. Os sistemas de rega implantados para o olival conduzem à
artificialização das linhas de água e à destruição de galerias ribeirinhas,
como se pode constatar, com maior incidência, em várias explorações agrícolas
do sul do país.
No Baixo Alentejo, o
gasto de água dos aquíferos na rega do olival é superior uma vez e meia à que
entra na reposição dos caudais. Esta redução nas reservas de água, que
representam um suporte importante ao abastecimento público na região, conduz ao
aumento da concentração de nitratos na água destinada ao consumo humano.
Por sua vez, o uso
excessivo e sem controlo de pesticidas, fungicidas, herbicidas, insecticidas e
o abuso dos fertilizantes está associado aos sinais anómalos que estão a surgir
nos ecossistemas, tendo já sido referenciados exemplares “bissexuados” e outros
com comportamentos “aberrantes”. Há quem considere os insecticidas como “os
narcóticos da natureza”. A nova agricultura intensiva, “passou a estar
dependente de drogas”.
São conhecidos muitos
inimigos da oliveira, mas a maior parte “não causa problemas”, por limitações
impostas pelos ecossistemas. O uso dos produtos fitossanitários para combater o
ataque de pragas, doenças e plantas daninhas pode ser considerado como a
componente mais perigosa da nova olivicultura.Destruindo as defesas naturais,
surgem novas pragas e doenças que eram desconhecidas até aqui.
Há ainda o hábito
nefasto de limpar os solos ocupados por oliveiras de todo tipo de ervas, um
factor que contribui igualmente para a erosão dos solos.
É, ainda, de referir
que os efluentes dos lagares tradicionais (as águas ruças são o efluente mais
importante e o que tem maior carga poluente) são, por vezes, lançados
directamente no meio hídrico. É urgente resolver este problema com a melhor
relação custo/benefício, em termos ambientais.
FNeves