sexta-feira, 25 de julho de 2014

PODERÁ A PRODUÇÃO DE AZEITE ORIGINAR UM PROBLEMA AMBIENTAL?



A produção de azeite representa, a par com o vinho e as hortofrutícolas, um sector fundamental na estrutura da produção agrícola dos países de sul da Europa, Portugal incluído. Ela é indissociável da manutenção da actividade agrícola em grandes zonas vulneráveis, sem alternativas culturais, e nas quais o processo de desertificação humana mais se tem feito sentir.
Do Norte ao Sul do país, crescem os receios sobre o impacte resultante da plantação de olival (intensivo), tecnologia que chegou a Portugal há alguns anos pela mão de empresários espanhóis. Técnicos agrários e investigadores universitários já lançam o alerta para os malefícios que tal prática acarreta para os solos.
Nas áreas onde foi instalado este tipo de cultura, não há ribeiras nem rios, nem peixes, nem rãs, nem sequer cágados. Os sistemas de rega implantados para o olival conduzem à artificialização das linhas de água e à destruição de galerias ribeirinhas, como se pode constatar, com maior incidência, em várias explorações agrícolas do sul do país.
No Baixo Alentejo, o gasto de água dos aquíferos na rega do olival é superior uma vez e meia à que entra na reposição dos caudais. Esta redução nas reservas de água, que representam um suporte importante ao abastecimento público na região, conduz ao aumento da concentração de nitratos na água destinada ao consumo humano.
Por sua vez, o uso excessivo e sem controlo de pesticidas, fungicidas, herbicidas, insecticidas e o abuso dos fertilizantes está associado aos sinais anómalos que estão a surgir nos ecossistemas, tendo já sido referenciados exemplares “bissexuados” e outros com comportamentos “aberrantes”. Há quem considere os insecticidas como “os narcóticos da natureza”. A nova agricultura intensiva, “passou a estar dependente de drogas”.
São conhecidos muitos inimigos da oliveira, mas a maior parte “não causa problemas”, por limitações impostas pelos ecossistemas. O uso dos produtos fitossanitários para combater o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas pode ser considerado como a componente mais perigosa da nova olivicultura.Destruindo as defesas naturais, surgem novas pragas e doenças que eram desconhecidas até aqui.
Há ainda o hábito nefasto de limpar os solos ocupados por oliveiras de todo tipo de ervas, um factor que contribui igualmente para a erosão dos solos.
É, ainda, de referir que os efluentes dos lagares tradicionais (as águas ruças são o efluente mais importante e o que tem maior carga poluente) são, por vezes, lançados directamente no meio hídrico. É urgente resolver este problema com a melhor relação custo/benefício, em termos ambientais.

                                               FNeves