quinta-feira, 31 de julho de 2014

APRENDER A COMPETIR


            Numa mostra escolar estava a ser distribuído um folheto que tinha por título “Educar para a Ética no Desporto”. Havia, ainda, uma curta mensagem indicativa dos destinatários: “dicas para os pais”.
            A actividade desportiva assenta, em grande medida, na competição. Ora, a competição não é nenhum mal. Pelo contrário, este mecanismo é um dos reguladores da Natureza e contribui para a sua renovação. Igualmente, pela competição, o desporto pode gerar pessoas mais competentes sob os pontos de vista físico, psíquico e moral.
Um praticante de desporto, antes de querer competir com os outros, porém, terá que saber competir consigo próprio. Este aspecto mereceu pouco destaque no folheto. E, no entanto, só pelo esforço em superar as dificuldades, não desanimando perante os obstáculos e descobrindo onde se errou para que na próxima vez se faça melhor, se conseguirá alcançar a meta desejada. É isto que faz um verdadeiro atleta: treinar, insistir, competir consigo próprio.
            Ora, os pais poderiam, fomentando a actividade desportiva nos seus filhos, incutir-lhes esse desejo de se superarem nas suas dificuldades. O desporto, por implicar o movimento do corpo, capta facilmente o interesse das crianças e dos adolescentes. Daí que eles, ganhando esse desejo de responder a desafios, mais facilmente poderiam estender esses comportamentos de não desistência perante uma dificuldade para outros campos como o do estudo.
            Por que razão muitos dos nossos alunos fracassam na escola? Será que eles, se tivessem praticado desporto com uma finalidade educativa, tentando superar as dificuldades, não poderiam ter aprendido a aplicar essa capacidade à vida escolar e, talvez, terem sucesso?
            Mas a competição não se reduz a querer-nos ultrapassar a nós próprios. Ela, nos dias que correm, consiste, fundamentalmente, em confrontarmo-nos com os outros. Em que medida, então, o desporto pode contribuir para que os alunos aprendam a perder mas, também, a saber ganhar?
                     

                                  Mário Freire                                   

terça-feira, 29 de julho de 2014

É NA LIBERDADE QUE AS PESSOAS SE PRENDEM


Nas relações onde impera o sentimento de afeto, admiração, cumplicidade e amor, a sensação de ter alguém proporciona-nos bem-estar e segurança. Amar outra pessoa e ser amado é muito enriquecedor e completa uma parte de nós que não se substitui. Podemos ser felizes sem viver uma relação amorosa, tal como podemos ser felizes sem o trabalho dos nossos sonhos, ou sem um determinado sonho realizado, mas há partes de nós que exigem ser vividas e nem sempre é possível. Nesse caso, a melhor forma para seguir um caminho feliz é irmo-nos adequando e valorizando o que temos.
Quando finalmente temos essa parte completa, paradoxalmente, a sensação de insatisfação e, por vezes, até desconforto, é comum. A situação afinal não é assim tão perfeita como estávamos à espera. Talvez no medo de perder a pessoa que acreditamos que nos completa, adequamo-nos aos seus desejos, às suas necessidades e esquecemo-nos de nós. Vivemos em função do outro, mesmo sem termos consciência disso.
É mais fácil viver em função de outra pessoa do que de nós próprios. É mais fácil culpar o outro pelas nossas angústias do que assumirmos responsabilidades. Vivermos em função de nós implica sabermos o que desejamos, em que direção queremos ir e ter a coragem de lutar por isso, o que nem sempre coincide com os projetos do parceiro. No entanto, assumir a direção que queremos tomar não significa opor-se ao parceiro! Uma relação é feita de compromissos, não de anulamentos ou imposições. Quando cada um sente, pensa e age em plena liberdade, integra os elementos do próprio ser dentro de si, harmoniza-os de forma a não os perder na presença outro parceiro, e o encontro com o parceiro é a união de duas pessoas autónomas, que sabem o que querem, o que desejam e que, no respeito pelos desejos e planos do outro, se prendem de forma saudável porque uma relação feliz é quando ambos se escolhem, diariamente, na liberdade do próprio ser.

                                      Rossana Appolloni

                               www.rossana-appolloni.pt

domingo, 27 de julho de 2014

ENIGMA





Enigmática é a vida?
Sem enigma que seria?
Pouco ou nada divertida.
Todo o enigma desafia.

É o enigma nosso mais,
a dizer-nos: ‘Tens porvir;
não te quedas tu no cais.
Mundos há a descobrir.

Teu roteiro é rumo ao tudo,
sendo este o desafio,
Já mais pares de remar.’

- Vendo o enigma como um ludo,
ele desperta o nosso brio:
Há sempre algo a desvendar.


João d’Alcor






sexta-feira, 25 de julho de 2014

PODERÁ A PRODUÇÃO DE AZEITE ORIGINAR UM PROBLEMA AMBIENTAL?



A produção de azeite representa, a par com o vinho e as hortofrutícolas, um sector fundamental na estrutura da produção agrícola dos países de sul da Europa, Portugal incluído. Ela é indissociável da manutenção da actividade agrícola em grandes zonas vulneráveis, sem alternativas culturais, e nas quais o processo de desertificação humana mais se tem feito sentir.
Do Norte ao Sul do país, crescem os receios sobre o impacte resultante da plantação de olival (intensivo), tecnologia que chegou a Portugal há alguns anos pela mão de empresários espanhóis. Técnicos agrários e investigadores universitários já lançam o alerta para os malefícios que tal prática acarreta para os solos.
Nas áreas onde foi instalado este tipo de cultura, não há ribeiras nem rios, nem peixes, nem rãs, nem sequer cágados. Os sistemas de rega implantados para o olival conduzem à artificialização das linhas de água e à destruição de galerias ribeirinhas, como se pode constatar, com maior incidência, em várias explorações agrícolas do sul do país.
No Baixo Alentejo, o gasto de água dos aquíferos na rega do olival é superior uma vez e meia à que entra na reposição dos caudais. Esta redução nas reservas de água, que representam um suporte importante ao abastecimento público na região, conduz ao aumento da concentração de nitratos na água destinada ao consumo humano.
Por sua vez, o uso excessivo e sem controlo de pesticidas, fungicidas, herbicidas, insecticidas e o abuso dos fertilizantes está associado aos sinais anómalos que estão a surgir nos ecossistemas, tendo já sido referenciados exemplares “bissexuados” e outros com comportamentos “aberrantes”. Há quem considere os insecticidas como “os narcóticos da natureza”. A nova agricultura intensiva, “passou a estar dependente de drogas”.
São conhecidos muitos inimigos da oliveira, mas a maior parte “não causa problemas”, por limitações impostas pelos ecossistemas. O uso dos produtos fitossanitários para combater o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas pode ser considerado como a componente mais perigosa da nova olivicultura.Destruindo as defesas naturais, surgem novas pragas e doenças que eram desconhecidas até aqui.
Há ainda o hábito nefasto de limpar os solos ocupados por oliveiras de todo tipo de ervas, um factor que contribui igualmente para a erosão dos solos.
É, ainda, de referir que os efluentes dos lagares tradicionais (as águas ruças são o efluente mais importante e o que tem maior carga poluente) são, por vezes, lançados directamente no meio hídrico. É urgente resolver este problema com a melhor relação custo/benefício, em termos ambientais.

                                               FNeves







quarta-feira, 23 de julho de 2014

PARA QUE SERVEM OS TESTES ESCOLARES?


A primeira ideia que vem à mente de um leigo em matéria de educação é que os testes servem para classificar os alunos. Não excluo que a grande maioria deles terá, nas nossas escolas, essa finalidade. Mas nem todos os testes deveriam servir para classificar.
Assim, no início de uma unidade de ensino será desejável que haja uma informação sobre os conhecimentos já adquiridos por parte do aluno. Esta informação servirá quer para o professor poder adequar os processos de ensino ao seu público, quer para o aluno fazer a recuperação de eventuais matérias em atraso e que sejam necessárias às aprendizagens que irão seguir-se. Aqui, não há que atribuir qualquer classificação mas, antes, uma informação ao aluno daquilo que ele necessita de lembrar.
Claro que, durante o processo de ensino, o professor, mediante questões escritas ou orais, tem sempre a possibilidade de ir recolhendo informações junto dos alunos sobre o modo como a aprendizagem está a ser feita; significa isso que, em qualquer momento, ele pode ter que reformular as estratégias já delineadas. É o feedback a funcionar no sentido aluno-professor.
Finalmente há o teste que associa a si uma classificação do aluno. Note-se que muitos professores se satisfazem com os resultados dos seus alunos quando aqueles seguem um padrão semelhante ao da curva de Gauss. Este padrão traduz-se por uma distribuição dos resultados em que a maioria tem uma classificação média, e duas minorias, uma com resultados altos e outra com resultados baixos. Esta é uma curva de probabilidade que traduz a ocorrência de um número elevado de acontecimentos aleatórios.
Acontece que o ensino não é uma actividade aleatória mas um acto intencional, visando o êxito dos alunos. Se os resultados de um teste se traduzirem num número elevado de classificações negativas, eles deverão alertar o professor para que algo não está a correr como devia, havendo necessidade de intervir, por vezes, a vários níveis.


                                               Mário Freire

segunda-feira, 21 de julho de 2014

VANTAGENS PSICOLÓGICAS EM ANDAR DE BICICLETA



Andar de bicicleta traz inúmeras vantagens do ponto de vista físico, pois ao fazer exercício os benefícios para a saúde são óbvios. Traz igualmente vantagens em termos económicos e ambientais que têm sido bastante defendidos e divulgados pelos adeptos deste meio de transporte, os quais têm vindo a ser cada vez mais, mesmo em cidades como Lisboa onde, aparentemente, é difícil utilizar este meio pela ausência de estradas planas. Afinal já são muitos os ciclistas que enfrentam esta dificuldade, pelos vistos sem grandes problemas.
Na verdade, andar de bicicleta traz ainda outras vantagens interessantes. O movimento PeopleForBikes divulgou umas quantas que nada têm a ver com as acima mencionadas. Uma primeira chama a atenção para como a pessoa se sente, não em termos físicos mas em termos psicológicos. Andar de bicicleta faz-nos ter boas sensações, através da paisagem que vamos vendo, do impacto com o vento, ou até com a chuva, pelo que facilmente nos proporciona momentos de alegria e de bem-estar.
Outra curiosidade é a facilidade com que os ciclistas comunicam entre si, como se houvesse uma espécie de cumplicidade por se pertencer a um grupo, cujos interesses são partilhados. Assim, esta pode ser uma forma relativamente simples de se fazerem novas amizades, portanto de alargar a rede social e de se sentir pertencente a um grupo.
Se, em vez de andarmos sozinhos, o fizermos em companhia, a bicicleta é um tipo de transporte que estimula a conversa, talvez até mais do que em bares ou restaurantes. Quando se anda por uma cidade, é muito mais fácil descobrir novos restaurantes, cafés, lojas, sobretudo em zonas onde o tráfico é limitado.
Por fim, a bicicleta é um tipo de atividade que, a qualquer momento, permite uma pausa para um snack, por exemplo. Onde quer que se esteja, é possível parar e fazer o que se quer. A liberdade que uma bicicleta oferece traz benefícios que raramente outro transporte traz. Vale a pena experimentar!

                                              Rossana Appolloni
                                         www.rossana-appolloni.pt


sábado, 19 de julho de 2014

ENGANO


Sem querer, se cai no engano.
Infalível só Deus é.
O errar é tão  humano
e não basta a boa fé.

À verdade então faltar
pode ser mero acidente.
Mas o intento de enganar
é lesivo a toda a gente.

Grato é minimizar
erro próprio ou alheio,
tendo à mão o bom humor.

Face a quem nos quer lesar,
resta termos, de permeio,
sempre o escudo do amor.


João d’Alcor

quinta-feira, 17 de julho de 2014

UM MUSEU PARA UM SÓ MINERAL



Pode parecer estranho que tal exista mas essa é a realidade que se encontra em Viseu. Numa das raras cidades do Interior que parece não se ter conformado com a decrepitude, o marasmo, a atrofia dos centros históricos, o subdesenvolvimento, ergueu-se uma Instituição, tutelada pela Câmara Municipal daquela cidade, que se julga única no Mundo: um museu dedicado exclusivamente ao mineral quartzo.
Numa altura, no nosso País, em que a Ciência está a sofrer de maus-tratos, em que as ciências do dinheiro contam mais do que as ciências da Terra, eis que aparece um Museu nesse Interior, quase sempre esquecido, para colmatar duas grandes necessidades: 1 - recuperar um local onde existia uma pedreira aberta pela lavra do mineral quartzo leitoso, depois abandonada, qual ferida rasgada na paisagem; 2 – aproveitar o dito mineral, valorizando a sua jazida e, a partir dela, transformar um problema ambiental num centro de cultura científica e pedagógica.
Ora, o Museu mostra o quartzo em belos cristais poliédricos, isolados ou associados, hialinos, ametistas, róseos, defumados…, alguns com inclusões de outros minerais, que lhe conferem efeitos de rara beleza. Mas ele também pode ocorrer sob a forma microcristalina em que as ágatas, os ónix, as cornalinas…, com as suas bandas, curvas ou rectilínias, pretas ou brancas, castanhas ou vermelhas…, deixam-nos deslumbrados e constituem como que um hino ao Criador, para quem é crente.




Mas o Museu, a par das actividades pedagógicas que desenvolve regularmente, também nos informa sobre as inúmeras intervenções a que o quartzo é chamado a dar o seu contributo ao progresso: vidros, cimentos, louças, cal, plásticos, borrachas, electrónica e… joalharia.

O convite à interactividade, ao manuseamento, à observação, ao questionamento, suportados por uma tecnologia informática em conformidade com os objectivos pedagógicos visados, tornam este Museu digno de ser visitado, seja por leigo ou perito em Mineralogia, aluno do básico, secundário ou superior. Resta informar que a concepção científica do conteúdo do Museu se deve ao Professor Galopim de Carvalho que, aliás, dá o nome ao Centro de Interpretação da Instituição. 

                                                            Mário Freire

terça-feira, 15 de julho de 2014

O PODER DA GRATIDÃO


Science of Happiness publicou um estudo para medir os níveis de felicidade antes e depois de um exercício específico para verificar até que ponto é que esse poderia influenciar os níveis de felicidade do sujeito. O exercício constava de escrever uma carta quem o sujeito sentia que mais o tinha influenciado na vida, exprimindo a sua gratidão. Numa segunda fase, tinha de telefonar à pessoa escolhida e ler a carta. Como resultado, verificou-se um aumento dos níveis de felicidade daqueles que se submeteram ao exercício, sobretudo dos que conseguiram completar o mesmo, ou seja, dos que, além da carta, comunicaram o conteúdo da mesma ao destinatário.
 O efeito mais inesperado foi para os sujeitos cujos níveis de felicidade se tinham demonstrado muito baixos antes do exercício, o que veio demonstrar que este exercício pode ser uma prática boa para quem está com níveis de tristeza elevados.
Independentemente dos testes que se fazem para tentar avaliar fatores que são dificilmente mensuráveis pela especificidade de cada um de nós, exprimir a gratidão pode efetivamente contribuir para a nossa felicidade. Trata-se de focarmos a atenção no que de bom há à nossa volta e que, muitas vezes, ao sermos tomados pelas preocupações e pelo stress da nossa vida, descuramos e não damos a devida importância. Costuma dizer-se que só damos valor às coisas quando não as temos.
Podemos então tentar fazer o contrário, ou seja, reconhecer o valor do que temos e exprimi-lo. Exprimir o que sentimos é extremamente importante, não apenas o recetor, mas sobretudo para o emissor. A comunicação verbal potencia as emoções e as emoções potenciam os sentimentos. Não é por acaso que é comum a dificuldade de dizer o que sentimos.
As emoções assustam-nos, pois não fomos educados para encararmos as emoções de forma positiva, mas vivê-las e dar-lhes espaço na nossa vida é fundamental para nos sentirmos mais vivos. Experimentemos e sintamos o resultado dentro de nós!

                                                        Rossana Appolloni
                                                                           www.rossana-appolloni.pt


domingo, 13 de julho de 2014

ENERGIA


Ao falarmos de energia,
evocamos um poder,
ao contrário da apatia
que parece tal não ter.

Desde um seixo, ao dom da fé,
bem se aplica o postulado:
Energia tudo é.
Mas, difere o seu estado...

Somos ela e nela imersos.
Muito embora bem diversos,
nos iguala onde há o amor.

Como mãe dos universos,
até nestes simples versos
ela exprime o seu vigor.


João d’Alcor

sexta-feira, 11 de julho de 2014

FUTEBOL, COMPETIÇÃO E VALORES


       Agora, que estamos a terminar a maré de futebol, talvez tenha interesse perguntar-nos qual a importância que é atribuída ao desporto no nosso sistema de ensino. Ele, pelo envolvimento global que proporciona aos alunos, bem pode constituir-se numa área do currículo em que os valores éticos estão constantemente a ser provados.
            Ora, valores são as razões que atribuímos às nossas escolhas, tornando-as preferíveis a outras. Nem todos têm as mesmas razões para fazerem determinada escolha. Por isso, nem todos têm os mesmos valores. De entre a multiplicidade de valores, vêm à cabeça os éticos, isto é, aqueles que têm a ver com as normas de comportamento que se implicam em todas as nossas actividades. De entre os critérios que presidem a estas normas encontram-se a lealdade, a verdade, a honestidade, a solidariedade, o esforço…
            Pus em primeiro lugar aqueles valores porque eles, sendo critérios fundamentais na avaliação das pessoas com quem nos relacionamos, são também critérios de avaliação das múltiplas situações que decorrem da prática desportiva. Ora, esta prática, assenta, fundamentalmente, na competição.
No mundo de hoje, em que a palavra competitividade faz parte do léxico quotidiano, saber competir é fundamental. Esta competição, porém, passa pelo esforço que cada um faz em superar as suas dificuldades. O treino e o esforço que nele é posto não são mais do que meios para superar essas dificuldades, sejam elas individuais e colectivas. Depois, há a competição entre pessoas ou entre grupos. E aí, todos aqueles valores da solidariedade, da lealdade, da verdade e da honestidade ganham relevo. Há, ainda, a vitória e a derrota. Qual o comportamento dos vencedores em relação a si próprios e em relação aos vencidos? E os vencidos, como encararam a derrota? São todas estas situações que ocorrem num jogo do Mundial que, talvez, possam ser aproveitadas pela escola e, depois, transportadas para a vida de todos os dias.


                                      Mário Freire

quarta-feira, 9 de julho de 2014

MENOS COISAS, MAIS FELICIDADE


Hoje em dia ocupamos três vezes mais espaço do que há trinta anos atrás. As nossas casas são maiores, os nossos carros são mais espaçosos, os nossos locais de trabalho são mais amplos, mais ainda assim procuramos mais espaço. Temos mais espaço disponível agora relativamente ao passado, mas o consumismo e a nossa tendência para acumular, leva-nos a precisar de ainda mais. Acumular traduz-nos, muitas vezes, em contrair dívidas pela vontade de comprar coisas novas, em prejudicar o ambiente e, porventura, em baixar o nível de felicidade. Este raciocínio faz-nos a acreditar que ter menos (em objetos) pode significar ter mais (em qualidade de vida).
Temos a oportunidade de experimentar situações em que vivemos com muito pouco, como é o caso de quando viajamos e levamos apenas o essencial para uns dias num hotel, num barco, ou simplesmente num campismo. Na verdade, poderíamos perfeitamente viver com o que transportamos para uma viagem, se calhar até com menos. Nestas alturas, a vida parece mais fácil, mais simples, e não é apenas porque estamos eventualmente de férias!
Como fazer então para criar espaço para o que é verdadeiramente importante? O designer Graham Hill propõe três tópicos:
1) Fazer uma escolha séria: desfazermo-nos do que não precisamos e controlar o que compramos, perguntando-nos sempre: será que preciso mesmo disto? Será que isto me vai proporcionar mais felicidade?
2) Pensar em função da utilidade dos objetos: será que preciso de um fogão de seis bicos quando só uso dois?
3) Arranjar soluções que nos ofereçam mais do que uma função. Um bom exercício que pode ser feito é perguntarmo-nos, quando entramos em casa, se poderíamos viver com menos coisas. Viver com menos, ter a coragem de nos desfazermos do que é antigo e inútil, é uma forma de dar espaço a coisas novas e úteis, que contribuam verdadeiramente para o nosso bem-estar.


                                       Rossana Appolloni

sábado, 5 de julho de 2014

ENCÓMIO



Maldizer é ultrajar
no humano a luz divina.
Bendizer vem ‘spevitar
nele a chama que ilumina.

Sem fictício galanteio,
vero encómio vem a ser
coração todo ele cheio
de atenção e bem querer.

 Junto à consideração,
expressar a nossa estima
é factor estimulante.

Aplaudir nunca é em vão,
 na medida em que isso anima

na virtude o ir avante.

João d'Alcor

quinta-feira, 3 de julho de 2014

SER PROFESSOR HOJE


        Num artigo publicado no passado mês de Maio no semanário francês L’Express, comentavam-se os resultados de dois inquéritos. Não sei se há grande legitimidade na transferência dos resultados desta inquirição para Portugal. De qualquer modo, perante a proximidade cultural entre os dois países e as situações similares de natureza familiar que se vivem, não tenho grande relutância em considerar que muitos destes resultados poderiam, igualmente, encontrar-se no nosso País.
Num desses inquéritos, realizado em meados do ano passado a 5.000 professores, 87% diziam-se mal considerados pela sociedade e 92% admitiam mesmo que os media os agredia. Já este ano, num outro inquérito abrangendo 15.000 professores, mais de 80% dos inquiridos afirmaram que a opinião pública não compreendia o seu trabalho e cerca de metade sentia-se incompreendida pelo ambiente que a rodeia.
Existe, pois, um sentimento dominante entre a classe docente francesa de que é desconsiderada. Infelizmente, em Portugal, temos, igualmente, casos bastantes de desconsideração dos professores quer por parte do Estado, quer por parte de alguma população e de que certos pais são os primeiros a dar o testemunho. Para esta última realidade muito contribuiu a democratização da escola e, com ela, um acesso generalizado de alunos, oriundos de todas as classes sociais, a uma maior escolarização. Se este facto é um bem, ele nem sempre foi traduzido em acompanhamento e empenhamento dos pais no trabalho escolar dos seus filhos. Para muitos daqueles, mais importante do que os filhos aprendam é que estes transitem de ano. E, claro está, quando as classificações não agradam aos alunos, estes têm sempre maneiras de as justificar junto dos pais, pondo o ónus nos professores.

            Este sentimento de desconsideração social, que tem correspondência em comportamentos de indisciplina quer da parte de alguns alunos, quer da parte de alguns pais para com os professores, poderá atenuar-se com um diálogo, nem sempre conseguido mas que tem que ser procurado, da escola com a família, tentando mostrar aos pais que os fins que ambas as instituições perseguem não se opõem mas, antes, se complementam.   

                                                           Mário Freire

terça-feira, 1 de julho de 2014

SOL, O OURO DO ALENTEJO


Portugal tem vindo, nos últimos anos, a desenvolver uma política de incremento das energias renováveis. No momento de crise económica profunda que se verifica em Portugal, em que a sustentabilidade do ambiente se encontra ameaçada importa, mais do que nunca, criar um espaço de reflexão em que os especialistas em ciências do ambiente se possam pronunciar.
As centrais fotovoltaicas representam um marco histórico na aposta de Portugal em avançar para um modelo energético sustentável que refreie as mudanças climáticas. Aproveitam, para tal, recursos endógenos e renováveis, contribuindo para o desenvolvimento e o emprego a nível local, em particular no âmbito rural.
No Alentejo, foram construídas duas instalações fotovoltaicas: uma na Amareleja e outra em Serpa.
A Central Solar Fotovoltaica de Amareleja, com 46 megawatt, é dotada de um sistema de orientação dos painéis solares. Ocupando uma superfície de 250 hectares, é constituída por mais de 2.500 estruturas programadas para acompanhar automaticamente a trajectória do sol sobre o horizonte em cada dia do ano e, desse modo, optimizar a produção de energia. A produção está estimada em 93 milhões de quilowatt hora/ano. Num ano, poderão pois satisfazer o consumo de 30.000 lares evitando-se, desse modo, o lançamento para a atmosfera de 89.373 toneladas de emissões de CO2. Isso corresponderia a retirar de circulação aproximadamente 40.000 veículos e a um efeito depurativo (para a atmosfera) de 4,5 milhões de árvores. Em termos económicos, reduz as importações de petróleo em, aproximadamente, 55.000 barris que custam a Portugal cerca de 4 milhões de euros.
 A sua construção envolveu acções de compensação ambiental, tais como plantação de azinheiras e melhoramento das linhas de água.
A Central Solar Fotovoltaica de Serpa, mais modesta, foi implantada numa área de 60 hectares, dos quais 32 estão cobertos por 52 mil painéis fotovoltaicos; dispõe de uma capacidade instalada de 11 megawatt.
A energia solar é uma excelente fonte de energia renovável, extremamente competitiva, sobretudo em países como Portugal que regista uma média de duas a três mil horas de sol por ano. Apesar de requerer algum investimento para a sua instalação, acaba por ser vantajoso a médio e longo prazo, uma vez que proporciona grande poupança energética e económica. Apresenta a vantagem acrescida, de ser uma energia com ausência de poluição muito significativa.

                                                      FNeves