terça-feira, 30 de julho de 2013

DILIGÊNCIA



Quer no ócio quer na acção,
curioso é notar
que a palavra obrigação
não é fácil de aceitar.

Surge de um lado o a tempo e horas
que se impõe entrando em liça.
Lado oposto o das demoras
vem dar jus sempre à preguiça.

Posição inconfortável
qualquer delas. Tão oposta
uma e outra é na vivência.

Uma opção que creio louvável
tenho por lema, em termos de aposta:
Devoção na diligência.

João d’Alcor


domingo, 28 de julho de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 10



António Roxo na sua Monografia de Castelo Branco, em 1890 faz-lhe uma referência, não contextualizada, sem fundamentação, na página 60, que aponta uma crítica à localização, nos seguintes termos: “Foi este edifício feito com o fim de servir de liceu, mas  a posição mal escolhida e as poucas proporções do edifício para tal fim vieram em breve tempo provar que isto era uma utopia. O edifício, sendo pequeno para liceu, é grande de mais para duas escolas. Principiaram as obras em 1867, havendo-se gasto a quantia de 5:438$910 réis, despesa que mais significa um desperdício do que um acto de boa administração municipal”.
Sem querer entrar em polémica metodológica e na discordância da informação, não deixarei de estranhar a falta de referência ao destino do testamento do legado do Conde Ferreira, que exigia como condição imprescindível a utilização exclusiva do edifício como escola do ensino primário e popular e nunca admitindo nele a instalação do ensino liceal destinado a um grau mais elevado e por isso acessível somente a candidatos com maior poder económico.
Por outro lado parece justa a crítica quanto à topografia da cidade e à sua inacessibilidade ao castelo, a parte mais elevada da cidade. Sabemos por experiência como se foi processando o crescimento da cidade ocupando gradualmente a encosta e evoluindo para o sopé circundante.
De facto não foi feliz a escolha para localização da primeira escola primária da cidade, que terá provavelmente sido utilizada durante algum tempo para a finalidade inicial, mas com pequena duração. A Escola Normal, designada Escola de Habilitação para o Magistério Primário foi instalada neste edifício construído com o legado do Conde Ferreira contra a vontade de alunos, professores e empregados. Assim que surgiu uma alternativa, deu-se a mudança para a zona baixa da cidade. Disso nos dá conta uma notícia do semanário Notícias da Beira , que é do seguinte teor:
“ A escola de ensino normal funciona, desde o dia 2 do corrente, no antigo edifício do paço episcopal, onde, por determinação do Governo da República, foi instalada, bem como o liceu central desta cidade.
É um melhoramento importante porque a antiga instalação da Escola do Castelo tornava-se inconveniente pelo difícil acesso e distância do centro da cidade”.


                                             Francisco Goulão

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES - 1



O psicólogo americano Abraham Maslow, na tentativa de explicar o nosso comportamento e a motivação que lhe está subjacente, elaborou uma pirâmide hierárquica de necessidades e explica que quando uma das necessidades não está satisfeita, o sujeito é levado a agir para a satisfazer.
Um exemplo simples pode ser o de quando temos sede, fazemos o que está ao nosso alcance para bebermos água. O que nos motiva a agir é precisamente sentir uma necessidade por colmatar. Quando tal não acontece, abre-se o espaço para a frustração, a qual pode ser manifestada de várias formas: agressividade, nervosismo, ansiedade, apatia, depressão, passividade, resistência à mudança, e por aí adiante.
Maslow divide as necessidades humanas em 2 níveis: as necessidades básicas e as necessidades do ser, cada uma delas composta por quatro tipos de necessidades.
Vejamos as necessidades básicas:
1) Necessidades fisiológicas: alimentação, água, sono, ar. Se estivermos a afundar tentaremos de todas as formas possíveis vir acima para conseguirmos respirar. A vontade de sobreviver é a motivação que nos leva a agir e a combater o sufoco.
2) Necessidades de segurança: trata-se de segurança física (fechar a porta de casa), mas também segurança psíquica (manter um emprego embora não se sinta satisfeito ou manter uma relação apesar de já não se sentir feliz).
3) Necessidades de amor e relacionamentos, as quais se podem classificar também como necessidades sociais, pois tem a ver com as relações interpessoais. Todos procuramos afeto, aceitação e satisfação na relação com os outros. Quando não o conseguimos, tendemos ao isolamento e à solidão.
4) Necessidades de estima, que inclui o desejo de ser reconhecido e aceite pelos outros. Diz respeito à reputação que temos, ao que os outros pensam de nós e como nos veem, mas também à autoconfiança, isto é, a como nós nos vemos a nós próprios.

Continua…

Rossana Appolloni

http://www.youtube.com/watch?v=yM8SwZkvCIY



quarta-feira, 24 de julho de 2013

A REPETIÇÃO DE ANO NO PRIMÁRIO


            Foi pedida recentemente, em França, a supressão da repetição de ano ao nível do ensino primário. Esta reivindicação, embora não tivesse sido aceite, é apoiada por trabalhos de diversos especialistas que estão convencidos da inutilidade da repetição de ano.
            Ora, esta repetição, ao nível do ensino primário, enforma de, pelo menos, três equívocos: com o tempo o problema acabará por solucionar-se; o aluno reinicia o estudo das mesmas matérias, com idênticos métodos e nos mesmos tempos; a criança é culpabilizada pelo seu insucesso.
            Fazer repetir um ano a uma criança significa dizer-lhe que ela tem menores capacidades que as outras; é estigmatizá-la e segregá-la; é retirar-lhe confiança em si própria e imprimir-lhe marcas psicológicas que, porventura, irão ficar-lhe pela vida fora.
              Muitos professores, porém, manifestam-se contra a supressão da repetição de ano porque isso induziria, segundo eles, uma dificuldade em fazer trabalhar o aluno. Tal reacção tem subjacente a perda de poder que aparece ao professor como desestabilizadora; o clima de ameaça que impenderia sobre o aluno seria, assim, uma protecção do próprio sistema.
            Mas se a repetição de ano acarreta graves inconvenientes para a criança, a solução será a transição automática? Tal não parece resolver o problema pois isso seria contribuir para a perpetuação do analfabetismo e para o insucesso na vida.
Há, pois, a nível de escola (e do sistema educativo!) que encontrar as soluções que melhor respondam às dificuldades do aluno. E isso passa por se fazer um diagnóstico dessas mesmas dificuldades, tentando, depois, encontrar os meios para recuperar os deficits, dar mais tempo para certas aprendizagens, chamar os pais a colaborar (ou, em casos extremos, procurar os próprios pais), solicitar apoios fora da escola, dentro ou fora do Ministério da Educação...
Enfim, a escola tem um papel crucial, que não é fácil, na recuperação dos alunos em dificuldades. A solução, porém, não pode passar pela repetência pois esta é um instrumento da manutenção das desigualdades sociais mas, acima de tudo, uma violência psicológica em relação à criança.

                                             Mário Freire


segunda-feira, 22 de julho de 2013

DIGNIDADE


Tem a ver com dignidade
tudo quanto dignifica.
Pleonasmo, é na verdade,
se não passa de uma dica.

Definir qualquer virtude
risca ser passar-lhe ao lado.
Melhor é, como atitude,
sobre tal ficar calado.

Dignifica na verdade
que, sem foros de vaidade,
se demonstre pelo exemplo.

Seja eu digno de tentar
tal nobreza, ao m’inspirar
nos modelos que contemplo.

João d’Alcor


sábado, 20 de julho de 2013

ESTUDAR NO ESTRANGEIRO


Notícias recentes davam conta que as receitas geradas pela presença de estudantes estrangeiros em Portugal poderiam vir a ultrapassar as que são geradas pela exportação de vinho nacional.
A globalização também chegou à educação: o número de estudantes a frequentar escolas fora do seu país tem aumentado rapidamente. Viagens mais baratas e comunicações mais fáceis levam os jovens a procurar qualificações que lhes permitam entrar mais facilmente no mercado de trabalho.
Mas não são eles os únicos beneficiários: os países de destino têm benefícios financeiros e os países de origem recebem de volta os seus jovens habilitados com novas competências.
São os países asiáticos, nomeadamente a China e a Índia, que mais incentivam os seus estudantes a estudar no estrangeiro. Em contrapartida, são os países ocidentais, em particular os de língua inglesa, os mais procurados. A formação escolhida é muito variada e é, com frequência, de nível avançado.
Com a vasta oferta que existe actualmente, os estudantes devem ter em atenção não só o país e o ranking da instituição a seleccionar, mas também os custos. De facto, as propinas estão a aumentar, com a maioria dos países a cobrar valores mais elevados aos alunos estrangeiros. Contudo, propinas elevadas podem não ser um impedimento, em especial se há possibilidade de obter uma bolsa de estudo ou de trabalhar em tempo parcial.
Mas há ainda outros factores que poderão condicionar os estudantes estrangeiros tais como a língua e as leis de imigração. Atendendo a que os países de língua inglesa são muito atractivos, verifica-se que outros países não anglófonos oferecem cursos em inglês para, desse modo, atrair mais alunos. Outros adaptaram as leis de entrada e de permanência no país. Deste modo destinos tradicionais estão a perder popularidade, a favor de novos destinos.
             Cada vez mais os estudantes estrangeiros são vistos como um bem quer para os países quer para as instituições que os acolhem. Como pagam os estudos e a estadia, poderão beneficiar a economia durante ou mesmo após a sua permanência no país. Os estudantes estrangeiros poderão também contribuir para melhorar a competitividade dos países e das instituições e, duma forma mais alargada, do mundo global em que todos vivemos.

                                                         FNeves


quinta-feira, 18 de julho de 2013

GEOPOEMA


Num artigo publicado online pela revista Geology, em Junho de 2013, dá-se conta da recente descoberta, ao largo da costa de Portugal, de uma possível zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação. Tal significa que daqui a uns 200 milhões de anos, o Oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e que as massas continentais da Eurásia e da Laurência se voltarão a juntar num novo supercontinente. Neste trabalho, assinado por João Duarte, geólogo português a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália, e a sua equipa, juntamente com António Ribeiro e Filipe Rosas, da Universidade de Lisboa, Pedro Terrinha, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, e, ainda, Marc-André Gutcher, da Universidade de Brest (França), são revelados os primeiros indícios de transformação da margem sudoeste ibérica (uma margem passiva, do tipo atlântico) numa margem activa, do tipo pacífico.
Há mais de três décadas, em 1979, no 1º Encontro de Geociências, reunido em Lisboa, António Ribeiro, surpreendeu os presentes, ao apresentar a comunicação a que deu o nome de ”Geopoema”. Numa antevisão notável, este geólogo que, já então, se distinguia entre os seus pares pela excelência do trabalho que produzia, anunciava que o Atlântico iria começar a fechar, que, daqui a uns milhões de anos, engoliríamos os Açores e, que, passados mais um ror deles, a Eurásia cavalgaria a América do Norte, imaginando, em jeito de brincadeira, “a estátua do Marquês do Pombal sobre a estátua da Liberdade”.

A M Galopim de Carvalho

Lisboa, 10. 07.2013

terça-feira, 16 de julho de 2013

A INTELIGÊNCIA AJUDA-NOS A VIVER MELHOR


O ser humano é um ser essencialmente social, pois é na relação com as pessoas que vai evoluindo, progredindo, aprendendo e crescendo nos vários âmbitos que fazem parte da sua existência. Viver em completo isolamento é uma tortura e prejudicial para qualquer um de nós.
Partindo então do pressuposto que o nosso desenvolvimento, tanto a nível pessoal como profissional, tem lugar através das relações com as pessoas com quem interagimos, é extremamente importante desenvolvermos competências que nos ajudem a ter relações mais harmoniosas, saudáveis e frutuosas. Para isso é fundamental o papel da nossa inteligência emocional, descrita através da capacidade de persistirmos num objetivo apesar dos obstáculos (muitas vezes causados pelos outros), de adiarmos a gratificação (muitas vezes impedida pelos outros) e de controlar os próprios estados de ânimo, evitando aquele sofrimento que nos impede de pensar e de discernir.
Não nos devemos esquecer que os outros não são peças de um puzzle que nós construímos e que existem para manipularmos consoante as nossas exigências. Todos nós temos desejos e necessidades e encontrarmos forma de nos encaixarmos para organizarmos o tal puzzle, sem magoarmos nem lesarmos ninguém, pode ser difícil, mas é essencial para que o resultado seja positivo e benéfico para todas as peças que somos nós. Assim, as pessoas que desenvolvem capacidades positivas para trabalhar em grupo criam um espírito de equipa, adquirem uma motivação maior, protegem a identidade do grupo, sentem-se solidárias entre elas e criam sinergias capazes de aumentar a produtividade e resistir melhor a períodos de crise.
O desenvolvimento da inteligência emocional contribui para o potenciamento da consciência e da capacidade de sermos empáticos. Uma das formas de pôr em prática esta inteligência pode passar simplesmente por pensar, sentir e agir, em cada situação, fazendo aos outros o que gostávamos que fizessem connosco.

                                     Rossana Appolloni


domingo, 14 de julho de 2013

AUXILIARES DE EDUCAÇÃO EDUCATIVA: QUE PAPEL?


          Quando se fala de educação das crianças e adolescentes, costuma pôr-se a ênfase no Estado, nos pais, nos professores, nos equipamentos mas raramente se releva o papel dos auxiliares de acção educativa (AAE).    E esta quase ausência de referência deve-se ao facto de eles não terem, ainda, sido considerados, pelos diferentes poderes que de perto ou de longe interferem na escola, como verdadeiros elementos de formação educacional.
            Aos AAE estão-lhes, normalmente, cometidas funções nos âmbitos da manutenção da higiene da escola, da vigilância dos recreios e corredores e no apoio às salas de aulas e a certas disciplinas ou gabinetes específicos.
De todas estas, destacaria as de vigilância dos recreios e corredores por serem aquelas em que a relação com os alunos se torna mais evidente e onde o seu papel de educadores melhor se pode destacar. Pergunta-se, então: que formação têm tido estes profissionais para que possam responder, adequadamente, aos inúmeros problemas decorrentes dessa relação?
Ora, os AAE são elementos imprescindíveis no processo educacional dos alunos. Neste âmbito, eles deveriam ter, pelo menos, uma formação específica no campo da observação e da comunicação, tendo em conta as características das idades dos alunos com que lidam e, ainda, possuir conhecimentos que lhes permitissem actuar em situações de agressividade física ou psicológica. Sendo agentes educativos, eles têm que respeitar os alunos mas, igualmente, devem ser respeitados. São uma autoridade dentro do espaço escolar e os alunos deveriam ter plena consciência disso.
Saber observar os espaços que lhe estão confiados; usar uma linguagem adequada quando age; saber questionar, sugerir, repreender e elogiar, controlando as situações ou a sua agudização; participar à direcção, eis alguns dos comportamentos que se esperam de um AAE e que poderiam contribuir para uma escola mais educativa, mais disciplinada e mais segura.


                                                    Mário Freire

sexta-feira, 12 de julho de 2013

DIFERENÇA


Há que honrar o diferente,
sem jamais ver nisso um mal.
Seja coisa ou seja gente,
se distinta, é bom sinal.

Diferença consciente
mais nos torna semelhantes.
- Paradoxo: Haja em mente
mor acordo do que o dantes.

Concordar na diferença
não dá jus, em eleições,
para outrem rebaixar.

Digna é sim da nossa avença
haver clarificações,
em virtudes a conjugar.


João d’Alcor

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 9


Em 16 de Dezembro de 1872, a acta da sessão da Câmara de Castelo Branco volta a referir dificuldades financeiras para solucionar os acessos à Escola: “suspender as obras respeitantes à rua que se dirige ao edifício para a escola no recinto do castelo por se haver despendido muito além do orçamento geral(…)”.
Consta ainda da mesma acta a citação de adiamento na resolução do requerimento de Manuel Baptista Palaio que ”pretende ser indemnizado dos prejuízos que sofrera na arrematação das obras da casa para a Escola pela pena do trabalho nos dias de verão por o edifício ser coberto em Agosto e haver feito o trabalho no inverno e as ferragens haverem subido de preço” . (sic)
O encerramento dos trabalhos da construção da Escola do Castelo só vem a ser documentado em 27 de Julho de 1875, passados oito anos de construção com várias interrupções motivadas por escassez de meios económicos. É com base numa referência à aplicação do edifício a instalação do Liceu, pretensão que não tinha viabilidade por contrariar a reserva testamentária, que António Roxo lhe faz alusão na sua Monografia de 1890 .
Mas vejamos como se processou a utilização do edifício escolar do Castelo construído com base no legado do Conde Ferreira.
Quando se diligenciou encontrar um edifício adaptado à instalação da recentemente criada Escola de Habilitação para o Magistério Primário em Castelo Branco, nunca se pôs a hipótese de utilizar este edifício para este efeito porque não cumpria a reserva testamentária já referida antes, ou provavelmente por dificuldades de acesso. O certo é que a primeira instalação da Escola Normal foi localizada na então Avenida (hoje rua) Vaz Preto, não obstante impor obras de adaptação de algum volume e importância que levou tempo a remover.

                               Francisco Goulão


segunda-feira, 8 de julho de 2013

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL


Nos anos 90, o conceito de Inteligência Emocional deu muito que falar a partir do best-seller de Daniel Goldman com o mesmo título. Mas, afinal, o que é a inteligência emocional? Segundo o autor, trata-se da capacidade que temos de reconhecer os próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos para alcançarmos metas e de gerir as emoções em nós próprios e nas nossas relações interpessoais de forma positiva e profícua.
A inteligência emocional inclui cinco competências básicas: autoconhecimento (reconhecer as próprias emoções e sentimentos), autocontrolo (saber lidar com essas emoções e sentimentos quando ocorrem), automotivação (conseguir dirigir as emoções de forma a atingir objetivos), empatia (reconhecer e respeitar as emoções e os sentimentos dos outros) e habilidade nos relacionamentos interpessoais (saber interagir com os outros).
Quantas vezes não nos encontramos em situações que não sabemos como gerir do ponto de vista emocional? Para resolver qualquer tipo de problema (pessoal ou profissional), tudo leva a crer que a inteligência emocional seja duas vezes mais importante do que a inteligência cognitiva. Nesta perspectiva, as habilitações académicas não são suficientes para garantir o sucesso profissional, muito menos a formação harmoniosa da personalidade. A história da humanidade demonstra que os fatores decisivos para a sobrevivência dependem do grau de colaboração existente entre os membros de uma comunidade. Por esta razão é extremamente importante o desenvolvimento de competências emocionais, pois servem para criar laços entre as pessoas, estimular redes sociais e desenvolver relações que mobilizam os outros e que acabam por ser mutuamente benéficas.
   
                                 Rossana Appolloni


sábado, 6 de julho de 2013

OS FILHOS E O PROCESSO DE DIVÓRCIO DOS PAIS


         Uma separação, seja ela por que motivo for, é sempre penosa. O sair de casa de alguém deixa um vazio que vai atingir a identidade da família. Quem sai de casa sofre, assim como quem fica também sofre. A saída equivale a uma perda. Ora, perder alguém pode implicar um sofrimento de tal modo intenso que, quando estão envolvidas crianças, ele é susceptível de gerar fortes traumas que se prolongam pela vida fora. 
            Nos últimos tempos tem-se assistido a um aumento exponencial do número de divórcios. Basta referir que em 1970, o número de divórcios por 100 casamentos era de 0,6; em 1980, esse valor subiu para 8,1; em 1990 passou para 12,9; em 2000 atingiu o valor de 30,0 e em 2011 subiu para 74,2. Significa isto que, por cada 100 casamentos, houve 74,2 divórcios.
            Em muitos divórcios estão envolvidos filhos de pequena idade. Quando tal acontece, mesmo que a separação ocorra de modo civilizado, inclusive amigavelmente, não deixa de haver angústias, das quais as crianças se ressentem. Seria, pois, altamente benéfico para os filhos que os pais, em processo de divórcio, os protegessem o melhor que pudessem e lhes fizessem ver que pai e mãe continuam a dispensar-lhes todo o amor. Só com o amor de ambos a criança consegue desenvolver-se adequadamente.
            Quando se assiste, em certos divórcios, o pai ou a mãe utilizarem os filhos, manipulando os seus sentimentos, como arma de vingança de um contra o outro, é porque aquele que assim procede se desinteressou completamente da saúde psicológica dos seus filhos, dos traumas que lhes poderão estar a infligir, dando preferência aos seus egoísmos e vinganças.
            Proteger as crianças dentro da família, mesmo quando esta está em crise, e principalmente nestas circunstâncias, é contribuir para a formação de adultos mais capazes de enfrentarem as adversidades da vida e mais aptos a darem o seu contributo à sociedade.


                                                                                   Mário Freire

quinta-feira, 4 de julho de 2013

DIAMANTE


Pedra tosca aquando nada
na montanha de onde veio
tem milénios, de permeio,
quanto à sua caminhada.

Junto ao mar fora encontrada
parte sendo já da areia,
mui discreta, qual sereia,
já tão lisa, burilada.

Pequenino diamante
foi polido, não obstante
toda a sua resistência.

Recebido como prenda,
junto a ele vinha a legenda:
‘Evocando a persistência’.


João d’Alcor

quarta-feira, 3 de julho de 2013

UMA RECOMENDAÇÃO ESTRATÉGICA



Houve já ocasião, neste blog, de escrever sobre o problema da escolha de um curso e a realização profissional. Foram, então, considerados alguns enfoques e identificadas certas variáveis que poderiam contribuir para compreender melhor a extensão deste magno tema educacional.
Ora o relatório do Conselho Nacional de Educação, há meses publicado, vem enfatizar a importância da orientação escolar e profissional.
            Numa das suas recomendações pode ler-se: “A orientação escolar e profissional deve desempenhar um papel estratégico na elevação dos níveis de qualificação da população portuguesa, ao facilitar o acesso à informação sobre a oferta de educação e formação disponível, ajudando jovens e adultos na construção de uma identidade pessoal e vocacional”.
            A orientação vocacional é, pois, um processo que ajuda o aluno a saber quem é. Mas ela constitui, igualmente, um instrumento de apoio à individualização do ensino, na medida em que auxilia o estudante a procurar um caminho escolar e profissional que mais se lhe adeqúe, tendo em consideração múltiplas variáveis. 
A escolaridade obrigatória de 12 anos vem colocar novos desafios à orientação. Se, à partida, se apresentam inúmeras vias aos alunos que terminam o 9º ano, o grau de exigência do ensino secundário poderá proporcionar maior absentismo e insucesso nos estudos. Caberá, então, ao profissional de orientação, com a colaboração da família, dos professores e dos serviços sociais, encontrar vias que, por um lado, previnam factores negativos na aprendizagem e, por outro, descobrir meios de o aluno melhor desenvolver as suas capacidades.
O Conselho Nacional de Educação recomenda, então, considerando o novo quadro da escolaridade obrigatória, que se defina com clareza uma política para a orientação escolar e profissional. Façamos votos para que tal aconteça.


                                                   Mário Freire

terça-feira, 2 de julho de 2013

O IMPACTO DOS RANKINGS NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR


      A educação de nível superior é de grande importância para satisfazer as necessidades humanas e empresariais. Todavia, a medição dos resultados educacionais envolvendo instituições, culturas e disciplinas é complicada e controversa, apresentando diversos desafios. São de salientar, os seguintes:
- A diversidade das instituições: especializadas ou generalistas, de âmbito internacional ou regional, de carácter mais ou menos selectivo.
- A diversidade dos sistemas de ensino superior.
- A diversidade dos conteúdos, a diversidade cultural e linguística e a duração dos cursos.
            A participação dos alunos e até de algumas instituições na avaliação, poderá também constituir uma dificuldade acrescida.
            Embora as listas de ranking venham a ser publicadas desde há longa data por diversas agências e organizações nacionais e internacionais, só recentemente as instituições visadas, os responsáveis educativos e os media as vêm encarando com interesse, sempre crescente diga-se a propósito. Existem milhares de instituições de ensino superior em todo o mundo, mas a grande preocupação é conseguir ocupar um dos lugares do top 100.
            E qual será o impacto e a influência a nível global que o ranking tem? Os responsáveis acreditam que os rankings contribuam para uma melhoria da imagem e reputação das instituições que lideram e possibilitem uma ajuda aos estudantes para fazerem a sua escolha, especialmente ao nível da pós graduação internacional, sector altamente lucrativo.
Também os rankings poderão influenciar decisões relativas à acreditação, ao financiamento e à capacidade empregadora. A posição na lista de ranking é utilizada para fins publicitários das mais diversas formas, incluindo o próprio web-site da instituição. Por vezes, os rankings conduzem a mudanças na organização e nas prioridades da instituição, assim como nas parcerias estabelecidas com outras instituições: são uma manifestação de competição global.
            Cada sistema usa os seus próprios indicadores para medir a actividade das instituições. Serão necessários indicadores que tornem comparáveis os dados relativos ao ensino ministrado e aos resultados obtidos. Sem surpresa, verifica-se que os responsáveis procuram influenciar alguns desses indicadores, nomeadamente em termos de selecção de candidatos e de alocação de recursos. Também os governos e promotores tentam incentivar a criação de instituições de excelência, mesmo à custa de investimentos adicionais.
            Os rankings estão pois a provocar um importante debate em relação à qualidade e ao desempenho das instituições de ensino superior: como poderão os indicadores ser definidos e medidos por quem e com que propósito? A sua comparação será cientificamente correcta e aceitável? 

                                    FNeves