quarta-feira, 24 de abril de 2013

A CRISE E A MATEMÁTICA



       Em 2008, imediatamente antes da bancarrota da Lehman Brothers que, segundo muitos, foi responsável pela crise económica que estamos a viver, o presidente da câmara de Cleveland, Estados Unidos, registou 21 queixas contra grandes bancos. Estes, através de agentes pouco escrupulosos, venderam créditos e ilusões a muitas famílias que desejavam ter casa própria e que, depois de a habitarem, foram obrigadas a perdê-la. Muitas outras famílias, em outros países, Portugal incluído, percorreram idêntico caminho.
Ora, mercê do poder dos bancos de Cleveland, nenhuma daquelas queixas conseguiu chegar a tribunal. Este facto inspirou o cineasta Jean-Stephane Bron a encenar um julgamento fictício, apoiado pela administração municipal, com advogados, juíz e testemunhas verdadeiros. Assim, o cinema permitiu que o caso tivesse um julgamento justo, quando a justiça falhou.
Perguntar-se-á: que tem isto a ver com a Matemática? Acontece que o realizador Jean-Stephane Bron mostrou que o inumerismo, o analfabetismo matemático, o iletrismo dos números precipitou a falência de milhares de famílias americanas. Estas, seduzidas pelos argumentos dos vendedores de sonhos e incapazes de fazerem contas, endividaram-se até ao pescoço.
Por outro lado, ainda há pouco mais de um ano, o CREDOC, o centro francês de pesquisa para o estudo e observação das condições de vida, mostrava que metade da população adulta francesa ignorava que, se colocasse 100 euros num banco, a uma taxa de 2%, iria ter, no fim de um ano, 102 euros. Se este inquérito tivesse sido realizado em Portugal, teríamos resultados melhores?
O analfabetismo matemático é uma doença que grassa numa parte significativa da sociedade tecnológica. Como explicar a aversão à Matemática por tantas pessoas… por tantos alunos? E qual o custo social deste analfabetismo?

                                                          Mário Freire