Em 2008, imediatamente
antes da bancarrota da Lehman Brothers que, segundo muitos, foi responsável
pela crise económica que estamos a viver, o presidente da câmara de Cleveland,
Estados Unidos, registou 21 queixas contra grandes bancos. Estes, através de
agentes pouco escrupulosos, venderam créditos e ilusões a muitas famílias que
desejavam ter casa própria e que, depois de a habitarem, foram obrigadas a perdê-la.
Muitas outras famílias, em outros países, Portugal incluído, percorreram
idêntico caminho.
Ora,
mercê do poder dos bancos de Cleveland, nenhuma daquelas queixas conseguiu
chegar a tribunal. Este facto inspirou o cineasta Jean-Stephane Bron a encenar
um julgamento fictício, apoiado pela administração municipal, com advogados,
juíz e testemunhas verdadeiros. Assim, o cinema permitiu que o caso tivesse um
julgamento justo, quando a justiça falhou.
Perguntar-se-á:
que tem isto a ver com a Matemática? Acontece que o realizador Jean-Stephane Bron
mostrou que o inumerismo, o analfabetismo matemático, o iletrismo dos números
precipitou a falência de milhares de famílias americanas. Estas, seduzidas
pelos argumentos dos vendedores de sonhos e incapazes de fazerem contas, endividaram-se
até ao pescoço.
Por
outro lado, ainda há pouco mais de um ano, o CREDOC, o centro francês de
pesquisa para o estudo e observação das condições de vida, mostrava que metade
da população adulta francesa ignorava que, se colocasse 100 euros num banco, a
uma taxa de 2%, iria ter, no fim de um ano, 102 euros. Se este inquérito
tivesse sido realizado em Portugal, teríamos resultados melhores?
O
analfabetismo matemático é uma doença que grassa numa parte significativa da
sociedade tecnológica. Como explicar a aversão à Matemática por tantas pessoas…
por tantos alunos? E qual o custo social deste analfabetismo?
Mário Freire