Além
da gratidão do aluno a quem o leccionou carinhosamente, há a salientar a
eficiência do professor e dos métodos utilizados, supostamente em resultado da
preparação na Escola Normal de Belém, em funcionamento desde 1816.
É
certo que o autor (José Silvestre Ribeiro) não fornece dados cronológicos sobre
a sua frequência escolar, mas nascido em 1807, o episódio poderá ter tido lugar
quando ele tinha cerca de 10/12 anos, isto é, por volta de 1817-1819, datas que
encaixam perfeitamente.
A
notícia publicada no Tomo III, a que me venho reportando, com o título de “Escolas de ler, escrever e contar nos
corpos de linha”, pp.224-235, contém muitas informações sobre o tema, que
enunciarei em seguida e remata com a informação de um litígio com a Sociedade
de Educação de Paris que teve o seu feliz epílogo no reconhecimento desta
Sociedade acerca da utilização do método mútuo em Portugal, como se pode
verificar pela trannscrição seguinte:
....”Desde o mês de Outubro de 1815, uma determinação da
Regência creou em Portugal escolas de ensino mútuo. Em 1817, achavam-se em
plena actividade; hoje estão florescentes. A ignorancia em que se estava da
existencia das escolas portuguezas, na época da ultima assembleia geral, nos
obrigou a deixal-as em silêncio; hoje corrigimos esta omissão, com o mais vivo
prazer. Em Outubro de 1818, eram frequentadas 55 escolas portuguesas por 3:843
discipulos, tanto paizanos como militares; a prosperidade destas escolas é de
feliz presagio para a propagação do método em todo o continente portuguez”.
Passemos
então a enumerar as Instruções para os Professores das Escolas de Primeiras
Letras dos Corpos de Linha do Exército, compiladas em Regulamento distribuido
aos professores, documento que tem a data de 29 de Outubro de 1816, assinado
pelo Secretário de Estado, Gregorio Gomes da Silva.
É
um documento de 10 páginas de formato A-4, muito minucioso em toda a
regulamentação, como se pode verificar pela leitura da “ TABOA DAS MATERIAS,
QUE FAZEM O OBJECTO DESTAS INSTRUÇÕES”:
“ Formação da
Escola......§ 1º
até....…….. .................... § 5º
Tempo
d’Aula....................................
..................... §
6º
Horas da Entrada, e
sahida d’ Aulas. ....§ 7º até... ...
§ 8º
Distribuição do tempo
d’Aula............ . § 9º até.......§ 10º
Compêndios das lições
d’Aula..............§ 11º .....até... ....§ 14º
Relação dos
Professores com os Comandantes dos
Corpos.§ 15º até § 16º
Escalas do Progresso
dos Discipulos.........§ 17º. até....§ 19º
Economia da
Escola............. §20º ............ até.......§ 23º
ExercíciosReligiosos.............§24º...............até §
29º
Autoridade dos Mestres
sobre os Discipulos .§ 30º.......
até.. § 31º
Premios dos
Discipulos.......§ 32º
..................até......§ 35º
Castigos dos
Discipulos........ § 36º ................ até...
..§ 39º
Deveres dos Mestres
para seus discipulos.. § 40º ..... até...§ 41º
Deveres dos Diccipulos
para seus Mestres.. § 42º
.....até § 44º
Como
se pode verificar pela simples leitura do sumário das matérias versadas no
Regulamento, o programa era rigoroso, devendo destacar-se o cuidado posto no
diagnóstico de cada aluno relativamente à sua situação no capítulo de instrução
em Leitura, Escritura, Aritmética, Etimologia, Sintaxe, Ortografia e Pontuação
da Língua Portuguesa - § 1º.
A partir dos
resultados obtidos, os alunos eram escalonados pelos diferentes graus, constituídos
por seis classes: Alfabeto, Silabário, Vocabulário, Leitura de frases e
períodos, Etimologia e Sintaxe e finalmente Ortografia e Pontuação - § 3º.
Era
também atribuída grande importância à disciplina de escritura, a par da
evolução no conhecimento da Língua Portuguesa, prevendo inclusivamente a
progressão no material de escrita a utilizar. areia, pedra ardósia e finalmente
papel. - § 4º.
O
testemunho legado por José Silvestre Ribeiro é, além de uma fonte histórica de grande
interesse no estudo da formação inicial de docentes, a prova da dificuldade de se iniciar o
discente na sua construção cultural,
pela aquisição dos instrumentos e ferramentas indispensáveis ao mundo
cognitivo.
José
Silvestre Ribeiro é um guia precioso para a nossa informação através da obra
monumental que nos legou:
- RIBEIRO, José
Silvestre - HISTORIA DOS ESTABELECIMENTOS SCIENTIFICOS LITTERARIS E ARTISTICOS
de PORTUGAL nos sucessivos Reinados da Monarquia - obra monumentoal de 18
volumes - TYPOGRAPHIA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS, LISBOA - 1871-1891.
transcrição retirada
do Tomo III, 1873, pp.225-226.
Francisco Goulão