segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CREDO ATEU


- Deus é mito; nada vale.
Fé não tenho e nunca tive.
Reza a Deus quem faz o mal.
Prega amor quem o não vive’…
.
- Meu irmão, pergunto eu
que presumo ser um crente:
Qual de nós o mais ateu?
Tal questão me tolda a mente.

Idolar, que é tão comum,
torna ‘Deus’ um pesadelo.
Dos maus crentes eu fui um;
não me tomes por modelo.

Face ao ‘Deus’ que foi o meu,
projecção da criatura,
é honesto ser ateu:
Deus não é caricatura.

Penso em ti, e muita vez…
Não será, irmão ateu,
que o não-Deus em quem tu crês
é mais Deus do que é o meu?

Se Amor há negado em ‘crentes’,
que se expressa nos ‘ateus’,
esse Amor que creio sentes,
me despoja do meu ‘Deus’,

Há um dogma em ser ateu;
vejo fé em teu não-crer.
Teu não-Deus ou Deus que é meu…
Qual dos credos escolher?…

Mais que tu serei ateu
no abismo grande, imenso,
entre o Deus que chamo meu
e o DEUS a quem pertenço.


Nesse abismo há sempre espaço
para o sim e para o não,
para o bem e mal que faço,
para a nossa convicção.

Só em ti a fé que tens?
Era o mesmo quanto à minha.
Te agradeço, pois que vens
pôr em causa a fé que eu tinha

No vazio que persiste,
há sinais de Quem vai vir.
Na certeza, quando existe,
algo há que vai ruir.

Mais que certo; nem duvido:
Só por mim a DEUS não vou.
Que caminhe em meu sentido
o Poder que me criou.

Grande ajuda, podes crer,
é teu não para o meu sim.
Haver DEUS ou não haver…
Guarda a prova para o fim.

Entretanto, meu irmão,
esperar em nada afecta.
Se Deus há, vai sua Mão
guiar-nos ambos para a meta.

Venha o Céu a ser Surpresa
para ti e para mim,
confundindo a certeza
do teu não e do meu sim.


                                                               João d’Alcor