domingo, 6 de maio de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 6


                                    Obstáculos a transformar

Volvendo ao princípio já referido de que podemos identificar e lidar com defeitos nas nossas qualidades e com qualidades nos nossos defeitos, há que considerar nestes um potencial não a eliminar, mas sim a transformar. Para tal se requer o seu reconhecimento, na linha da sinceridade. É neste espírito que a psicossíntese, atenta à síntese dos opostos, intende fazer uma utilização diferente de um potencial previamente mal identificado e aplicado. Sirva de exemplo um novo elenco, de forma a salvaguardar esse potencial.
Auto-suficiência – Esta se expressa num falso sentido de plenitude que nos impede de receber algo de que efectivamente carecemos. Há na auto-suficiência o paradoxo de um vazio disfarçado em plenitude. Serve de ilustração a história de um mestre Zen que insiste em verter mais chá na taça de um discípulo já totalmente cheia. Isto no intento de lhe demonstrar quanto, face a tal estado de rejeição, era um desperdício todo e qualquer ensino. Só do reconhecimento dos próprios limites poderá nascer a capacidade para os ultrapassar.
Competição – Uma vez concebida a vida como uma luta sobre nós próprios ou em rivalidade face a outrem, a tentação é destruir os obstáculos em vez de os usar como trampolim apto a facilitar o alcance determinado objectivo de auto-realização. Na própria disputa, o fundamental é o estímulo provindo quer do interior quer do exterior, sem antagonismo nem inveja. Da auto-identificação aliada à co-identificação provém o prazer da vida como um jogo, prevalecendo a máxima budista do tonglen em que se compartilham os méritos próprios e alheios.
Criticismo   Caracteriza-se este obstáculo pela carência de objectividade por exagero e demasiada atenção prestada às deficiências e erros alheios, esquecendo as virtudes e virtualidades. Presta-se ele à condenação dos demais, na ilusão de se catalogar a si mesmo no rol dos justos, ou ainda ao masoquismo, mediante uma auto-avaliação rígida e desmotivadora. Este tropeço se encontra não raramente aliado ao perfeccionismo e zelo incontido da verdade e da justiça que uma vez reconhecidos podem ser encaminhados para a compreensão e benevolência.
Discriminação – O erro deste obstáculo provém de um elitismo na identificação e classificação de pessoas e valores em que a subjectividade prevalece sobre a objectividade, fruto de preconceitos e causa de injustiça na graduação de qualidades e competências. Face à discriminação é imperioso o processo de  desidentificação conducente à auto-identificação e co-identificação.
            Dogmatismo – Esta tendência provém da estreiteza de espírito que anda aliada ao fixismo, ao misoneismo e ao exclusivismo, no sentido de absolutizar e impor ideologias e crenças. Face a uma tal tendência e comportamento, há que valorizar a energia da vontade, procurando relativizar as posições assumidas e fomentar a benevolência em favor de opiniões e convicções diferentes.

NB – Terá prosseguimento este elenco

                                João d’Alcor