domingo, 19 de fevereiro de 2012

CARNAVAL - ENSAIO



Pilhagem mascarada - Sistemas poluentes – Estado da Nação

                     (Trágico-comédia em três actos)


                                Primeiro Acto – Pilhagem mascarada

          Na política do bebes e comes, surge a sordidez do sistema económico ultraliberal, epidemia com berço na escola de Chicago e fora de controle. A concorrência chinesa, nos teores do idioma monossilábico, introduz, a gaguejar, o neologismo Xi-Ka-Go. Os  respectivos povos, de nariz apurado (e logo com estes os demais), muito ordeiramente, passam a protestar, frente à parada virtual, replicando a  cada chi-ca-gão, membro encarapuçado da seita macabra, mediante o slogan polifónico, em coro entoado : Pa-ra-ti-sim; pa-ra-nós-não !

                               Segundo Acto: Sistemas poluentes

          Os auto-eleitos do poder económico, persistem, aumentando progressivamente a acumulação e exportação dos produtos poluentes. Face aos protestos generalizados, inventam as máscaras, o que contribui para maior rentabilidade do sistema. Kiotos e Rios são embargados, agravando a situação do planeta e a degeneração das espécies. Os Verdes lamentam e promovem rituais a ter lugar nos oásis, invocando o deus Sol agente da fotossíntese. São porém confrontados com a privatização das águas, a nível planetário, impondo os transgénicos e incentivando a desertificação.

                                   Terceiro Acto: O Estado da Nação

          Na classificação das grandes impotências económicas, Portugal “ascende”ao pódio da lixeira. O Povo queixa-se do mau odor esgravatando nela algo que reduza a malnutrição. Acresce o ataque simultâneo provindo de duas pragas avassaladoras: a das sanguessugas e a das moscas. Triste e indignado, vale-se o Zé-povinho do Face-book, para uma campanha virtual contra a “A porca da política” sistema de alarme registado por um dos nossos clássicos. No lixo que se acumula, duas anotações são encontradas: A primeira, actual, de teor sócio-politico, consagrada ao turismo, promovendo a ida à Boca do Inferno. A segunda, já histórica, descrevendo e glorificando o feito insigne que fora o de transformar a “Porcalhota” em Amadora. Alucinada e saudosamente, surge um partido que anuncia e prepara o regresso de El-Rei Dom Sebastião.

                                           Perfazimento

          É obvia a gravidade da situação. A solvência, mais e mais alvitrada, passa pela identificação e chamada à pedra de todos e cada um dos autores, actores e promotores da crise, mormente quem, em regime de clandestinidade, sufla dicas e articula flexíveis marionetas. Trata-se, efectivamente, de obra de supostos talentos, massa cinzenta que a sociedade é chamada a recuperar e transformar. Surge a campanha em favor da sua reeducação, para benefício da colectividade e do habitat universal, em prol da reeducação dos delinquentes, humanitariamente colocados em regime preventivo. Ecologia é o mote e o apelo, garantindo efeito regenerador em cada  lucro-dependente e com impacto positivo no que toca à mãe Terra e à Comunidade universal.

          Em regime de ludo-terapia e situação de emergência, o Carnaval vai passar para o Domingo gordo, clássica e piedosamente celebrado na liturgia cristã, estando comprovado que é saudável a ementa barriga cheia e bom humor, como contrapeso do jejum, Esta uma concessão dominical política e religiosamente indulgenciada, figurando porém, em rubrica do decreto comum, que magros passam a ser, para já, todos os dias da semana, inclusas, obviamente as terças feiras. Para as festividades do Carnaval antecipado há cânones e decretos prescrevendo o cerimonial do bolo. Obrigatória é a cereja no topo, sendo esta associada a cuidados paliativos. Tal sobremesa, secretamente registada como placebo, é recomendado para todas as idades, ficando isenta de IVA e a distribuir gratuitamente. É aconselhado o travesti na roupagem de todos os participantes, de preferência garrida e rota, dado o bom humor obrigatório nas festividades e o simbolismo alegórico referente à penúria nacional. Por lei, estará patente o Livro de Reclamações, sendo, nas filas dos utentes, dada prioridade aos descalços e aos analfabetos.

                                           João d’Alcor