Amor e Política
Retomando o XXVII Encontro da Pastoral Social, citado no primeiro artigo desta série, um dos temas ali tratados foi o do Amor Político.
Ora, a Política é a ciência e a arte de governar. Ela deveria implicar um conjunto de princípios e de metas que servissem de guia para a tomada de decisões. Quanto ao Amor, a palavra é usada com múltiplas significações, algumas das quais, até, com sentido antagónico. No entanto, parece existir um verdadeiro amor quando alguém está disposto a dedicar-se a outrem, sem estar à espera de pagamento, indo essa dedicação, por vezes, até ao sacrifício da própria vida. Pessoas há que têm manifestado esse amor de forma gratuita e que dedicaram as suas vidas ao serviço daqueles que mais precisam.
A Política deveria ser a forma mais exigente de viver a caridade, de fazer o bem, de promover o desenvolvimento dos povos, de respeitar as pessoas na sua dignidade. Um político, em primeira instância, tem que atender aos mais fracos, aos que não têm poder de reivindicação, aos pobres, aos desprotegidos.
Um político não pode estar à espera que o tempo passe, a observar os acontecimentos, a ser um agente passivo na sociedade. Ele tem que actuar no sentido de estabelecer a justiça social, de ser verdadeiro e de exigir a verdade, de propiciar a liberdade e de visar o Bem Comum. Para isso há que ter coragem e ser coerente com os princípios que apregoa.
Mas, acima de tudo, o político tem que sentir como próprias as carências dos outros. Tem que saber onde elas se encontram, como foram geradas e tentar o melhor modo de lhes fazer face. O que é isto, afinal, senão o Amor na sua forma mais oblativa?
É certo que qualquer cidadão, se a sua vida é pautada pela ética e pela caridade, os seus comportamentos estarão em conformidade com esses valores. Mas estes implicam responsabilidade, disponibilidade, empenho, coragem, contrariedades, sacrifício...
Como interpretar, então, que muitos, ao longo dos tempos e em todos os lugares, tenham querido ser políticos? É que a política está associada ao poder e este, se não for temperado por aquelas disposições, presta-se à corrupção, à ganância, ao autoritarismo, ao despotismo… Um político, um político genuíno, tem que ser livre, saber dizer não e, igualmente, em qualquer altura, quando sente que já não tem as condições que lhe permitem pôr o amor acima das circunstâncias, desprender-se do poder.
Mário Freire