segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE - 4



                         Da responsabilidade individual à gratuitidade

           
            Em Direito, ser-se responsável significa que se responde pelas consequências dos próprios actos. Exceptuando as acções que possam ser atribuíveis a disfunções psicológicas graves, a coacções intensas ou a circunstâncias adversas que ponham em causa o livre-arbítrio, uma pessoa torna-se responsável por aquilo que faz. 
            Mas o termo responsabilidade tem um âmbito mais lato. Ele, numa forma mais compreensiva, implica, igualmente
- cumprir os compromissos que foram assumidos e que não ofendam a ética;
- tentar dar resposta aos problemas que nos são solicitados;
- ajudar voluntaria e gratuitamente a solucionar situações problemáticas que, não tendo directamente a ver com elas, sentimos que podemos contribuir para as resolver ou minorar. 
A responsabilidade individual apresenta-se, pois, segundo vários níveis de exigência pessoal, passando da simples (mas nem sempre visível!) situação de assunção das consequências pelos actos praticados até à obrigação ética que se sente em intervir, voluntaria e gratuitamente, a favor da resolução ou atenuação de problemas ou de situações penalizantes.
Ora, praticar a gratuitidade num tempo em que o lucro parece comandar os comportamentos individuais e sociais; em que os interesses económicos são colocados, predominantemente, acima das pessoas e dos valores; em que a política se subordina às finanças, certamente que falar dessa prática não será tema que suscitará grande atractividade.
Há muitas maneiras de praticar a gratuitidade:
- O político que coloca acima de todas as suas metas o bem comum; que não enriquece no exercício do poder ou que não se serve dele para, depois, ganhar proventos que, de outra maneira, não alcançaria; que não olha para o tempo que gasta na tentativa de resolver os problemas; que põe todo o seu empenho e mobiliza vontades para atingir os objectivos a que se propõe.
- O empresário que consegue gerir a sua empresa com lucro e que tem como principal preocupação, mais do que o enriquecimento pessoal, o crescimento e consolidação da sua empresa, o desenvolvimento económico e social dos seus colaboradores e do país, promovendo a criação de emprego ou evitando despedimentos de colaboradores competentes, ainda que prescindindo de alguma receita.
- O trabalhador que olha tanto ou mais para os deveres do que para os direitos; que não se sente vítima das circunstâncias; que tenta cumprir as tarefas que lhe são exigidas da maneira que melhor sabe e pode, não fazendo do trabalho um meio de apenas ganhar dinheiro mas uma oportunidade de se valorizar e valorizar a comunidade.
- O reformado, o desempregado… que dá o muito ou o reduzido do seu tempo disponível, do seu saber, do seu afecto na ajuda aos que precisam ou aos que sofrem.
O exercício de todas estas formas de responsabilidade contribuiria, certamente, para fazer desta terra em que vivemos um mundo melhor. 

                                       Mário Freire