quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A MÚSICA E O SUCESSO ESCOLAR

Um aluno com insucesso é alguém que não se adapta ao modelo pedagógico que a escola lhe propõe, não se integrando quer nos conteúdos, quer na forma como o ensino lhe é apresentado. A criança ou jovem problemáticos vêem a aprendizagem como algo fastidioso e estranho aos seus interesses e experiências.            
            Ora, a música poderá ser aquele factor motivacional que é susceptível de prender um aluno com insucesso escolar, levando-o a trilhar outros caminhos no mundo do conhecimento e do comportamento. Foi assim que, já há alguns anos, se iniciou na Venezuela um Projecto que tem tido os melhores resultados. E é isso que está a acontecer na Amadora. O Conservatório Nacional, junto de 17 escolas espalhadas pelo País, englobando cerca de mil alunos, está há quatro anos a desenvolver o Projecto Orquestra Geração, semelhante ao venezuelano. 
            Um Projecto deste tipo, indo ao encontro da tendência natural do aluno para a actividade, e oferecendo-lhe, quase de imediato, uma gratificação pelo acto que executa, proporciona-lhe vários benefícios em diferentes áreas da personalidade, entendida esta no seu sentido mais amplo. Assim:
            - crianças e jovens de etnias diferentes têm a possibilidade de conviver e descobrir, de maneira harmoniosa, as suas diferenças mas também aquilo que têm em comum;
            - uma orquestra é um grupo de pessoas que trabalha em harmonia, sob a direcção de um maestro. Esta circunstância, de trabalhar em grupo e das vantagens que daí decorrem, pode ser transferível para a turma como grupo. Igualmente, aceitar-se uma autoridade para se atingir um fim benéfico pode conduzir a que a disciplina na sala de aula assuma formas mais comprometidas com a aprendizagem;
            - uma criança ou adolescente que, a pouco e pouco, vai descobrindo que o sucesso do seu trabalho está dependente do sucesso do grupo e vice-versa, tenta esforçar-se mais; e desse esforço resulta a execução de uma obra que pode ser apreciada publicamente. Ora, isso traduz-se num reforço da auto-estima que irá repercutir-se numa maior auto-confiança e, consequentemente, ter efeitos positivos noutras áreas da aprendizagem. Foi isso que aconteceu na experiência venezuelana, em que alunos com graves problemas de aproveitamento e comportamento escolares passaram a ser alunos exemplares;
            - o Projecto proporcionou um ensino artístico a quem, muito provavelmente, a ele não teria acesso;
            - finalmente, as crianças e os jovens, levando os instrumentos para casa, sendo responsabilizados por eles, terão mais possibilidades de aproveitar os seus tempos livres noutras actividades que não sejam a de vadiarem na rua ou, em casa, de estarem ligados à televisão ou ao computador.
            Talvez as entidades escolares devessem reflectir um pouco mais sobre os custos e os benefícios de projectos deste tipo, não só sob o ponto de vista estritamente orçamental, o que talvez já significasse uma compensação significativa mas, fundamentalmente, de natureza humana. Imagine-se, com o dinheiro que se gastou em computadores para o 1º ciclo, com efeitos duvidosos na aprendizagem, nestas idades, quantos instrumentos musicais poderiam ser comprados!
                                                                                                   Mário Freire