domingo, 25 de setembro de 2011

1911 - 2011 - CENTENÁRIO DO HINO NACIONAL PORTUGUÊS - 1



                                                Letra interditada

Sabido é, em geral, que a letra e música do Hino Nacional Português provêm directamente de A Portuguesa, marcha composta em finais do século XIX. Menos conhecidos serão a proibição a que esta foi sujeita e os detalhes da sua evolução quanto à letra, estando nesta, mais precisamente, o fulcro da interdição. A Portuguesa é fundamentalmente um protesto contra a hegemonia inglesa e constitui oposição política à cedência da monarquia portuguesa relativamente ao Ultimato Inglês. Datado este de 11 de Janeiro de 1890, veio forçar Portugal a retirar-se da zona do designado Mapa-Cor-de-Rosa, território africano entre as colónias de Angola e Moçambique. Cedeu à imposição o rei Dom Carlos, mas reagiu ao ultraje o movimento de ideologia republicana.
Logo na noite da data da cedência, o compositor romântico Alfredo Cristiano Keil se dispôs a compor, como protesto patriótico a marcha musical designada A Portuguesa. Fora esta decisão alvitrada e tomada em reunião em que estavam presentes o artista Rafael Bordalo Pinheiro e o escritor Joaquim Teófilo Fernandes Braga, futuro Presidente da República. Por sua vez, o poeta lírico Henrique Lopes de Mendonça, oficial de Marinha, aceitou colaborar com letra adequada à música da marcha. Quase de imediato, se passou à difusão da marcha, em tom de campanha, mediante milhares de cartazes e folhetos, sendo a referida letra traduzida em várias línguas, incluído o dialecto mirandês. A 19 de Março do mesmo ano, se efectuara um grande concerto no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, com destaque para a referida marcha patriótica. A 31 de Janeiro do ano seguinte, 1891, dá-se, na cidade do Porto, a Revolução Republicana que adopta por seu hino A Portuguesa. A dita rebelião e golpe de Estado fracassou e o referido hino porque optara veio a ser superiormente proibido. Em causa mais directa  da interdição estava a letra, designadamente o teor do refrão, terminando este, nos termos originais, com o seguinte apelo; Contra os Bretões marchar, marchar. Em apontamento posterior se dará conta do fenómeno em que das cinzas de bélico ‘soneto’ surge, como emenda, um monstro ainda hoje por domar.

                                                                                João d’Alcor