sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 11

                                   
                                   (A propósito de uma exposição)

                                             O Ensino Superior

            O Ensino Superior mereceu uma especial atenção aos homens da 1ª República. Eles entendiam, como se diz em Educar, o livro-guia da Exposição cuja visita suscitou esta série de artigos, que se “tornava necessário acabar com o quase-monopólio que a Universidade de Coimbra exercia no Ensino Superior, pelo que, para cumprir o seu alargado programa educativo, os republicanos criaram mais duas universidades, no Porto e em Lisboa”.
            Sempre as universidades foram, pela natureza das pessoas que a constituíam, um meio propício para a eclosão de ideias inovadoras, de não acomodação com o statu quo político e social que, ganhando amplitude, se poderiam alastrar à sociedade em geral. Neste sentido é curioso assinalar o que disse Sidónio Pais na Oração de Sapiência de 16 de Outubro de 1909, na altura da abertura solene da Universidade de Coimbra onde era professor de Matemática: “ A Universidade de Coimbra precisa de tomar um partido – ou é pelo passado, pelo espírito de rotina, pela reacção, enfim, e tem de morrer; ou é pelo progresso, pelo espírito científico, e pela liberdade, e tem de buscar em si própria a potência criadora, que há-de, por uma transformação radical, torná-la o primeiro centro de educação da mocidade portuguesa” (do blog De rerum natura).
            Com a Implantação da República, a Universidade quis sair do marasmo em que se encontrava. Assim, em Lisboa, a partir da agregação de várias escolas superiores já existentes (a Real Escola de Cirurgia, a Escola Politécnica e o Curso Superior de Letras), constituiu-se em 1911 a Universidade. O Instituto Superior Técnico e o Instituto Superior do Comércio foram, como se viu no número anterior, criados igualmente neste mesmo ano.
            Relativamente à Universidade do Porto, embora as suas raízes provenham do séc. XVIIII, é no séc. XIX que se criam a Academia Real da Marinha e do Comércio, a Régia Escola de Cirurgia, a Escola de Farmácia, a Academia Portuense de Belas Artes e a Academia Politécnica. Com a reforma da 1ª República é, então, fundada a Universidade com as Faculdades de Ciências e de Medicina.
            Tentou-se, ainda, que a universidade portuguesa tivesse um pendor menos teórico e que pusesse em prática um método de trabalho mais experimental e menos retórico.
            Mas aquelas declarações de Sidónio Pais, mesmo após a Implantação da República, continuaram a ser o desejo não cumprido do papel da Universidade, com honrosas excepções. Retiro ainda de De Rerum Natura aquele (não) episódio, a propósito da passagem de Einstein por Lisboa, onde desembarcou, por duas vezes, a caminho do Rio de Janeiro e no seu regresso, em 1925, já Prémio Nobel da Física, desde 1921. Ora, este cientista foi completamente ignorado quer pela comunidade científica portuguesa da altura quer pela sociedade nacional. Em contrapartida, ele foi recebido com todas as honras no Brasil.
            Passados cem anos, a Universidade Portuguesa de hoje tenta em muitos cursos ombrear-se com as melhores universidades do mundo. Aprendeu com os erros e soube sintonizar-se com os novos tempos!
      
                                                                                              Mário Freire