terça-feira, 30 de julho de 2013

DILIGÊNCIA



Quer no ócio quer na acção,
curioso é notar
que a palavra obrigação
não é fácil de aceitar.

Surge de um lado o a tempo e horas
que se impõe entrando em liça.
Lado oposto o das demoras
vem dar jus sempre à preguiça.

Posição inconfortável
qualquer delas. Tão oposta
uma e outra é na vivência.

Uma opção que creio louvável
tenho por lema, em termos de aposta:
Devoção na diligência.

João d’Alcor


domingo, 28 de julho de 2013

O LEGADO DO CONDE FERREIRA - 10



António Roxo na sua Monografia de Castelo Branco, em 1890 faz-lhe uma referência, não contextualizada, sem fundamentação, na página 60, que aponta uma crítica à localização, nos seguintes termos: “Foi este edifício feito com o fim de servir de liceu, mas  a posição mal escolhida e as poucas proporções do edifício para tal fim vieram em breve tempo provar que isto era uma utopia. O edifício, sendo pequeno para liceu, é grande de mais para duas escolas. Principiaram as obras em 1867, havendo-se gasto a quantia de 5:438$910 réis, despesa que mais significa um desperdício do que um acto de boa administração municipal”.
Sem querer entrar em polémica metodológica e na discordância da informação, não deixarei de estranhar a falta de referência ao destino do testamento do legado do Conde Ferreira, que exigia como condição imprescindível a utilização exclusiva do edifício como escola do ensino primário e popular e nunca admitindo nele a instalação do ensino liceal destinado a um grau mais elevado e por isso acessível somente a candidatos com maior poder económico.
Por outro lado parece justa a crítica quanto à topografia da cidade e à sua inacessibilidade ao castelo, a parte mais elevada da cidade. Sabemos por experiência como se foi processando o crescimento da cidade ocupando gradualmente a encosta e evoluindo para o sopé circundante.
De facto não foi feliz a escolha para localização da primeira escola primária da cidade, que terá provavelmente sido utilizada durante algum tempo para a finalidade inicial, mas com pequena duração. A Escola Normal, designada Escola de Habilitação para o Magistério Primário foi instalada neste edifício construído com o legado do Conde Ferreira contra a vontade de alunos, professores e empregados. Assim que surgiu uma alternativa, deu-se a mudança para a zona baixa da cidade. Disso nos dá conta uma notícia do semanário Notícias da Beira , que é do seguinte teor:
“ A escola de ensino normal funciona, desde o dia 2 do corrente, no antigo edifício do paço episcopal, onde, por determinação do Governo da República, foi instalada, bem como o liceu central desta cidade.
É um melhoramento importante porque a antiga instalação da Escola do Castelo tornava-se inconveniente pelo difícil acesso e distância do centro da cidade”.


                                             Francisco Goulão

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A PIRÂMIDE DAS NECESSIDADES - 1



O psicólogo americano Abraham Maslow, na tentativa de explicar o nosso comportamento e a motivação que lhe está subjacente, elaborou uma pirâmide hierárquica de necessidades e explica que quando uma das necessidades não está satisfeita, o sujeito é levado a agir para a satisfazer.
Um exemplo simples pode ser o de quando temos sede, fazemos o que está ao nosso alcance para bebermos água. O que nos motiva a agir é precisamente sentir uma necessidade por colmatar. Quando tal não acontece, abre-se o espaço para a frustração, a qual pode ser manifestada de várias formas: agressividade, nervosismo, ansiedade, apatia, depressão, passividade, resistência à mudança, e por aí adiante.
Maslow divide as necessidades humanas em 2 níveis: as necessidades básicas e as necessidades do ser, cada uma delas composta por quatro tipos de necessidades.
Vejamos as necessidades básicas:
1) Necessidades fisiológicas: alimentação, água, sono, ar. Se estivermos a afundar tentaremos de todas as formas possíveis vir acima para conseguirmos respirar. A vontade de sobreviver é a motivação que nos leva a agir e a combater o sufoco.
2) Necessidades de segurança: trata-se de segurança física (fechar a porta de casa), mas também segurança psíquica (manter um emprego embora não se sinta satisfeito ou manter uma relação apesar de já não se sentir feliz).
3) Necessidades de amor e relacionamentos, as quais se podem classificar também como necessidades sociais, pois tem a ver com as relações interpessoais. Todos procuramos afeto, aceitação e satisfação na relação com os outros. Quando não o conseguimos, tendemos ao isolamento e à solidão.
4) Necessidades de estima, que inclui o desejo de ser reconhecido e aceite pelos outros. Diz respeito à reputação que temos, ao que os outros pensam de nós e como nos veem, mas também à autoconfiança, isto é, a como nós nos vemos a nós próprios.

Continua…

Rossana Appolloni

http://www.youtube.com/watch?v=yM8SwZkvCIY



quarta-feira, 24 de julho de 2013

A REPETIÇÃO DE ANO NO PRIMÁRIO


            Foi pedida recentemente, em França, a supressão da repetição de ano ao nível do ensino primário. Esta reivindicação, embora não tivesse sido aceite, é apoiada por trabalhos de diversos especialistas que estão convencidos da inutilidade da repetição de ano.
            Ora, esta repetição, ao nível do ensino primário, enforma de, pelo menos, três equívocos: com o tempo o problema acabará por solucionar-se; o aluno reinicia o estudo das mesmas matérias, com idênticos métodos e nos mesmos tempos; a criança é culpabilizada pelo seu insucesso.
            Fazer repetir um ano a uma criança significa dizer-lhe que ela tem menores capacidades que as outras; é estigmatizá-la e segregá-la; é retirar-lhe confiança em si própria e imprimir-lhe marcas psicológicas que, porventura, irão ficar-lhe pela vida fora.
              Muitos professores, porém, manifestam-se contra a supressão da repetição de ano porque isso induziria, segundo eles, uma dificuldade em fazer trabalhar o aluno. Tal reacção tem subjacente a perda de poder que aparece ao professor como desestabilizadora; o clima de ameaça que impenderia sobre o aluno seria, assim, uma protecção do próprio sistema.
            Mas se a repetição de ano acarreta graves inconvenientes para a criança, a solução será a transição automática? Tal não parece resolver o problema pois isso seria contribuir para a perpetuação do analfabetismo e para o insucesso na vida.
Há, pois, a nível de escola (e do sistema educativo!) que encontrar as soluções que melhor respondam às dificuldades do aluno. E isso passa por se fazer um diagnóstico dessas mesmas dificuldades, tentando, depois, encontrar os meios para recuperar os deficits, dar mais tempo para certas aprendizagens, chamar os pais a colaborar (ou, em casos extremos, procurar os próprios pais), solicitar apoios fora da escola, dentro ou fora do Ministério da Educação...
Enfim, a escola tem um papel crucial, que não é fácil, na recuperação dos alunos em dificuldades. A solução, porém, não pode passar pela repetência pois esta é um instrumento da manutenção das desigualdades sociais mas, acima de tudo, uma violência psicológica em relação à criança.

                                             Mário Freire


segunda-feira, 22 de julho de 2013

DIGNIDADE


Tem a ver com dignidade
tudo quanto dignifica.
Pleonasmo, é na verdade,
se não passa de uma dica.

Definir qualquer virtude
risca ser passar-lhe ao lado.
Melhor é, como atitude,
sobre tal ficar calado.

Dignifica na verdade
que, sem foros de vaidade,
se demonstre pelo exemplo.

Seja eu digno de tentar
tal nobreza, ao m’inspirar
nos modelos que contemplo.

João d’Alcor


sábado, 20 de julho de 2013

ESTUDAR NO ESTRANGEIRO


Notícias recentes davam conta que as receitas geradas pela presença de estudantes estrangeiros em Portugal poderiam vir a ultrapassar as que são geradas pela exportação de vinho nacional.
A globalização também chegou à educação: o número de estudantes a frequentar escolas fora do seu país tem aumentado rapidamente. Viagens mais baratas e comunicações mais fáceis levam os jovens a procurar qualificações que lhes permitam entrar mais facilmente no mercado de trabalho.
Mas não são eles os únicos beneficiários: os países de destino têm benefícios financeiros e os países de origem recebem de volta os seus jovens habilitados com novas competências.
São os países asiáticos, nomeadamente a China e a Índia, que mais incentivam os seus estudantes a estudar no estrangeiro. Em contrapartida, são os países ocidentais, em particular os de língua inglesa, os mais procurados. A formação escolhida é muito variada e é, com frequência, de nível avançado.
Com a vasta oferta que existe actualmente, os estudantes devem ter em atenção não só o país e o ranking da instituição a seleccionar, mas também os custos. De facto, as propinas estão a aumentar, com a maioria dos países a cobrar valores mais elevados aos alunos estrangeiros. Contudo, propinas elevadas podem não ser um impedimento, em especial se há possibilidade de obter uma bolsa de estudo ou de trabalhar em tempo parcial.
Mas há ainda outros factores que poderão condicionar os estudantes estrangeiros tais como a língua e as leis de imigração. Atendendo a que os países de língua inglesa são muito atractivos, verifica-se que outros países não anglófonos oferecem cursos em inglês para, desse modo, atrair mais alunos. Outros adaptaram as leis de entrada e de permanência no país. Deste modo destinos tradicionais estão a perder popularidade, a favor de novos destinos.
             Cada vez mais os estudantes estrangeiros são vistos como um bem quer para os países quer para as instituições que os acolhem. Como pagam os estudos e a estadia, poderão beneficiar a economia durante ou mesmo após a sua permanência no país. Os estudantes estrangeiros poderão também contribuir para melhorar a competitividade dos países e das instituições e, duma forma mais alargada, do mundo global em que todos vivemos.

                                                         FNeves


quinta-feira, 18 de julho de 2013

GEOPOEMA


Num artigo publicado online pela revista Geology, em Junho de 2013, dá-se conta da recente descoberta, ao largo da costa de Portugal, de uma possível zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação. Tal significa que daqui a uns 200 milhões de anos, o Oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e que as massas continentais da Eurásia e da Laurência se voltarão a juntar num novo supercontinente. Neste trabalho, assinado por João Duarte, geólogo português a trabalhar na Universidade de Monash, na Austrália, e a sua equipa, juntamente com António Ribeiro e Filipe Rosas, da Universidade de Lisboa, Pedro Terrinha, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, e, ainda, Marc-André Gutcher, da Universidade de Brest (França), são revelados os primeiros indícios de transformação da margem sudoeste ibérica (uma margem passiva, do tipo atlântico) numa margem activa, do tipo pacífico.
Há mais de três décadas, em 1979, no 1º Encontro de Geociências, reunido em Lisboa, António Ribeiro, surpreendeu os presentes, ao apresentar a comunicação a que deu o nome de ”Geopoema”. Numa antevisão notável, este geólogo que, já então, se distinguia entre os seus pares pela excelência do trabalho que produzia, anunciava que o Atlântico iria começar a fechar, que, daqui a uns milhões de anos, engoliríamos os Açores e, que, passados mais um ror deles, a Eurásia cavalgaria a América do Norte, imaginando, em jeito de brincadeira, “a estátua do Marquês do Pombal sobre a estátua da Liberdade”.

A M Galopim de Carvalho

Lisboa, 10. 07.2013