Na maior parte das
instituições sejam elas a família, a escola, a empresa, existe uma relação de
poder entre os elementos que as constituem. Na família essa relação pode
assumir várias formas. Se há um poder de um dos elementos do casal que tudo
decide, sem fazer participar o outro nas decisões, é natural que essa relação
estiole e acabe por morrer. Se o poder do casal se diversifica e se compartilha,
então esta união tem melhores condições para se manter e contribuir para a
felicidade desse casal.
Há, também, relações
de poder entre pais e filhos. Por que razão se diz hoje que muitos pais se
demitem da sua função de educadores? Porque sobre eles se exerce um poder – o
dos filhos – a que são incapazes de resistir. Para isso, é preciso saber
dizer-lhes não. E tal significa que o
não, para que possa ter eficácia e
não ser mais um elemento perturbador da relação pais-filhos, seja proferido com
convicção, com inteligência e com afectividade. Com convicção, de modo que não
fiquem quaisquer dúvidas aos filhos de que o que é dito é para ser cumprido,
dando-se, porém, alguma abertura a pequenos ajustamentos, perante as razões
invocadas, no caso de filhos adolescentes. Com inteligência, de modo que se
esclareçam as razões da negativa, que se dêem a conhecer os argumentos que
levem à decisão tomada pelos pais. Com afectividade, de modo que as maneiras de
apresentar a negação sejam serenas e cordatas.
Ora, de certo modo, as
relações de poder dentro da família, são equivalentes aquelas que se passam
dentro da escola e, muito especialmente, dentro da sala de aula.
Se uma criança ou
adolescente está habituado a fazer aquilo que deseja dentro de casa, que lhe
satisfaçam todos os seus caprichos, como é que se submeterá às regras da escola?
O professor e a professora têm que ser, pois, em certa medida, pais dos seus
alunos. Eles não podem dizer sim a
certas solicitações inapropriadas, não devem permitir que a sala de aula se
transforme em campo de futebol. Por outro lado, o seu poder tem que ser firme
mas humanizado, adaptar-se às circunstâncias específicas e, sempre que
possível, proporcionar a participação dos elementos que constituem a sua comunidade,
na tomada das decisões. Administrar os poderes com sabedoria, quer na família,
quer na escola, é contribuir para a harmonia de cada uma destas comunidades e auxiliar
no desenvolvimento social e psicológico dos filhos e dos alunos.
Mário
Freire