sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

O 1º CICLO DO ENSINO BÁSICO E O SUCESSO NA VIDA





Já nestas crónicas tive ocasião de referir a importância que o ensino básico e, muito especialmente, o 1º ciclo, têm no sucesso escolar que se lhe segue. Vários estudos têm apontado nesse sentido. Refiro-me, agora, a um mais recente, “Atlas da Educação – Contextos sociais e locais do sucesso e insucesso”, publicado já este ano, da responsabilidade do Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova em parceria com os Empresários Pela Inclusão Social.
No documento diz-se que “o atraso acumulado ao longo dos trajectos escolares tende a acentuar os determinismos sociais do insucesso”. Exemplificando: uma família com funcionamento problemático, com um ou vários casos de desemprego no seu seio, tem condições para gerar insucesso escolar; ora, o insucesso que daí advier poderá acumular-se ao longo da escolaridade e tenderá a acentuar a disfuncionalidade da referida família.
O documento propõe intervenções remediativas e preventivas para combater os atrasos escolares. As primeiras, visando o insucesso e o abandono, incidem, fundamentalmente, no 3º ciclo ou no secundário e traduzem-se, muito frequentemente, num êxito reduzido. Há, então, que privilegiar a intervenção precoce, de natureza preventiva, essencialmente, no 1º ciclo mas, também, na transição para o 2º e deste para o 3º.
Ora, é fundamentalmente nos primeiros quatro anos de escolaridade que se joga o êxito escolar mas, também, o êxito na vida. Aprender a leitura significa entender aquilo que se lê. Quantos alunos não utilizam os livros de texto das diferentes disciplinas dos 5º, 6º, 7º anos por não perceberem o que neles se contém?! Quantos alunos dos 2º e 3º ciclos não conseguem expressar por escrito uma ideia por não terem aprendido a redigir um texto, segundo as regras básicas da gramática?! Quantos insucessos na matemática por não se terem aprendido (e memorizado!) aquelas noções básicas de cálculo?! Isto não significa que os professores do 1º ciclo não se esforcem para ensinar o melhor que podem. O que acontece é que uma escola democrática e inclusiva, a par de óbvias vantagens, traz consigo problemas de natureza extra-escolar que só com estratégias e meios a nível central ou regional, mas que atendam às realidades locais, podem fazer face aos 35% dos alunos que têm, pelo menos, uma reprovação e ao desperdício de 250 milhões de euros por ano que essas reprovações acarretam ao Estado. Não contando com os danos pessoais e sociais que estes atrasos acarretam!


                                                                 Mário Freire