terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

CONSUMIR É SER FELIZ?




Na sua mais recente campanha internacional, a Coca-Cola recorda que há 125 anos que
 inspira momentos de felicidade. Em 2009 lança a campanha mundial Open Happiness em que explicitamente identifica a abertura da felicidade com a abertura de uma garrafa de Coca-Cola. Em quase toda a parte onde tem negócios, do terceiro mundo aos países asiáticos, a Coca-Cola introduz anúncios televisivos em que apelida as máquinas de venda do seu refrigerante de máquinas da felicidade. Apesar de ligeiras variantes, em que cada filme publicitário procura tirar partido de elementos de cultura local, o discurso da marca centra-se invariavelmente no sofisma que beber Coca-Cola é sinónimo de felicidade.
Esta confusão deliberada entre um prazer momentâneo e um sentimento profundo que toca a complexidade do ser humano só é possível devido a uma estratégia comercial que distorce a perceção que as pessoas têm de felicidade. É claro que não há nada de errado em nos sentirmos satisfeitos com o seu consumo ou utilização seja de que produto for, desde que o façamos com moderação. Porém, é importante termos consciência que a felicidade deriva de um ideal de vida que se constrói com paixão e cujo processo não se realiza nem se esgota num prazer momentâneo. A felicidade elabora-se na relação afetiva com as pessoas e não na relação fútil com os objetos.
Se acreditarmos que é o consumo indiscriminado que nos torna felizes, então teremos de estar permanentemente a comprar coisas de que não precisamos ou que não podem ter consequências nefastas para a saúde ou para a bolsa. É precisamente na produção metódica desta ilusão – que associa a felicidade ao consumo – que aposta uma parte relevante da publicidade atual, utilizando para tanto afirmações incorretas e metáforas subtis produzidas em grande apuro técnico e imaginação. Podemos concluir que, por norma, qualquer anúncio que prometa a felicidade instantânea através de um produto pode ser considerado publicidade enganosa. A felicidade não é um brinde, não se compra, nem se vende, é fundada por cada um de nós no mais íntimo da nossa existência.

Rossana Appolloni

www.rossana-appolloni.pt