Os alunos oriundos de
meios desfavorecidos deparam-se, de uma maneira geral, com maiores obstáculos
na aprendizagem escolar do que os outros.
Um debate levado a
cabo por Le Café Pédagogique, um site francês de actualidade pedagógica,
sobre a temática Aprender a ler, escrever
e contar, veio relembrar tal realidade. Nele se afirmou que a escola não
encontrou ainda meios de ajudar, suficientemente bem, esses alunos cujas
condições económicas, sociais e culturais são problemáticas.
Ora, no meu contacto recente
com esses adolescentes, alunos dos 5º, 6º e 7º anos, verificava que eles tinham
dificuldade em ler e, muito mais dificuldade, ainda, em compreender aquilo que
liam. Se lhes pedisse que resumissem oralmente um pequeno texto, começavam a
balbuciar. A dificuldade aumentava quando lhes solicitava um resumo por
escrito. Ora, assentando o estudo, em casa, naquilo que se lê, perguntava-me
como é que esses alunos poderiam compreender o que estava escrito nos manuais,
fossem eles de Português, Ciências, Matemática…! Como é que esses alunos
poderiam memorizar os conceitos, relacioná-los e aplicá-los se eles, tão pouco,
conseguiam ler adequadamente e compreender um simples texto!
O impacto das
dificuldades da leitura nas diferentes disciplinas é, pois, crucial para a
compreensão das mensagens que se inscrevem num texto, seja ele de que
disciplina for. Ora esta ideia ficou bem reforçada no debate levado a cabo no site atrás referido. Claro que este
impacto, além de causa de insucesso, é também uma consequência de factores
extra-escolares de outra natureza. Tal, porém, não deve descurar a preocupação
de trabalhar suficientemente a aprendizagem da leitura e de aplicar os melhores
métodos e técnicas para cada uma das disciplinas escolares.
Sem pôr de parte a
importância de uma boa pré-escolaridade, onde se prepara cognitivamente (e não
só!) a criança para a aquisição de conceitos fundamentais, é, na verdade, no 1º
ciclo do ensino básico que a criança devia adquirir os requisitos fundamentais
para as aprendizagens posteriores. Criar as condições para que tal aconteça,
eis um desígnio que os agentes educacionais e políticos não deveriam esquecer.
Mário
Freire