segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A LEITURA E O SUCESSO ESCOLAR

                     

Os alunos oriundos de meios desfavorecidos deparam-se, de uma maneira geral, com maiores obstáculos na aprendizagem escolar do que os outros.
Um debate levado a cabo por Le Café Pédagogique, um site francês de actualidade pedagógica, sobre a temática Aprender a ler, escrever e contar, veio relembrar tal realidade. Nele se afirmou que a escola não encontrou ainda meios de ajudar, suficientemente bem, esses alunos cujas condições económicas, sociais e culturais são problemáticas. 
Ora, no meu contacto recente com esses adolescentes, alunos dos 5º, 6º e 7º anos, verificava que eles tinham dificuldade em ler e, muito mais dificuldade, ainda, em compreender aquilo que liam. Se lhes pedisse que resumissem oralmente um pequeno texto, começavam a balbuciar. A dificuldade aumentava quando lhes solicitava um resumo por escrito. Ora, assentando o estudo, em casa, naquilo que se lê, perguntava-me como é que esses alunos poderiam compreender o que estava escrito nos manuais, fossem eles de Português, Ciências, Matemática…! Como é que esses alunos poderiam memorizar os conceitos, relacioná-los e aplicá-los se eles, tão pouco, conseguiam ler adequadamente e compreender um simples texto!
O impacto das dificuldades da leitura nas diferentes disciplinas é, pois, crucial para a compreensão das mensagens que se inscrevem num texto, seja ele de que disciplina for. Ora esta ideia ficou bem reforçada no debate levado a cabo no site atrás referido. Claro que este impacto, além de causa de insucesso, é também uma consequência de factores extra-escolares de outra natureza. Tal, porém, não deve descurar a preocupação de trabalhar suficientemente a aprendizagem da leitura e de aplicar os melhores métodos e técnicas para cada uma das disciplinas escolares.
Sem pôr de parte a importância de uma boa pré-escolaridade, onde se prepara cognitivamente (e não só!) a criança para a aquisição de conceitos fundamentais, é, na verdade, no 1º ciclo do ensino básico que a criança devia adquirir os requisitos fundamentais para as aprendizagens posteriores. Criar as condições para que tal aconteça, eis um desígnio que os agentes educacionais e políticos não deveriam esquecer.


                                          Mário Freire