Passou a época dos exames. Cada vez
mais eles estão a assumir um papel determinante na vida de um aluno.
Uma discussão que, julgo, pode ter
interesse, é o de ver se os exames conseguem seriar com fiabilidade os alunos
que sabem dos que não sabem.
Esta questão já não é de agora mas
todos anos, na altura própria, adquire relevo. Trata-se, afinal, de saber se um
aluno com uma dada classificação, se fosse classificado por um outro examinador
não iria obter uma outra classificação que lhe fosse mais favorável. E a
questão não é despicienda quando se trata da obtenção de classificações que
podem ditar a inclusão ou exclusão quer do curso do ensino superior pretendido,
quer da localidade onde ele é ministrado.
O sistema já prevê essas possíveis
discrepâncias de examinador para examinador e, por isso, há a figura da revisão
de provas que pode atenuar o problema. Este, no entanto, continua a subsistir.
Existe uma palavra – docimologia –
que se refere, precisamente, ao estudo e análise da avaliação e onde se inclui
essa variabilidade de critérios de avaliação de uma prova. Ainda há pouco tempo,
a propósito da época de exames em França, a jornalista de educação Sophie de
Tarlé enviou uma cópia de uma prova de filosofia a vários professores e
verificou que, numa pontuação máxima de 20, as classificações atribuídas oscilaram
entre 6 e 14.
A subjectividade do acto de classificar
é intrínseca a ele próprio; ela é tanto mais saliente quanto menos concreta é a
matéria sobre que se exerce tal acto. Existem algumas disposições quer a
utilizar, quer a evitar que podem reduzir essa subjectividade. E essas
disposições aplicam-se tanto a quem faz as provas como a quem as corrige.
Que os alunos possam ter a
retribuição justa do que estudaram (ou não estudaram) eis o que se deseja, no
meio deste mar de incertezas em que vivemos o qual se estende à classificação
de uma simples prova de exame!
Mário Freire