Um
dos medos mais comuns entre os homens é o medo da solidão. Aqueles que a
escolhem voluntariamente vêem-na como uma escolha saudável que ajuda a acalmar
e a esclarecer a mente; aqueles que a vivem por falta de alternativa sentem-na
como um suplício.
A
solidão, quando imposta, é sinónimo de sofrimento; quando escolhida, é sinónimo
de autonomia. No entanto, também há que distinguir a solidão afetiva da solidão
social, pois a pessoa pode estar quotidianamente rodeada por muita gente e
sentir-se interiormente sozinha e incompreendida. A questão é, portanto,
intrínseca ao sujeito e a sensação de solidão é tanto mais sentida quanto maior
for a sua necessidade de afeto.
Todos
nós somos seres sociais e todos nós precisamos de afeto, mas quando essa
necessidade é demasiado forte ao ponto de condicionarmos todas as nossas
escolhas em função da atenção do outro, perdemos por completo a nossa liberdade
enquanto ser individual e autónomo. Ora, o princípio da autonomia é
precisamente o que nos permite conquistar a confiança em nós próprios e perder
o medo da solidão.
Quando
perdemos o medo da solidão, as nossas relações passam a ser regidas pelo
princípio da liberdade e não pelo princípio do apego e da dependência. A
sensação de independência faz com que a pessoa aposte em si mesma e faça
escolhas baseadas numa verdadeira vontade interior livre e não em função do que
vai receber em troca (atenção, afeto, reconhecimento, etc.). Desta forma, os
encontros passam a ser mais genuínos, mais naturais, contribuindo assim para o
enriquecimento e o desenvolvimento de cada um de nós.
Trata-se
de viver uma interdependência, na qual nos definimos antes de tudo por sermos
seres independentes na nossa relação com os outros. Para isso, temos de
conseguir sentir o sabor da solidão.
Rossana Appolloni