quinta-feira, 16 de agosto de 2012

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI - 2


                                            O virtual e o real 

            Não é preciso ser professor para verificar que, num contacto com os adolescentes e jovens, estes, de uma maneira geral, apresentam reduzida a sua capacidade de atenção. Se lhes for dado um trabalho em que seja exigida meticulosidade e tempo, depressa o colocam de lado, por enfado. Os seus ritmos de percepção das imagens e dos sons são mais rápidos mas, também, mais superficiais do que aqueles que há 40 anos existiam para idênticas faixas etárias.
Uma publicidade esmagadora associada ao acesso, quase ilimitado, a uma sociedade de espectáculo, sedutora, em que as imagens e os sons os acompanham dentro e fora de casa, deram lugar a um outro tipo de adolescentes e jovens. Os meios para tal usados foram-se substituindo ao papel que, tradicionalmente, cabia à escola e à família.
            Eles habitam no virtual. A utilização do livro e do caderno encontra-se num patamar diferente daquele que é usado na internet; a escrita de sms no telemóvel rege-se por padrões em que o tempo e a gramática adquiriram novas configurações; a interacção com colegas e amigos nas redes sociais introduziu novos aspectos às formas tradicionais da dinâmica de grupo.
 “Eles acedem”, segundo Michel Serres, da Academia francesa, “pelo telemóvel, a todas as pessoas; pelo GPS, a todos os lugares; pela internet, a todo o saber; eles habitam um espaço de vizinhanças, enquanto que nós habitamos um espaço métrico, referido pelas distâncias.”
É com características desta índole, suscitadas pelos tempos da era virtual, que a escola tem que lidar. Ter uma percepção dos problemas que se estão levantando pode ser já um início de resolução dos mesmos.

                                                Mário Freire