domingo, 27 de novembro de 2011

VIAS DE REALIZAÇÃO - 7



                                                        Via ritual

Dita também “via cerimonial” e “via organizacional”, a via ritual tem sido particularmente cultivada no Oriente, através da disciplina mudra, e, no Ocidente, nas liturgias religiosas. Os mudras são gestos corporais sobretudo utilizados nos rituais budistas em que os monges chegam a fazer, seguidamente, centenas de prostrações. No Confucionismo, no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo, é notória uma gama variada de prescrições rituais e de cerimoniais elaborados. O termo cerimonial provém do culto prestado a Ceres deusa romana da fertilidade.
A via ritual abrange os diversos domínios e relacionamentos da vida humana e não só. A harmonia dos rituais humanos enquadra-se na euritmia da natureza e de todo o universo. O ritual faz parte do instinto diversamente manifesto, desde o relacionamento dos insectos ao dos peixes e mamíferos. Os ritos constituem o psicodrama que põe em cena juntamente com os gestos, os sons, as cores e a fragrância, diversamente expressos e conjugados. Que se pense na mímica, no folclore, na ginástica, na dança, no jogo, nas paradas e tantas outras expressões da vida privada e pública.   
A via ritual é próxima da via artística, metendo ambas o acento na expressão e na forma. No entanto, a via artística á mais centrada no conteúdo, enquanto que a via ritual privilegia a forma. Roberto Assagioli valoriza a ritualização da vida quotidiana em que “cada gesto se torna um rito.” Todas as actividades individuais e colectivas se desenrolam num certo ritual. Este se traduz no relacionamento humano, mormente em manifestações de cortesia social relativamente a outrem. Mas há que atender igualmente à dimensão universal, no sentido de uma manifestação cósmica. Desde os átomos às galáxias, todo o universo se expressa numa orquestração rigorosamente programada e livremente executada.
Buda faz ver que, uma vez desprovido da elevação do seu significado, o ritual é um obstáculo à iluminação. Em psicossíntese, Assagioli associa o ritual a uma variedade de exercícios, tal como A Divina Comedia de Dante e a Legenda do Graal, tendo estes como os mais aptos à inclusão do nível transpessoal. A via ritual é por excelência aquela que favorece um processo de desidentificação que antecede a verdadeira identificação e favorece a co-identificação, no sentido de permitir ao ser humano a experiência de auto-realização, na consciência de ser, ao mesmo tempo, autor e co-autor, espectador e actor.                          

                                                                             João d’Alcor