O autoconceito
refere-se àquilo que cada um pensa de si, ao modo como uma pessoa se descreve a
si própria. Ora, a apreciação que os outros nos fazem é um factor relevante na
formação daquilo que pensamos sobre nós. Os pais e os professores são as
pessoas mais significativas para o sujeito e são estas que, numa primeira fase do
desenvolvimento, vão interferir na formação do autoconceito.
Os pais e os
professores que desvalorizam com frequência os filhos ou os alunos, irão gerar
neles um autoconceito negativo que, a não se inverter, poderá ter consequências
nefastas na sua maneira de ser e nos seus desempenhos escolar e social. Mas
também o ambiente que é vivido na escola, nos recreios, na família, com as
valorizações ou desvalorizações que são feitas ao trabalho desenvolvido ou aos
comportamentos manifestados, podem contribuir para uma avaliação positiva ou
negativa que uma criança ou adolescente irá fazer das suas próprias capacidades.
Registe-se, ainda, o
facto de as crianças e os adolescentes, muitas vezes, responderem não
directamente ao meio mas à forma como percebem e interpretam esse meio. Assim,
um jovem pode interpretar um gesto de um seu companheiro como desvalorizador do
que está a fazer quando, afinal, esse gesto nada tinha a ver com o jovem em
causa. Pais e professores deverão estar atentos a estas interpretações sem
correspondência com a realidade.
Só para concretizar a
importância do autoconceito na aprendizagem dos alunos, cito um estudo de 2003
de quatro investigadores da Universidade de S. Paulo, em que se compararam
crianças com dificuldades de aprendizagem com crianças sem dificuldades de
aprendizagem. Sem entrar no número de crianças observadas e nos modos de
avaliação das mesmas, segundo escalas apropriadas, verificou-se que as crianças
com dificuldades de aprendizagem apresentaram autoconceito significativamente
mais negativo do que as crianças sem dificuldade de aprendizagem.
Valorizar e
desvalorizar comportamentos de crianças e adolescentes por parte dos pais e
professores é tarefa que exige bom senso, respeito e, acima de tudo, crença de
que o visado tem possibilidades de crescer em conhecimento e sabedoria.
Mário
Freire