quinta-feira, 2 de abril de 2015

SER AUTÊNTICO NO TEATRO DA VIDA



Todos alteramos o nosso modo de ser segundo o contexto social em que agimos. Parece termos personalidades diferentes consoante a situação ou as pessoas com quem estamos. Quantas vezes não nos vemos a desempenhar vários papéis no mesmo dia: a filha, a mãe, a amiga, a profissional, a companheira... Estas diferentes partes de nós compõem o enredo das nossas relações pessoais e sociais, e são facetas normais da nossa personalidade. São como personalidades parciais, com vida própria, muitas vezes assumidas de forma inconsciente, e manifestam-se na sequência de ideias, acontecimentos ou estados emotivos que nos condicionam. A nossa personalidade é dinâmica, é composta por estes diversos papéis, e a dificuldade é geri-los e organizá-los adequadamente. Em casos extremos de insucesso, essa incapacidade traduz-se na patologia designada por desordem de personalidade múltipla, mas em geral provoca apenas conflitos interiores, ambivalência, ansiedade e depressão.
As partes que nos constituem são como as personagens de teatro no palco, personificadas por atores, cujo papel lhes foi atribuído pelo encenador. Este dirige à sua maneira como cada personagem deve intervir no conjunto da peça, que mais não é do que um microcosmos da própria vida. O nosso Eu (o encenador) tem a consciência do papel e da importância de cada personagem, possui a capacidade para avaliar a justeza do seu contributo consoante as necessidades e a coerência da peça. Percebemos bem que exercer o papel de mãe com o marido é desajustado, por exemplo. Cada personagem deve entrar em cena no momento certo, com plena consciência do que está a fazer. Enquanto encenadores, beneficiamos em aprender a gerir os conflitos entre as personagens da peça que se desenrola no palco da nossa psique e a harmonizar as forças dissonantes que perturbam o equilíbrio da personalidade. A nossa autenticidade encontra-se em nos sentirmos bem nos nossos vários personagens, pois não podemos viver sem eles. Porém, ao contrário do que se passa num espetáculo, a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos (Charlie Chaplin).

Rossana Appolloni
www.rossana-appolloni