Todos alteramos o nosso modo de ser segundo o contexto social em que agimos. Parece termos
personalidades diferentes consoante a situação ou as pessoas com quem estamos.
Quantas vezes não nos vemos a desempenhar vários papéis no mesmo dia: a filha,
a mãe, a amiga, a profissional, a companheira... Estas diferentes partes de nós
compõem o enredo das nossas relações pessoais e sociais, e são facetas normais
da nossa personalidade. São como personalidades parciais, com vida própria,
muitas vezes assumidas de forma inconsciente, e manifestam-se na sequência de
ideias, acontecimentos ou estados emotivos que nos condicionam. A nossa
personalidade é dinâmica, é composta por estes diversos papéis, e a dificuldade
é geri-los e organizá-los adequadamente. Em casos extremos de insucesso, essa
incapacidade traduz-se na patologia designada por desordem de personalidade
múltipla, mas em geral provoca apenas conflitos interiores, ambivalência,
ansiedade e depressão.
As partes que nos
constituem são como as personagens de teatro no palco, personificadas por
atores, cujo papel lhes foi atribuído pelo encenador. Este dirige à sua maneira
como cada personagem deve intervir no conjunto da peça, que mais não é do que
um microcosmos da própria vida. O nosso Eu (o encenador) tem a consciência do
papel e da importância de cada personagem, possui a capacidade para avaliar a
justeza do seu contributo consoante as necessidades e a coerência da peça.
Percebemos bem que exercer o papel de mãe com o marido é desajustado, por
exemplo. Cada personagem deve entrar em cena no momento certo, com plena
consciência do que está a fazer. Enquanto encenadores, beneficiamos em aprender
a gerir os conflitos entre as personagens da peça que se desenrola no palco da
nossa psique e a harmonizar as forças dissonantes que perturbam o equilíbrio da
personalidade. A nossa autenticidade encontra-se em nos sentirmos bem nos
nossos vários personagens, pois não podemos viver sem eles. Porém, ao contrário
do que se passa num espetáculo, a vida é uma peça de teatro que não permite
ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente antes que a
cortina se feche e a peça termine sem aplausos (Charlie Chaplin).
Rossana Appolloni
www.rossana-appolloni