Mais de 12 mil crianças e
adolescentes foram sinalizadas em 2013 pelas comissões de protecção de menores
por situações de negligência. Esta traduz-se em os pais, ou quem os substitui,
não cuidarem daqueles que são menores e que têm a seu cargo. Ela é considerada
como uma forma de violência em que o agressor assume um comportamento passivo,
de omissão dos seus deveres básicos em relação àqueles que tem a obrigação de
cuidar.
De
entre as várias formas que a negligência assumiu nos dados que vieram a público
(médica, higiénica, física…), cerca de metade das pessoas visadas sofreu a
negligência de supervisão. Esta traduz-se em a criança e o adolescente ficarem
entregues a si próprios, estando sujeitos a todos os tipos de riscos. Assim, os
pais não providenciaram para que os filhos tivessem a necessária frequência
escolar, não responderam às solicitações da escola, não participaram na
educação dos filhos, não lhes administraram as regras a partir de casa.
Como
se sentirá a criança ou adolescente entregue a si próprio? Certamente que
mal-amado, com inseguranças e vulnerabilidades. E na escola, como serão estes
alunos? Só por excepção eles responderão às solicitações daquilo que o sistema escolar
lhes exige. E que tipo de adultos poderão vir a ser estas pessoas?
Na
raiz desta negligência estarão, certamente, múltiplos factores, de ordem
familiar, social, de toxicodependência…
Note-se
que foi a escola, na grande maioria dos casos, a entidade que alertou as
autoridades para esta negligência. E é ainda ela, com todas as suas limitações,
que se constitui em elemento de ajuda, contribuindo para que estas crianças e
adolescentes possam, talvez, ainda, ser elementos onde cintile a esperança de
um futuro, melhor do que aquele que estão a viver.
Mário
Freire