Ria de Aveiro
Para além dos
estuários e dos deltas, as lagunas, representam um tipo de ambiente na
interface terra-mar. Referidas também por bacias parálicas, são corpos de
água, geralmente pouco profundos, parcialmente fechados ao mar por uma barreira
que pode ser de areia (as mais comuns), recifal nos (litorais intertropicais)
ou, mais raramente, rochosa. A comunicação com o mar, temporária ou permanente,
é feita através de vaus que, no caso das barreiras arenosas, podem fechar e
abrir ou migrar para um lado ou para outro. À semelhança dos estuários, muitas
lagunas, entre elas, as do litoral português, evoluíram em relação com a
transgressão flandriana2; resultaram da evolução de estuários que foram
posteriormente fechados por cordões arenosos como, por exemplo, as lagoas de
Santo André, Melides, Albufeira e Óbidos. O estuário do Sado ter-se-ia
transformado numa laguna se a restinga de Tróia ou eventuais ilhas-barreiras
lhe tivessem fechado a embocadura.
Lagoa de Santo André (Grândola)
Lagoa de Melides (Grândola)
Lagoa de Óbidos.
A Ria de Aveiro é
outra laguna que podemos definir como um vasto corpo de água confinado por
longo cordão de areia, com a particularidade de conter no seu interior o delta
do rio Vouga.
Ria de Faro-Olhão (Ria Formosa) é um sistema complexo de
ilhas-barreiras.
Ria é uma velha
palavra portuguesa que significa esteiro ou grande rio, não havendo razão para
desaconselhar o seu uso no caso português. Os nomes das nossas rias de Aveiro,
Faro-Olhão e Alvor são muito anteriores ao sentido que foi atribuído e
divulgado por Ferdinand von Richthofen, em 1886, ao termo ria, atribuído a um
tipo de acidente geográfico que definiu como uma “penetração do mar em reentrâncias
de encostas escarpadas”, como acontece no litoral da Galiza. Por influência
deste prestigiado geógrafo alemão e seus continuadores, a Ria de Aveiro passou
então a ser referida, por alguns autores, por Haff-delta ou, simplesmente,
Haff, termo alemão que significa laguna, numa comparação com as alemãs no Mar
Báltico.
Embora pequenas, são
ainda lagunas a Ria de Alvor e a Barrinha de Esmoriz.
As lagunas podem ser
de água salobra, salgada ou hipersalgada, consoante as quantidades relativas de
água das chuvas e do rios e de água do mar que, de tempos a tempos, as invade.
Se a temperatura for elevada e se não houver realimentação em água doce, o que
é regra em regiões áridas, as lagunas funcionam como gigantescas salinas
naturais, gerando rochas sedimentares classificadas como evaporitos (halite,
gesso, anidrite, etc.). No Golfo Pérsico, com temperaturas diurnas na ordem dos
40 Cº e pluviosidade mínima (50 mm/ano), a salinidade da água do mar é de cerca
de 47 g/L, valor que sobe, nas lagunas aí existentes, para 70 g/L.
Foram lagunas, em
clima quente e seco, as retenções de água do mar, cujos vestígios nos ficaram
nas camadas sedimentares da base do Jurássico (andar Hetangiano), referidas,
entre nós, por “margas de Dagorda”. Com argilas vermelhas e, às vezes,
esverdeadas, gesso e sal-gema, estas formações são bem o testemunho da
existência de um “rosário” de lagunas hipersalinas, que marcaram uma primeira
penetração das águas do mar ao longo de duas directrizes precursoras da rotura
da Pangea e subsequente criação das nossas margens ocidental e meridional. As
explorações de sal-gema de Matacães, Fonte da Bica (Rio Maior) e de Loulé e as
de gesso, em Santana (Sesimbra), Óbidos ou Soure, representam um legado dessas
paisagens de há cerca de 200 milhões de anos.
Galopim de Carvalho