Numa
conversa ocasional com dois adolescentes de 12-13 anos que frequentam a escola
pública, abordou-se, a propósito de certo assunto, o tema do vestuário. Esses
dois adolescentes, que apresentam grandes dificuldades em matemática, inglês,
história, português…, enumeraram-me um sem número de marcas, tais como os
sapatos all star, converse all star…, os óculos ray ban…, os relógios guess, timex…, as calças jeans, bermudas jeans, shorts jeans…
Sempre
reconheci a minha ignorância nestas matérias mas não fiquei admirado pelos
conhecimentos que aqueles adolescentes manifestavam nelas. Sei que os tempos
mudaram e a adolescência e a juventude de hoje têm outras preocupações que não
coincidem com aquelas que eu tive naquelas idades. E têm outras maneiras de se
afirmar perante os seus pares.
Ora, o vestuário nos adolescentes
assume-se como uma manifestação da identidade e é factor que contribui para a autoestima
e, até, para a socialização. Ele faz parte da maneira de eles se exprimirem.
Por isso, os alunos que, por motivos diversos, têm dificuldade em aceder a
roupas ou adereços de marca ou se, com muita frequência, usam as mesmas roupas,
podem sentir-se discriminados. Ter as roupas
erradas, como se diz num estudo de 2002 de Tess Ridge, pode constituir-se
numa experiência traumática para muitos adolescentes. Num outro estudo, conduzido
pelo British Council, publicado em 2008, diz-se que um em cada dois alunos
portugueses (51%) é gozado pela roupa que usa.
Vivemos hoje num mundo em que é
atribuída à aparência um valor elevado. Na adolescência, então, esse valor
ganha intensidade e para a qual contribuem os artigos de vestuário usados.
O que é que a escola pode fazer para
atenuar as discriminações decorrentes do vestuário mas também do aspecto
físico, da cor da pele, do sotaque, das deficiências e que impedem que certos alunos
se possam sentir felizes naquele espaço de aprendizagem?
Mário Freire