segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O VESTUÁRIO, OS ADOLESCENTES E A ESCOLA




Numa conversa ocasional com dois adolescentes de 12-13 anos que frequentam a escola pública, abordou-se, a propósito de certo assunto, o tema do vestuário. Esses dois adolescentes, que apresentam grandes dificuldades em matemática, inglês, história, português…, enumeraram-me um sem número de marcas, tais como os sapatos all star, converse all star…, os óculos ray ban…, os relógios guess, timex…, as calças jeans, bermudas jeans, shorts jeans
Sempre reconheci a minha ignorância nestas matérias mas não fiquei admirado pelos conhecimentos que aqueles adolescentes manifestavam nelas. Sei que os tempos mudaram e a adolescência e a juventude de hoje têm outras preocupações que não coincidem com aquelas que eu tive naquelas idades. E têm outras maneiras de se afirmar perante os seus pares.
            Ora, o vestuário nos adolescentes assume-se como uma manifestação da identidade e é factor que contribui para a autoestima e, até, para a socialização. Ele faz parte da maneira de eles se exprimirem. Por isso, os alunos que, por motivos diversos, têm dificuldade em aceder a roupas ou adereços de marca ou se, com muita frequência, usam as mesmas roupas, podem sentir-se discriminados. Ter as roupas erradas, como se diz num estudo de 2002 de Tess Ridge, pode constituir-se numa experiência traumática para muitos adolescentes. Num outro estudo, conduzido pelo British Council, publicado em 2008, diz-se que um em cada dois alunos portugueses (51%) é gozado pela roupa que usa.
            Vivemos hoje num mundo em que é atribuída à aparência um valor elevado. Na adolescência, então, esse valor ganha intensidade e para a qual contribuem os artigos de vestuário usados.
            O que é que a escola pode fazer para atenuar as discriminações decorrentes do vestuário mas também do aspecto físico, da cor da pele, do sotaque, das deficiências e que impedem que certos alunos se possam sentir felizes naquele espaço de aprendizagem?
                                                                    
                                                               Mário Freire