domingo, 29 de junho de 2014

A IMPORTÂNCIA DO AFETO FÍSICO


Independentemente de sermos pessoas mais carinhosas ou menos, estudos recentes demonstram que a troca de afeto físico entre casais torna a relação mais próxima e mais forte. Foi cientificamente demonstrado que abraçar, dar as mãos e tocar na outra pessoa aumenta os níveis de oxítona, a hormona responsável pela redução da dor e pela sensação de calma e de conforto. Esta hormona produz-se durante o orgasmo sexual, mas também através de carícias. Além de aumentar os níveis de oxítona, a troca de carinho também diminui a tensão arterial, bem como os níveis de stress. Se por um lado afeta positivamente o nosso corpo em termos orgânicos, a presença de afeto físico na relação afeta igualmente a nossa mente e a nossa postura perante a vida.
As pessoas com mais afeto aparentam uma autoestima e autoconfiança superiores, pelo que criam um impacto mais agradável nos outros. Em geral, o mesmo estudo demonstra que os casais românticos, quanto mais estão satisfeitos com a relação, mais o demonstram fisicamente um ao outro, e quanto mais o demonstram, mais se sentem satisfeitos na relação. Trata-se de um circulo vicioso saudável que se autoalimenta.
A troca de afeto tem repercussões não apenas no momento, mas estende-se ao longo do tempo. Quem vive momentos de contacto físico prazeroso, mais facilmente apresenta sintomas de boa disposição nos dias seguintes.
Apesar de ser mais do que inequívoco que a troca de afeto traz benefícios, isto não significa que devemos começar a abraçar e a trocar afeto com qualquer pessoa. Estes benefícios fazem-se sentir em contextos de proximidade, de relações mais chegadas, caso contrário pode até causar stress e ansiedade. Com pessoas do nosso círculo de intimidade, o contacto físico aumenta a qualidade da relação, bem como a saúde física e o bem-estar mental.

                                                   Rossana Appolloni



sexta-feira, 27 de junho de 2014

TANZANITE, A "PEDRA PRECIOSA DO SÉCULO XX"


Variedade gemológica do mineral  zoizite (sorossilicato de alumínio e cálcio, do grupo do epídoto), de cor variável entre o azul, o lilás e o acastanhado, a tanzanite foi descoberta, em 1967, pelo goês Manuel de Sousa (1913-1969), nos Montes Merelani, no norte da Tanzânia (antiga Tanganica), muito perto do vulcão Kilimanjaro.
Tida por gema muito rara (só é conhecida naquele local), de muita beleza e de grande valor, caracteriza-se, essencialmente pelo tricroísmo azul, lilás e acastanhado. A cor azul forte evidencia-se sob luz fluorescente, ao passo que a cor lilás é mais marcada sob iluminação incandescente.
De dureza 6,5 a 7, na escala de Mohs (relativamente baixa, no contexto das gemas), é mais frágil e menos durável que rubis, safiras e diamantes. Assim, deve ser usada com precaução.


A identificação desta gema como uma variedade de zoizite foi atribuída a Ian McCloud, do Serviço Geológico da Tanzânia, em Dodoma, confirmada pelo GIA (Gemological Institute of America).
O nome tanzanite foi proposto pela joalharia Tiffany & Co, de Nova Iorque, tendo em consideração o país de origem desta variedade, desde logo promovida à categoria de “pedra preciosa do século XX”.
A maior tanzanite em bruto conhecida pesava 3,38 kg e a maior lapidada tem 252,2 quilates.
De 1967 a 1971, data da nacionalização desta  exploração pelo governo da Tanzânia, foram dali retirados cerca de dois milhões de quilates de tanzanite. A grande maioria das tanzanites mineradas surge em tons de castanho. Assim, é necessário proceder a um aquecimento, a cerca de 400 ºC, para lhe dar a famosa cor lilás, numa prática conhecida e entendida como normal nos mercados.


                                          Galopim de Carvalho

quarta-feira, 25 de junho de 2014

ENCENAÇÃO


Dar à vida, em cada cena,
bom ou mau enquadramento
‘stá pendente do talento.
Tê-lo em conta vale a pena.

Um cenário adequado
 não é obra do acaso.
Pede engenho, dando ele azo
ao efeito apropriado.

Assim é que a encenação,
tendo em conta cada evento,
tudo reveste de seu condão.

Seja ela concebida,
em perfeita adequação,
qual honor prestado à vida.


João d’Alcor

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CIENTISTAS DE PALMO E MEIO


        Teve lugar nos passados dias 8, 9 e 10 de Maio o IX Congresso Nacional de Cientistas em Acção, no Centro de Ciência Viva de Estremoz. Este Congresso teve a finalidade de incentivar os alunos do Básico e do Secundário a interessarem-se pela Ciência, a formularem os seus projectos, individualmente ou em equipa, a testá-los experimentalmente, retirando as suas conclusões e, finalmente, a apresentá-los perante um júri de cientistas.
Cada trabalho apresentado tinha já sido convenientemente tratado com os alunos e seu professor e era este que, mais ou menos à distância, consoante a idade dos seus pupilos, ali estava a dar a tranquilidade que as crianças ou adolescentes necessitavam.
            Foi interessante ver, por exemplo, crianças com 6 anos, perante um júri de pessoas que elas desconheciam, demonstrarem que nem todas as substâncias são solúveis na água ou que há umas que se dissolvem mais facilmente do que outras. E, depois, confrontarem-se com as suas hesitações, com alguns percalços, não planeados, mas surgidos durante as experiências. E, depois ainda, tentarem responder às perguntas dos “arguentes”, sobre aspectos das suas demonstrações.
            De salientar, o modo afável como o júri de dirigia aos participantes, a linguagem simples que utilizava para que eles pudessem entender o que tinha corrido bem e menos bem, as observações que lhes eram feitas, chamando-lhes a atenção para as contingências do que é fazer ciência e para a aprendizagem que se colhe dos erros que são cometidos.
            O cientista tem em vista tentar dar respostas a questões em relação às quais não se encontrou, ainda, uma explicação aceitável. A verdade, em ciência, é sempre provisória pois, em qualquer momento, pode ocorrer uma explicação melhor que irá substituir a resposta já dada. A provisoriedade é algo que, também, poderia aplicar-se à nossa vida. Uma excepção apenas, em minha opinião: o relativismo moral. O bem não pode depender de modas, de circunstâncias ou da interpretação que cada um lhe queira dar.

                                                             Mário Freire

sábado, 21 de junho de 2014

AS PESSOAS PRÓXIMAS FAZEM PARTE DE NÓS


Segundo um estudo feito pelo psicólogo James Coan em agosto de 2013, a nossa identidade estrutura-se bastante à volta de quem conhecemos e das pessoas com quem entramos em empatia. O estudo feito monitorizava pessoas que observavam outras a receberem tratamentos de eletrochoque. Como resultado, verificou-se que a atividade cerebral era completamente diferente caso se observasse um desconhecido, ou alguém próximo. Até aqui parece tudo normal e óbvio, mas o mais interessante é que a reatividade do observador era basicamente idêntica ao comportamento cerebral da pessoa chegada que estava a receber o tratamento. Este resultado vem demonstrar que a forte ligação emocional entre as pessoas implica uma espécie de “fusão” uns com os outros.
As relações afetivas tornam-nos mais empáticos na medida em que aumentamos a nossa capacidade de nos colocarmos na pele do outro, de compreendermos a dor ou as dificuldades por que o outro está a passar, como se fôssemos nós próprios a vivê-las. Assim, as pessoas que nos são afetivamente mais chegadas tornam-se parte de nós e tudo o que sentem, pensam e dizem tem impacto sobre o nosso ser.
Esta leitura traduz-se num elo emocional intenso em que o nosso bem-estar também depende do bem-estar dos outros, pelo que a nossa capacidade de contribuir para um bem-estar mais alargado e de estimular nas outras pessoas opções que se repercutem na sua felicidade tem um retorno positivo sobre nós.
Portanto, condicionar os outros (filhos, marido/mulher, pais, irmãos, colegas, etc.) e encaminhá-los para escolhas que, aparentemente, nos agradam a nós acaba por não ser uma boa opção, pois sentir a outra pessoa insatisfeita e infeliz vai provocar o mesmo estado de ânimo dentro de nós. Se os outros são como uma extensão nossa, a melhor forma de nos sentirmos bem é ajudar a outra pessoa a realizar os seus sonhos como se fossem nossos e não impor-lhes os nossos como se fossem delas.

                Rossana Appolloni


quinta-feira, 19 de junho de 2014

DA PRÉ-HISTÓRIA PARA A CIÊNCIA MODERNA (3)


As regularidades anteriores inevitavelmente terão desenvolvido alguma actividade de natureza simbólica que as exprime quer com os seus benefícios quer com as suas ansiedades. E, naturalmente, a repetição deste simbolismo vai desencadear certamente uma actividade ritual que parece encontrar expressão nos recintos (cromeleques), circulares ou em forma de ferradura, que nessa época também foram construídos.
Não temos escritos que nos descrevam esses eventuais rituais, e muito menos os saltos epistemológicos que a mente humana poderá ter dado nessa altura. Porém se a necessidade de enterramento dos mortos fez parte desta premência simbólica e ritual, não nos admiraremos de verificar que a grande maioria das antas se encontre implantada com a sua abertura, e muitas vezes com o corredor que lhe dá acesso, virados a nascente. Mas, se designarmos por “nascente” aquela porção do horizonte onde o sol nasce, entre o seu limite mais a norte (solstício de verão) e o seu limite mais a sul (solstício de inverno) o que é interessante é que se constata que a referida orientação das antas não se distribui uniformemente entre esses dois limites, mas antes mostra uma clara preferência por uma direcção intermédia, grosso-modo a meia distância entre esses dois limites*, próximo do que hoje associamos com os equinócios, em particular com o início da Primavera. Claro que há sempre um pequeno número de exemplos de antas que não seguem esta regra mas estimamos que não excedem 5% do total.
Certamente que os homens e mulheres do período megalítico não eram astrónomos mas, no seu convívio diário com esse mundo inatingível - embora presente porque observável, e real porque interferia no seu próprio território - tiveram oportunidade de o observar detalhadamente e sensibilizar-se para os seus ritmos e suas consequências. Muito naturalmente esta observação empírica dos astros, esta forma rudimentar de astronomia, em particular do sol e da lua, neste e noutros locais, e também noutras civilizações, ao longo de alguns milénios, terá sido importante para o aparecimento de ideias expressas de forma simbólica nas escritas antigas. Na Babilónia aparecem, como simples registos de dados e de observações, incluindo repetições de ocorrências que vão permitir previsões (por ex. de eclipses), e abrir assim o caminho para a estruturação de um corpo de conhecimento que virá a dar o que hoje chamamos Astronomia. Evidência dessa evolução vamos encontrar nos gregos que já no primeiro milénio AC detinham elaborados conceitos astronómicos que lhes permitiam por ex. estimar o raio da Terra. A partir daí a História conta-nos como se evoluiu até à Astronomia de hoje. Mas o registo histórico fala-nos de uma continuidade de rituais associados às celebrações do início da primavera.
*in  Revista Portuguesa de Arqueologia, vol.10, nº 2, 2007, p35-74


                                     C. Marciano da Silva

terça-feira, 17 de junho de 2014

ALTERAÇÃO DAS ROCHAS



Do ponto de vista prático, pode afirmar-se que não haveria solo, nem plantas, nem animais, sobre as terras emersas, se não houvesse alteração das rochas.
A alteração das rochas é um dos ramos mais importantes da geologia. Com efeito, a sedimentologia, a geomorfologia, a geologia económica e aplicada, a pedologia, a prospecção geoquímica, a geologia do ambiente, a engenharia, entre outras, fazem constantemente apelo aos conhecimentos relativos a esta parte do ciclo geoquímico da litosfera.
Os conhecimentos de que hoje dispomos, quanto aos processos e produtos de alteração nos diferentes ambientes morfoclimáticos, permite inferir, por idênticos raciocínios, condições geológicas passadas através do estudo dos sedimentos onde tais produtos ficaram arquivados. Os sedimentos não são mais do que depósitos correlativos de determinadas situações geográficas, susceptíveis de guardarem os testemunhos que as permitem reconstituir, preocupação que representa o aspecto mais importante da sedimentologia.
No campo da geologia económica e aplicada, a alteração das rochas tem papel de relevo, por exemplo, na prospecção de matérias-primas argilosas, tão importantes para a indústria cerâmica, entre outras menos visíveis (papel, borracha). O perfeito conhecimento do estado de alteração ou da susceptibilidade de certas rochas usadas como pedra de construção, é outro aspecto do interesse deste ramo das geociências.
As grandes obras de engenharia, como são as construções das barragens, pontes, estradas e, mesmo, as urbanas, não dispensam, para efeito de fundações, o recurso ao conhecimento do tipo e grau de alteração das rochas do substrato. Outro tanto se poderá dizer em relação aos trabalhos de preservação do relevo, no tocante às formas naturais ameaçadas, em que é necessário lutar contra a erosão das terras e o deslize das vertentes.
A hidrogeologia é outro ramo da geologia aplicada que encontra nos fenómenos de meteorização muitas das respostas inerentes aos seus objectivos.
Estamos habituados a considerar as rochas como qualquer coisa de definitivo, mas, na realidade, elas nascem, vivem, envelhecem, degradam-se.... Ao fazer esta afirmação, o geoquímico russo M. Chaskolskaia (1959) põe em evidência a extrema lentidão do processo natural de alteração das rochas, só abarcável na imensidade do tempo geológico.
Mesmo antes da exposição aos agentes externos, na sequência de fenómenos que as fazem ascender e, subsequentemente, aflorar, as rochas geradas em profundidade, ou seja, as rochas endógenas (ígneas e metamórficas) sofrem alteração.

                 Sobre a rocha meteorizada, o solo é o suporte da vegetação, base da cadeia alimentar

Alteração meteórica ou meteorização
Como os nomes indicam, alteração meteórica e meteorização aludem à alteração das rochas provocada pelos agentes meteóricos. Pode dizer-se, ainda, supergénica, na medida em que se processa à superfície do planeta sob a acção da energia solar, e per descensum, uma vez que actua de cima para baixo.
Os nossos irmãos brasileiros introduziram o termo intemperismo como sinónimo de meteorização, termo que tem vindo a ser usado entre nós com frequência crescente.
Um outro conceito alude à desagregação e transformação dos minerais e, consequentemente, das rochas, provocadas pelos agentes atmosféricos, por organismos vivos e pelas águas pluviais na capa mais superficial da crosta emersa. Neste processo, salienta-se a redução do tamanho das partículas resultantes da desagregação, o que lhes proporciona um estado de maior susceptibilidade às citadas transformações, uma vez que aumenta a superfície exposta aos ditos agentes. As referidas transformações têm lugar, não só por efeito da energia solar, mas também da energia interna, própria de cada um dos minerais das rochas, energia esta que se liberta espontaneamente no decurso da decomposição.
A meteorização não é mais do que uma resposta por parte dos minerais das rochas, originalmente em equilíbrio no interior da litosfera, quando expostos à superfície, em contacto com a atmosfera, a hidrosfera e, sobretudo, com a biosfera, processo conhecido por epimorfismo ou epigénese. Sendo a meteorização um processo espontâneo, os produtos resultantes possuem um nível de energia interna inferior à dos que lhes estão na origem.
A meteorização manifesta-se pela desagregação e/ou decomposição das rochas, levadas a cabo pelos agentes externos (físicos, químicos e biológicos), convertendo-as em outros produtos naturais em equilíbrio com as condições termodinâmicas e químicas do meio, que é, afinal, o da superfície subaérea da Terra. Por outras palavras, a meteorização das rochas traduz a sua adaptação a um dado ambiente externo, na interface litosfera-atmosfera-hidrosfera-biosfera.

                                             Galopim de Carvalho


domingo, 15 de junho de 2014

ENALTECIMENTO


Ânsia de se enaltecer
vem da fome de aprovação.
Fome é esta não do ser,
alheio este à presunção.

Privação há sempre no ter,
quando escravo da ambição,
face à qual, se pode ele ver,
em profunda prostração.

Na carência de homenagem,
se perdeu dela a noção:
Passa o rico a ser mendigo.

Pois criado à diva imagem,
honor dado é de antemão:
À partida, enaltecido.


João d’Alcor

sexta-feira, 13 de junho de 2014

SABER LER OS SINAIS


            Em crónica anterior referia-se a importância que pode ter na aprendizagem o comportamento do professor, a partir daquilo que ele vai observando no aluno. Ora, este está constantemente a enviar ao professor sinais que devem suscitar naquele ou a confirmação do caminho adequado ou a necessidade de reorientar os seus procedimentos pedagógicos. Para perceber estes sinais basta estar atento quer ao comportamento do aluno na sala de aula, quer ao rendimento da turma.
            Quantas vezes é a falta de leitura dos sinais por parte de um conferencista, em relação a um auditório, que torna a sua mensagem praticamente inútil? Bocejar, mexer-se continuamente na cadeira, olhar para cima ou para o lado, falar com outros, ver as horas…, eis um sem número de sinais que, assumindo uma frequência crescente, devem fazer o conferencista reorientar o seu discurso, quer mudando de tom ou de intensidade, quer introduzindo uma nota discordante com o que estava a ser transmitido, quer reduzindo a extensão do seu discurso…
            Ora, muitos destes sinais e outros têm lugar na sala de aula por parte dos alunos, principalmente se o professor se assume, quase exclusivamente, como elemento central da lição.
Numa altura em que a interacção faz parte da identidade do aluno, em que somos bombardeados por informações via TV, rádio, internet, emails, mensagens no facebook, twitter…, vivemos num estado a que os peritos chamam de CPA — continuous partial attention. Ora, este estado conduz a que, com dificuldade, dediquemos totalmente a atenção a uma tarefa que seja importante.
Cabe, pois, ao professor, seja ele do básico, secundário ou superior, mas também ao palestrante, padre durante a homília, etc., adequarem as suas mensagens aos públicos destinatários, caso não queiram que estas não só se convertam em objectos inúteis como se voltem contra quem as emitiu!


                                            Mário Freire

quarta-feira, 11 de junho de 2014

AS EMOÇÕES NEGATIVAS SÃO POSITIVAS!


Um dos elementos fundamentais para uma pessoa se sentir feliz é viver emoções positivas. Usufruir do prazer e da alegria através de atividades que nos fazem sentido e enriquecem a nossa vida em termos de significado contribui enormemente para nos sentirmos bem pela vida que escolhemos.
No entanto, ser feliz não implica vivermos num estado permanente de prazer e euforia, nem requer a experiência constante de emoções positivas. As emoções negativas e o sofrimento são constituintes inalienáveis da condição humana, pelo que é extremamente importante aceitar que elas fazem igualmente parte de nós. Recalcar as emoções negativas é negar parte da nossa condição. Se estamos tristes porque recebemos más notícias de um familiar ou de um amigo não significa que não somos felizes, significa apenas que somos vulneráveis.
Para vivermos na plenitude da nossa condição não precisamos de andar sempre com um sorriso nos lábios, precisamos sim de experimentar o rico e vasto leque das emoções que definem a nossa humanidade. Quanto mais retrairmos a aceitação das emoções negativas mais nos fechamos à plenitude das emoções positivas. Quando reprimimos a tristeza, o medo ou a indignação estamos a desvalorizar a nossa própria complexidade para sentirmos alegria, deslumbramento ou gratidão.
Ninguém consegue ter uma vida emocional preenchida apenas com momentos positivos e exaltantes, a não ser que se esteja a enganar a si própria. Claro que, para nos sentirmos felizes, a dor e o sofrimento devem ser a exceção e não a regra. Temos de sentir em consciência, apesar de todas as dificuldades e contrariedades, que a vida vale a pena ser vivida e que os períodos negativos são passageiros, inevitáveis mas ultrapassáveis. Neste sentido, as emoções podem ser vistas todas como positivas na medida em que nos humanizam. Reprimi-las é não nos permitirmos ser o que verdadeiramente somos.

                                                 Rossana Appolloni


domingo, 8 de junho de 2014

A PROPÓSITO DO DIA DO GEÓLOGO


Sem desprimor para os pioneiros da geologia portuguesa, com destaque para Carlos Ribeiro (1813-1882), Nery Delgado (1835-1908) e Paul Choffat (1849-1919), ilustres geólogos dos saudosos Serviços Geológicos de Portugal, hoje Laboratório Nacional de Energia e Geologia, devemos ao Prof. Carlos Teixeira (1910-1982), catedrático de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa e fundador da Sociedade Geológica de Portugal, as primeiras tomadas de posição pela valorização da geologia e pela dignificação de profissão de geólogo.
Responsável, em Lisboa, por uma plêiade de geólogos, criou-lhes as condições que lhes permitiram distribuir-se pelo país e pelas então colónias, uns no ensino superior, outros no liceal, outros nos diversos serviços públicos e outros ainda na actividade privada. Os seus “filhos”, entre os quais me incluo (a sofrerem as agruras a que foram violentados os pensionistas deste desgovernado país), e os de outros mestres, em Lisboa, em Coimbra e no Porto, deram-lhes “netos” e “bisnetos”, hoje devotados profissionais no activo como docentes ou como geólogos de todo o terreno, que não sendo muitos, não são assim tão poucos. Ao contrário de biólogos e arqueólogos temos de convir que nós, os geólogos portugueses, não temos sabido “defender a nossa dama” e as justificações ao nosso alcance são muitas e facilmente explicáveis.
Para além do interesse utilitário da geologia na procura, exploração e gestão racional de matérias-primas minerais metálicas e não metálicas, indispensáveis no mundo actual, a geologia ensina-nos, ainda, a encontrar águas subterrâneas e recursos energéticos, como são, entre outros, o carvão, o petróleo, o gás natural e os campos geotérmicos. Essencial no estudo da natureza dos terrenos sobre os quais há que implantar grandes obras de engenharia (pontes, barragens, aeroportos), a geologia dispõe dos conhecimentos necessários à utilização do solo, à defesa do ambiente natural, numa política de desenvolvimento sustentado, e à preservação do nosso património mais antigo.
Para além destas potencialidades, a geologia dá resposta a muitas preocupações de carácter filosófico. Na história do pensamento científico, da Antiguidade aos dias de hoje, são muitos os exemplos de filósofos, alquimistas, naturalistas e, por último, geólogos, que se destacaram nas referidas preocupações.
Face as estas capacidades, a Geologia e as diversas disciplinas que a integram (Mineralogia, Paleontologia, Vulcanologia, Sismologia, Hidrogeologia, Geotecnia, entre outras) e nos permitem conhecer o mundo em que vivemos, acabaram por conquistar, em muitos países, estatuto de ciências de grandeza compatível com a sua real e grande importância no desenvolvimento sustentado, o que não é o caso em Portugal, onde permanecem subalternizadas nos currículos escolares e continuam arredadas da cultura geral dos portugueses, dos mais humildes e iletrados às elites intelectuais mais iluminadas.
A vida profissional permitiu-me, ao longo de décadas, conviver, algumas vezes de muito perto, com as mais altas figuras nacionais, dos chefes de estado aos dos governos central e local, com ministros da educação e outros, com parlamentares e figuras gradas dos partidos políticos, com os mais prestigiados jornalistas e comentadores dos jornais, da rádio e da televisão (tudo gente do direito, da economia e finanças e das humanidades) e pude, salvo uma ou outra excepção, constatar a falta de cultura geológica desta elite que, neste domínio, não difere do comum dos cidadãos.
Urge, pois, elevar a cultura geológica dos portugueses e isso começa na escola. De há muito que venho alertando, em textos escritos e em intervenções públicas, para a pouca importância dada ao ensino da Geologia nas nossas escolas do ensino básico e secundário. Até parece que quem decide (leia-se o Ministério da Educação) sobre o maior ou menor interesse das matérias curriculares, desconhece a real importância deste domínio da ciência na sociedade moderna.
Exceptuando aqueles que, por formação académica e profissional, possuem os indispensáveis conhecimentos deste interessante e útil ramo da ciência, a generalidade dos nossos concidadãos não conhece nem a natureza, nem a história do chão que pisa e no qual assentam as fundações da casa onde vive. Uns mais, outros menos, conhecem a lenda do malogrado Martim Moniz, entalado na porta do castelo, para que D. Afonso Henriques o pudesse somar às suas conquistas, mas muitíssimo pouco ou nada sabem do que aqui aconteceu há milhões e milhões de anos. Marcados por um ensino livresco, tantas vezes desinteressante e fastidioso, são muitos os cidadãos deste nosso país que frequentaram disciplinas do âmbito da geologia e que, terminada esta fase das suas vidas, esquecem o pouco que lhes foi ministrado sem entusiasmo nem beleza.
Estamos a viver um tempo em que o saber científico e os recursos tecnológicos avançam a passos de gigante e, dia após dia, nos deslumbram. À semelhança de outras ciências, a geologia é hoje um dos pilares da sociedade moderna, facultando alavancas poderosas para o bem e para o mal, ao serviço de uma humanidade a um tempo sabedora e desencantada, à procura de um caminho que tarda em encontrar.


                        Galopim de Carvalho

sexta-feira, 6 de junho de 2014

EMPRESA



Na empresa preso fica
quem a ela só se atém.
Sendo atento a esta dica,
bom gerente nunca é refém.

Dignifica o empresário
saber bem administrar,
tendo em conta, em seu fadário,
não só dela se ocupar.

O mais quero, quanto ao ter,
isca é que cobre o embuste,
nele ficando prisioneiro.

Primazia dada ao ser
faz que o ter a ele se ajuste,
qual valor, sempre em primeiro.


João d’Alcor

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O FEEDBACK DO PROFESSOR JUNTO DO ALUNO


        O feedback é uma forma de regulação, isto é, algo que é introduzido num processo, tendo em vista o seu bom funcionamento. Esta forma de regulação tem lugar em múltiplos campos como os da mecânica, biologia... Estes mecanismos, na maior parte das vezes, são automáticos, como os termóstatos que regulam a temperatura ambiente dentro de determinados limites (por ex. ar condicionado) ou a insulina que vai sendo produzida de acordo com as concentrações glicémicas no sangue.
            Existem, porém, outras formas de feedback, como as que são utilizadas em educação que, longe de serem automáticas, têm intencionalidade, visam determinados objectivos, seja nos resultados de aprendizagem, seja nos modos de aprender, seja nos comportamentos do aluno, além de a sua utilização ter momentos de oportunidade
            A acção de feedback do professor junto do aluno serve, correntemente, para corrigi-lo. Essa acção, contudo, tem que partir da observação que ele faz nos diferentes campos em que o aluno se encontra implicado e traduz-se em mensagens que tentam aumentar-lhe a compreensão do que está a ser estudado, reorientá-lo na pesquisa, chamar a atenção para certo comportamento…
            Com menos frequência, mas não com menos impacto na aprendizagem, o feedback pode assumir a forma de um elogio e/ou incentivo pelos resultados já alcançados. Este tipo de feedback é particularmente eficaz junto dos alunos que se debatem com dificuldades ou que as manifestam com uma certa permanência, mas igualmente aplicável a todos os outros que conseguiram atingir o objectivo fixado.
            As mensagens de feedback do professor, por vezes, nem necessitam de ser muito longas; basta, em certas circunstâncias, uma pequena observação, uma pergunta, para reorientar o aluno e fazê-lo trilhar o caminho mais adequado.
            Enfim, o feedback certo e em tempo oportuno, tem um efeito directo na progressão da aprendizagem, aumenta a motivação do aluno e contribui para a melhoria do ambiente na sala de aula.


                                                           Mário Freire

segunda-feira, 2 de junho de 2014

CONSUMO SUSTENTÁVEL


O direito a um ambiente sadio e equilibrado é um Direito Humano Fundamental. Por sua vez, a preservação do ambiente é um dever de todos os cidadãos. A participação de cada um de nós é importante, porque a qualidade do meio ambiente reflecte-se na qualidade de vida da população.
A humanidade caminha para um grande impasse. O ritmo actual do processo de exploração dos recursos naturais do planeta pode levar à total eliminação das reservas necessárias à vida. As reservas de água, as reservas de combustíveis fósseis, as reservas de ar puro, as terras cultiváveis, tudo isso estão sob ameaça.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que quase um quarto das doenças no mundo é resultante de problemas ambientais, que poderiam ser evitados. Não só se perdem vidas, mas também são gastos elevados recursos financeiros no tratamento das enfermidades.
Sabe-se que metade da humanidade está situada abaixo da linha de pobreza. Mesmo assim, consome-se, actualmente, 20% a mais do que a Terra consegue renovar. Trata-se de um dilema cruel, pois qualquer pessoa de boa vontade gostaria que toda a população do mundo ultrapassasse a linha da pobreza, em direcção à melhoria das condições de vida. A única saída é adoptar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Isso significa diminuir o consumo irresponsável.
Esses objectivos somente serão alcançados se estimularmos, à escala mundial, o consumo consciente. O consumidor consciente é aquele que ajuda a construir uma sociedade mais sustentável e justa. De acordo com a forma e a intensidade com que consome recursos naturais, produtos e serviços, o consumidor consciente manifesta a sua responsabilidade social.
Os hábitos alimentares com excessiva predominância de comida industrializada fazem crescer os problemas ambientais que ameaçam o mundo. É aí que entra o consumidor consciente. Ele pode, por meio das suas escolhas de natureza alimentar, contribuir para evitar, por exemplo, os problemas que poderiam ser causados por mudanças climáticas, decorrentes de um eventual sobreaquecimento da Terra.
Essa escolha também deve reflectir-se nos meios de transporte utilizados pela população. A poluição do ar mata, anualmente, cerca de 1,5 milhões de pessoas, segundo a OMS. Elas morrem de doenças respiratórias atribuídas, principalmente, à queima de combustíveis fósseis.
Os organismos internacionais, como a Unesco e a OMS, recomendam alternativas como o uso de veículos movidos a biocombustíveis ou a bicicleta e as caminhadas. Mais, ainda, incentivam o transporte colectivo.
Transformar os hábitos individuais é uma atitude de consumo consciente. O objectivo é contribuir para a sustentabilidade ambiental do planeta.
O conceito de consumo sustentável, derivado do termo desenvolvimento sustentável, foi amplamente divulgado com a criação da Agenda 21, um documento produzido durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992.


                                                     FNeves