Do
ponto de vista prático, pode afirmar-se que não haveria solo, nem plantas, nem
animais, sobre as terras emersas, se não houvesse alteração das rochas.
A
alteração das rochas é um dos ramos mais importantes da geologia. Com efeito, a
sedimentologia, a geomorfologia, a geologia económica e aplicada, a pedologia,
a prospecção geoquímica, a geologia do ambiente, a engenharia, entre outras,
fazem constantemente apelo aos conhecimentos relativos a esta parte do ciclo
geoquímico da litosfera.
Os
conhecimentos de que hoje dispomos, quanto aos processos e produtos de
alteração nos diferentes ambientes morfoclimáticos, permite inferir, por
idênticos raciocínios, condições geológicas passadas através do estudo dos
sedimentos onde tais produtos ficaram arquivados. Os sedimentos não são mais do
que depósitos correlativos de determinadas situações geográficas, susceptíveis
de guardarem os testemunhos que as permitem reconstituir, preocupação que
representa o aspecto mais importante da sedimentologia.
No
campo da geologia económica e aplicada, a alteração das rochas tem papel de
relevo, por exemplo, na prospecção de matérias-primas argilosas, tão
importantes para a indústria cerâmica, entre outras menos visíveis (papel,
borracha). O perfeito conhecimento do estado de alteração ou da
susceptibilidade de certas rochas usadas como pedra de construção, é outro
aspecto do interesse deste ramo das geociências.
As
grandes obras de engenharia, como são as construções das barragens, pontes,
estradas e, mesmo, as urbanas, não dispensam, para efeito de fundações, o
recurso ao conhecimento do tipo e grau de alteração das rochas do substrato.
Outro tanto se poderá dizer em relação aos trabalhos de preservação do relevo,
no tocante às formas naturais ameaçadas, em que é necessário lutar contra a
erosão das terras e o deslize das vertentes.
A
hidrogeologia é outro ramo da geologia aplicada que encontra nos fenómenos de
meteorização muitas das respostas inerentes aos seus objectivos.
Estamos
habituados a considerar as rochas como qualquer coisa de definitivo, mas, na
realidade, elas nascem, vivem, envelhecem, degradam-se.... Ao fazer esta
afirmação, o geoquímico russo M. Chaskolskaia (1959) põe em evidência a extrema
lentidão do processo natural de alteração das rochas, só abarcável na
imensidade do tempo geológico.
Mesmo
antes da exposição aos agentes externos, na sequência de fenómenos que as fazem
ascender e, subsequentemente, aflorar, as rochas geradas em profundidade, ou
seja, as rochas endógenas (ígneas e metamórficas) sofrem alteração.
Sobre a rocha
meteorizada, o solo é o suporte da vegetação, base da cadeia alimentar
Alteração
meteórica ou meteorização
Como
os nomes indicam, alteração meteórica e meteorização aludem à alteração das
rochas provocada pelos agentes meteóricos. Pode dizer-se, ainda, supergénica,
na medida em que se processa à superfície do planeta sob a acção da energia
solar, e per descensum, uma vez que actua de cima para baixo.
Os
nossos irmãos brasileiros introduziram o termo intemperismo como sinónimo de
meteorização, termo que tem vindo a ser usado entre nós com frequência
crescente.
Um
outro conceito alude à desagregação e transformação dos minerais e,
consequentemente, das rochas, provocadas pelos agentes atmosféricos, por
organismos vivos e pelas águas pluviais na capa mais superficial da crosta
emersa. Neste processo, salienta-se a redução do tamanho das partículas
resultantes da desagregação, o que lhes proporciona um estado de maior
susceptibilidade às citadas transformações, uma vez que aumenta a superfície
exposta aos ditos agentes. As referidas transformações têm lugar, não só por
efeito da energia solar, mas também da energia interna, própria de cada um dos
minerais das rochas, energia esta que se liberta espontaneamente no decurso da
decomposição.
A
meteorização não é mais do que uma resposta por parte dos minerais das rochas,
originalmente em equilíbrio no interior da litosfera, quando expostos à
superfície, em contacto com a atmosfera, a hidrosfera e, sobretudo, com a
biosfera, processo conhecido por epimorfismo ou epigénese. Sendo a meteorização
um processo espontâneo, os produtos resultantes possuem um nível de energia
interna inferior à dos que lhes estão na origem.
A
meteorização manifesta-se pela desagregação e/ou decomposição das rochas,
levadas a cabo pelos agentes externos (físicos, químicos e biológicos),
convertendo-as em outros produtos naturais em equilíbrio com as condições
termodinâmicas e químicas do meio, que é, afinal, o da superfície subaérea da
Terra. Por outras palavras, a meteorização das rochas traduz a sua adaptação a
um dado ambiente externo, na interface litosfera-atmosfera-hidrosfera-biosfera.
Galopim de Carvalho