terça-feira, 31 de julho de 2012

CIDADANIA



-‘O que é cidadania?’
me pergunta um aldeão.
Eu respondo: - ‘Não sabia?
É a nossa condição.

Facto é que madre Terra,
face ao mundo que a rodeia,
globalmente, em quanto encerra,
já não passe de uma aldeia.’

Mais lhe disse e tal eu penso:
‘Sendo o mundo tão imenso,
descabido é ter complexo.

Pátria termos sem limites
tal nos faz e, sem palpites,
cidadãos do Universo.’

João d’Alcor




domingo, 29 de julho de 2012

DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI-I


                                    Que aluno temos hoje?
Antes de se ensinar algo a alguém há que conhecer esse alguém. Ora, quem é que o professor tem hoje na sua frente?
Várias são as características que fazem do estudante de hoje, do ensino primário à universidade, alguém que foi criado segundo modelos que, comparados com os que vigoravam há 40 anos, se alteraram significativamente.
Assim, quantos destes alunos, rapazes ou raparigas, estiveram com um ninho na mão, olhando o intrincado daquela teia de fios ou se encantaram com o desvelo de uma ave a alimentar a sua cria? Quais destes alunos tiveram oportunidade de contemplar o céu, em noite de lua nova, e observar as miríades de estrelas que povoam o firmamento, se extasiaram perante aquela imensidade de pontos tremeluzentes e se interrogaram, ao verem a errância daquelas estrelas que sulcam os céus em várias direcções?
Hoje vive-se na cidade, mesmo quando se tem residência no campo. As crianças e os jovens de hoje lidam de maneira diferente com o mundo através de novos mediadores como sejam o telemóvel, o mp3, as vídeo consolas, o computador, sem falar da televisão. Dentro de casa, através das redes sociais, eles podem ligar-se quando quiserem, aos seus colegas, amigos e, por vezes, desconhecidos. Estando sós, nas suas casas, continuam as conversas que vinham trazendo da escola. 
Para além de um multiculturalismo, mais ou menos acentuado, mais de metade destas crianças e jovens provêm de pais divorciados, oriundos de famílias que já não são as tradicionais. Como é que a escola lida com estas novas realidades?
Eles, também, não assistiram aos grandes conflitos sangrentos do século passado; no entanto, estão sofrendo ou irão sofrer as dificuldades ou a efemeridade do emprego, a instabilidade das relações afectivas. Como encaram eles, perante estas situações, os conteúdos do ensino e as formas como eles lhes são ensinados?
Enfim, um rol apenas enunciado de circunstâncias, e em constante mutação, em relação às quais a escola não pode pôr-se de parte!

                                                Mário Freire

sexta-feira, 27 de julho de 2012

CHAVE



Chaves há que vão fechar
cofres onde houver tesouro.
Talvez sejam chaves d’ouro.
Seu sentido é ocultar.

Chaves há que vão abrir,
dar acesso ao coração.
São ligadas à missão
de acolher e bem servir.

Quem tem medo está fechado.
Se há tesouro, é encerrado.
Vê abuso em quem forçar.

Quem se sente confiado
chaves tem em duplicado;
uma delas para dar.

João d’Alcor


quarta-feira, 25 de julho de 2012

DESTINOS CLAROS PARA UM CAMINHO GRATIFICANTE



Ser feliz e ter sucesso na vida em termos pessoais e profissionais implica termos desejos, aspirações e objetivos. As pessoas que estabelecem objetivos têm mais possibilidade de ter sucesso nas suas conquistas do que as que não o fazem. Ter objetivos explícitos que nos desafiam leva-nos a ter resultados melhores, uma vez que fazem concentrar a nossa energia sobre uma meta a alcançar. Ter metas que nos entusiasmam dá-nos a força que precisamos para acreditarmos que somos capazes de ultrapassar obstáculos. E se acreditarmos nas nossas metas, conseguimos ultrapassar os obstáculos com que nos vamos deparando para lá chegar. Trata-se de uma espécie de profecia que se realiza na sequência de uma nossa forte crença.
No entanto, só o facto de alcançar uma meta não é suficiente para sermos felizes. Depois de termos atingido o objetivo, facilmente voltamos ao estado emotivo que nos acompanhava antes do evento. Se é assim, então para que serve termos metas e objetivos? Servem para nos libertar, para conseguirmos gozar o aqui e agora. Se começarmos uma viagem sem destino vamos sempre hesitar na escolha dos melhores caminhos. Se não soubermos para onde queremos ir, qualquer bifurcação se transforma numa angústia, num momento de indecisão e de sofrimento. Se, pelo contrário, tivermos o destino bem presente, podemos dedicar a nossa atenção ao momento presente.
Sendo assim, o caminho que nos faz chegar ao nosso destino também é importante e não só o destino em si. Mas este tem de estar claro, para que o percurso possa ser gratificante. Desta forma, as metas tornam-se elas próprias meios, pois é a sua existência que nos permite ter prazer enquanto caminhamos nessa direção.

           Rossana Appolloni


segunda-feira, 23 de julho de 2012

CARVALHO


Vivo ao lado de uma cana.
Cada qual tão diferente…
Algo há que nos irmana?
É questão que trago em mente.

Eu robusto e ela frágil,
afinal, que partilhamos?
Lento eu e ela ágil,
certo é que bem nos damos.

Vem o vento ao qual resisto.
Ela não: Vai ao seu jeito.
Grande exemplo me está dando.

Tal modelo é benquisto.
Decidi tomá-lo a peito:
Luto menos; sou mais brando.

João d’Alcor


sábado, 21 de julho de 2012

O ABANDONO ESCOLAR - 3


                As alternativas ao currículo regular

Para colmatar o insucesso escolar repetido e o risco de abandono da escolaridade básica apareceram os chamados currículos alternativos e os Cursos de Educação e Formação. Ambas as vias se destinam a alunos com percursos escolares irregulares e constituem oportunidades mais flexíveis para poderem concluir a escolaridade obrigatória.
Nos currículos alternativos visam-se encontrar soluções que se adaptem aos diferentes casos, procurando, através de turmas mais pequenas e de um ensino mais personalizado, desenvolver a motivação para o trabalho, assim como capacidades e interesses.
É certo que a integração escolar é uma prática que, se adequadamente feita, pode produzir efeitos benéficos, nos vários domínios da personalidade do aluno. Há, no entanto, crianças que são de tal modo portadoras de deficits cognitivos e/ou afectivos, que só um ensino compensatório específico as poderá ajudar na recuperação das suas capacidades. Tal não invalida que elas, eventualmente, não continuem integradas, ainda que parcialmente, numa turma regular.
Seria interessante saber se esta via tem uma cobertura nacional e, nos locais onde funciona, qual a sua eficiência.
Nos Cursos de Educação e Formação pretende-se já dar uma qualificação que permita ao jovem, com idade igual ou superior aos 15 anos, a entrada no mundo do trabalho. Estes cursos apresentam, igualmente, uma certa flexibilidade e integram, a par de uma componente sociocultural e científica, uma outra de natureza tecnológica e prática. Estes cursos permitem não só a conclusão da escolaridade obrigatória como o prosseguimento de estudos.
Enfim, estas alternativas estão disponíveis para aqueles que, frequentando o ensino público, tenham sofrido circunstâncias adversas na vida. Talvez estas vias possam dar-lhes as possibilidades de virem a ser pessoas integradas tanto na escola como na comunidade. Assim elas sejam, nas alturas certas, devidamente encaminhadas!

                                                                    Mário Freire

quinta-feira, 19 de julho de 2012

CARINHO


Todo um drama se adivinha
em quem não encontra amor:
Falta a luz que o acarinha;
tão sombria é sua dor.

Dar carinho é doce instinto
que me prezo de cultivar.
Transmitido, nele eu sinto
corpo e alma a respirar.

Triste ele é viver sozinho,
desprovido de carinho.
E acontece a tanta gente.

Mais tal dou, mais tenho p’ra dar
e no Sol passo a notar
que me afaga de contente.

João d’Alcor



terça-feira, 17 de julho de 2012

CORAGEM PARA MUDAR E SERENIDADE PARA ACEITAR


Há coisas que não queremos mudar porque estamos confortáveis nelas. Há outras, pelo contrário, que queremos mudar mas não conseguimos, talvez nem saibamos como fazer. Quando queremos a todo o custo dar outra direção à nossa vida antes da altura propícia, entramos numa batalha perdida.
Por outro lado, se ficamos agarrados a situações cómodas com medo de mudanças, facilmente entramos num estado de revolta e ansiedade, ou mesmo de depressão. Os medos e as incertezas levam-nos a aguentar, na esperança que a situação se resolva por si. No entanto, aguentar também acaba por ser uma espécie de luta. Curiosamente se, em vez de lutarmos, desenvolvermos a capacidade de aceitação perante o que nos acontece, cria-se espaço para que as coisas mudem naturalmente. Nada é permanente. Já a Oração da Serenidade profere «dai-me a serenidade para aceitar o que não posso mudar, a coragem para mudar o que posso, e a sabedoria para perceber a diferença».
             Quando se combate a mudança ou a imutabilidade e não se aceitam as coisas tais como são, estas energias têm tendência para se manifestarem de forma distorcida e corremos o risco de ficarmos insensíveis às nossas necessidades, apesar da angústia latente. No entanto, é necessário termos atenção que uma coisa é aceitarmos que ainda não está na altura certa para enfrentarmos uma determinada mudança, outra coisa é agarrarmo-nos a essa ideia para não fazermos nada para mudar. Onde está então a diferença? Devemos de facto ter a tal sabedoria ou intuição para sentirmos a diferença entre as duas situações.
Obrigarmo-nos a mudar pode fazer com que a cada tentativa falhada o sentimento de frustração se agrave. A solução passa por subir um degrau de cada vez, ir introduzindo pequenas alterações no nosso comportamento para que a conquista seja diária. Como diz um velho ditado chinês «não receies dar passos pequenos, receia apenas ficar parado».

                                             Rossana Appolloni

domingo, 15 de julho de 2012

CAMINHO


Cabe a cada caminheiro,
mais que escolha de uma via,
construí-la em si, primeiro,
no viver de cada dia.

Se há Caminho a percorrer,
desde o início ao destino,
seu roteiro vem a ser
todo igual ao Peregrino.

O Caminho, além de verbo,
é de facto um substantivo:
Uma rota com avante.

Que resulta do acervo?
- É a dita de que vivo
sendo Via e Viandante.

                                            João d’Alcor

sexta-feira, 13 de julho de 2012

EDUCAR PARA O COMBATE AOS ESTEREÓTIPOS - 2



                                        Os estereótipos sexuais
                            
Já se referiu em crónica anterior que os estereótipos são comportamentos ou atitudes que se filiam em crenças que não são sustentadas nem pela razão, nem pela experiência. Igualmente se disse que eles assumem sempre um carácter redutor da realidade pois tornam mais estreita a visão que dela se tem, retirando-lhe a diversidade.
De entre os vários estereótipos, os sexuais são aqueles com que mais frequentemente nos confrontamos. Eis algumas formas por que podem manifestar-se:                
- as mulheres têm maior sensibilidade que os homens;                            
- os homens são mais agressivos e dominadores que as mulheres;
- há brinquedos mais adequados às raparigas que aos rapazes;
- os homens preferem as Ciências e as mulheres preferem as Letras;
- os homens são mais competitivos; as mulheres são mais cooperativas;                            
- há profissões mais adequadas a homens e há profissões mais adequadas a mulheres.

            Ora a família pode contribuir para a atenuação destes estereótipos de vários modos: no tipo de brinquedos que proporciona às crianças, nas atitudes diferentes que vai tomando em relação a cada um dos irmãos, se de sexos diferentes, nos comportamentos do pai, da mãe e de outras pessoas relevantes que são observadas pelas crianças…
            Mas a escola também tem um papel importante, principalmente nos ensinos pré-primário e básico, no combate a estes estereótipos. Assim, a natureza das actividades lúdicas, proporcionando mais jogos cooperativos aos rapazes e mais jogos competitivos às raparigas e a utilização de modelos de papéis não tradicionais em jogos sócio-dramáticos e em actividades de natureza produtiva são factores que contribuem para a atenuação da estereotipia sexual.
            Por sua vez, a comunidade, ao proporcionar a disponibilidade das empresas serem visitadas pelas escolas e a possibilidade de diferentes profissionais se deslocarem a elas falando do que fazem, principalmente se eles desempenharem papéis não tradicionais, está a dar um contributo de relevo para uma maior oportunidade de escolhas profissionais aos alunos.
            Enfim, ao orientarem-se as expectativas e as crenças, sabendo que elas, condicionando comportamentos, podem constituir-se como factores de valorização humana e ao combaterem-se os estereótipos, sejam eles sexuais, racistas ou xenófobos, está a construir-se uma sociedade mais culta, mais ética e com maiores oportunidades de realização pessoal. É, pois, na família, na escola e na sociedade em geral, onde situações educativas têm lugar, que essa orientação e esse combate devem ser travados.

                                                                           Mário Freire


quarta-feira, 11 de julho de 2012

CAMARADAGEM



É comum a sábio ou santo
ter virtude excepcional,
não se crendo, no entanto,
algo acima do normal.

Sendo assim, não há disputa:
Incapaz de uma apetência,
bem-fazer ignora a luta,
põe de parte a concorrência.

Em saber e santidade,
não seria caridade
os mais lentos superar.

Bom parceiro sabe ser
quem deveras tem prazer
em ver outros a avançar.

                                             João d’Alcor

segunda-feira, 9 de julho de 2012

QUER RESULTADOS DIFERENTES? SÓ COM ATITUDES DIFERENTES!


Se fizermos sempre a mesma estrada nunca chegaremos a um destino diferente. É o mesmo que dizer que nunca teremos resultados diferentes se fizermos as coisas sempre da mesma forma. As situações que se repetem são fruto de um nosso comportamento igual, seja por hábito, preguiça, cultura, educação ou simplesmente por medo de nos aventurarmos em áreas desconhecidas e incertas.
Muitas vezes, as experiências que vivemos fazem-nos sentir frustrados pela dificuldade que temos em gerir pessoas e situações de forma eficaz. Mesmo sabendo disso, conseguimos encontrar sempre justificações e não tentamos fazer nada diferente. É nossa responsabilidade fazer algo diferente para obtermos resultados diferentes. Para que isso aconteça, é necessário sairmos da chamada Zona de Conforto. Esta zona é aquela onde nos sentimos descansados e protegidos, pois sabemos com o que contamos. Vamos sempre ao mesmo café, fazemos sempre a mesma estrada, muitas vezes até tiramos férias sempre no mesmo sítio. O problema é quando ritualizamos também o que não gostamos e nos sentimos constantemente insatisfeitos, mas seguros porque já sabemos como é.
Deixar a Zona de Conforto implica arriscar e explorar outras possibilidades, outros caminhos. Implica perder as certezas e ir atrás de sonhos. Imagine como se sentiria se determinada situação se resolvesse ou se determinado desejo se concretizasse. Como se sentiria se conseguisse dar uma volta à sua vida? A saída está em si!
Faça o que estiver ao seu alcance, a intenção também não é criar-lhe ansiedade e passar da sua Zona de Conforto para a chamada Zona de Pânico, onde o perigo é capaz de o imobilizar. A ideia é sair para a Zona de Desafio, uma zona intermédia onde se pode pôr à prova, onde a sua vida se preenche de desafios e aprendizagens que o fazem crescer e conquistar resultados diferentes. Lembre-se: só atitudes diferentes geram resultados diferentes!

                                                           Rossana Appolloni

sábado, 7 de julho de 2012

ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR OS RESULTADOS DOS ALUNOS


                Num trabalho jornalístico trazido no “Público”, há já alguns meses, falava-se de duas professoras de Física e Química de uma escola secundária que tinham conseguido resultados de mérito nessa disciplina. Tal situação poderia ser considerada normal, não fossem dois factos: primeiro, a disciplina de Física e Química ser, tradicionalmente, daquelas em que o número de reprovações é elevado; segundo, os alunos sobre os quais incidiu o ensino serem oriundos, na generalidade, de meios desfavorecidos.
            Essas professoras identificam, para obter tais resultados, vários princípios. Um deles é o de “muito trabalho, muita dedicação, muita exigência”. E, como corolário deste, “ninguém pode exigir trabalho aos alunos se não trabalhar também”. Para justificar esta asserção, além das horas normais, as professoras, que funcionam em equipa, dão mais duas horas por semana a cada turma e uma terceira hora aos alunos que sentem mais dificuldades. O ensino da disciplina inclui, ainda, visitas de estudo e conferências feitas por pessoas vindas do exterior.
            Um outro princípio assumido pelas docentes, que identifiquei na peça jornalística, é que a escola tem que proporcionar as condições para que as características desfavoráveis dos alunos se atenuem; ela “deve dar a todos condições para terem sucesso no final do ano. Aproveitar ou não, depende deles (alunos) e dos pais; mas disso serão eles responsabilizados”.
            Outro aspecto perfilhado pelas professoras é o de considerarem a assiduidade e a pontualidade como valores a seguir escrupulosamente. No início do ano as professoras manifestam a sua disponibilidade de alargar os tempos de aulas e, perante tal atitude, a maioria dos pais e alunos assume o compromisso de considerar todas as aulas como obrigatórias, com as consequências daí advenientes. 
            Elas consideram, ainda, que a educação tem que formar alunos críticos e com ideias próprias mas não tem que ser necessariamente lúdica, o que não é incompatível com a afabilidade. Nem sempre aprender é uma tarefa fácil mas, como dizem, “o que custa tem sempre mais valor”.
            O “receituário” não parece fácil de cumprir mas, pelos resultados, foi eficaz.
           

                                                           Mário Freire


quinta-feira, 5 de julho de 2012

DA EDUCOLOGIA À INSTRUÇÃO - 11


                                 Princípios a honrar (Continuação)

Na sequência de princípios a honrar, são de destacar ainda os seguintes:
Partilha – O princípio da partilha é oposto a toda a forma de competição egoísta. Assagioli propõe “um amor sábio, um amor generoso, um amor que deixa espiritualmente livre quem dá e quem recebe.” Neste espírito, conta o dom recebido e sobretudo o amor de quem oferece.
Perícia – Esta faz apelo à competência no domínio que esteja em causa. Nela se conjuga o saber com o saber-fazer e o saber-viver, aliando a teoria com a prática. O amadorismo não basta.
Solidariedade – Evoca esta o sentido da colectividade, vindo a comprovar que da união provém a força e o sucesso. O convívio e o trabalho em equipa moldam as personalidades e somam as potencialidades.
Unanimidade – Alia-se este princípio a um objectivo comum a característica de cada particular, sem jamais sacrificar um elemento ao outro. Ela se manifesta particularmente na amizade em que a diferença é apreciada.
Unidade – Assagioli formula este princípio nos seguintes termos: “ Para estabelecer um bom relacionamento entre os indivíduos e os grupos humanos é necessário compreender, aceitar e praticar um grande princípio ou verdade que está na base da vida em todas as suas manifestações: O da unidade na diversidade.”

Uma vez expostos os elencos de qualidades a cultivar, obstáculos a integrar e princípios a honrar, importa sublinhar que, implícito e prévio a um simples manual de receitas, está o carácter existencial da educação próprio da educologia. A instrução pode ser apenas uma ideologia, um credo, uma ética, um código de conduta, uma simples ementa. Tudo isto pode motivar ou não, mas é algo que provém do exterior e que não dispensa a educação proveniente do interior. A educologia não exclui a teoria, mas põe o fulcro na vivência. Os simples enunciados anteriormente apresentados em sistema de palavras-chave podem despertar ou avivar essa vivência e servem de exercício prático, ao menos como reflexão, sendo que esta não se limita a uma abstracção. Vem daí o princípio psicossintético de partir da prática para a teoria, entendendo que, colocado na água, o bebé terá uma experiência da mesma anterior e superior ao entendimento da fórmula química desse elemento. 

                                              João d’Alcor



terça-feira, 3 de julho de 2012

ONDE ESTÁ A FELICIDADE: NO PASSADO, NO PRESENTE OU NO FUTURO?



        
A questão da felicidade está diretamente relacionada com o tempo psicológico em que vivemos. Há pessoas que vivem essencialmente focadas no passado, outras no presente e outras ainda no futuro. As pessoas melancólicas e saudosistas vivem sobretudo num tempo que já passou, não conseguindo tirar fruto das vivências do presente. Para estas, as experiências do passado podem ser de tal maneira presentes que deixaram de acreditar num possível futuro feliz.
No extremo oposto, encontram-se aqueles que fazem tudo em função de um futuro melhor. Entregam-se a sacrifícios no presente contando com uma recompensa futura. O problema é que, na maioria das vezes, essa suposta recompensa nunca chega. E mesmo quando chega, a sensação de bem-estar dura pouco, pois a pessoa rapidamente impõe a si própria novos objetivos, recomeçando um novo ciclo onde impera a ansiedade.
Num tempo presente, estão aqueles para quem a vida é um conjunto de experiências agradáveis a cada momento. Para estas pessoas, o prazer está no aqui e agora, portanto há que procurá-lo em tudo o que se faz, independentemente das consequências. Associam o esforço à dor e o prazer à felicidade, pelo que procuram o prazer imediato e evitam o mais possível as dificuldades. No entanto, o prazer imediato também dura pouco e facilmente se aborrecem. Além disso, são muitas as vezes em que as suas escolhas não trazem benefícios a longo prazo, alimentando assim uma sensação de vazio interior frequente.
            Onde se encontra então a possibilidade de ser feliz? Seguramente no presente, mas em ações cujas vantagens se sintam não só no aqui e agora mas também no futuro. O único modo para sentir uma felicidade que dure no tempo é apreciar uma viagem presente mas em direção a um destino que se julgue importante.
                                                                   Rossana Appolloni


domingo, 1 de julho de 2012

A QUEM INCUMBE A RESPONSABILIDADE DA EDUCAÇÃO?


             Num estudo elaborado pelo Conselho Nacional de Educação, onde se retrata uma década de educação em Portugal, dão-se algumas informações dignas de relevo sobre o insucesso escolar. Destaco, apenas, aquela que diz que só cerca de metade dos alunos dos 17 anos estavam no 12º ano. Relativamente à outra metade, 30% frequentavam os 10º e 11º anos, 10% eram alunos do Ensino Básico e os restantes 10% tinham abandonado a escola.

            Se aqueles números reflectem, um pouco, as nossas realidades escolares e sociais, torna-se, então, urgente ultrapassá-las. Mais do que lutas de natureza ideológica, precisamos de desenvolver uma política nacional da infância que inclua medidas que permitam contrariar os efeitos da pobreza, muito particularmente no sistema escolar. Torna-se urgente erradicar os determinismos sociais para proporcionar a todos o êxito.

            Como dizem Hintzy, Madignier e Content, dirigentes de três organizações internacionais ligadas ao desenvolvimento, se nada se fizer corre-se um risco social, desenvolvendo uma sociedade a duas velocidades, a dos favorecidos e a dos “deixados por conta” um risco político, dando argumentos aos extremismos mais radicais – um risco económico, deixando de lado os jovens que, sub-diplomados, serão, depois, sub-empregados e que nunca estarão entre os actores do crescimento – um risco moral, não proporcionando a solidariedade das gerações e rompendo o pacto moral que estava estabelecido entre a nação e os seus educadores.

            Assiste-se a críticas cruzadas em que se põem em causa os pais, antiquados, os professores, ultrapassados, as crianças e os jovens, desclassificados. A quem incumbe, então, a responsabilidade da educação?  A resposta, contudo, é evidente: a todos, decisores e cidadãos, os que determinam e os que são determinados pelas nossas escolhas.

Estamos a viver uma hora em que a urgência é à acção e à mobilização de todos numa dinâmica comum e, se possível, de consenso sobre as grandes linhas de intervenção. Já não é a dívida financeira que está em causa mas a dívida social que deixará a nossa sociedade debilitada no seu desenvolvimento.

 

                                                                  Mário Freire