segunda-feira, 13 de junho de 2011

O ENSINO NA 1ª REPÚBLICA - 4

                              
                                     (A propósito de uma exposição)

                         Pedagogos da República – Faria de Vasconcelos

            Foi um dos paladinos do Movimento Escola Nova. Com 22 anos, após ter terminado o curso de Direito na Universidade de Coimbra, parte para a Bélgica, matriculando-se na Universidade, em Bruxelas. Dedica-se ao estudo das ciências sociais, doutorando-se neste campo. Tenta, através da actividade educativa que exerce, dar corpo à chamada consciência social. Ora esta não é mais do que o modo como o ser humano lida com as regras que regem a sua vida. É pela consciência social que ele organiza e dá sentido ao viver em comunidade. A Psicologia e a Pedagogia serão, então, instrumentos que, entrosando-se no mesmo sujeito - o aluno - servem a Faria de Vasconcelos para dar conteúdo às suas ideias sobre educação.
            Entre 1902 e 1914 lecciona aquelas disciplinas na Universidade, em Bruxelas. Em 1912 funda a célebre Escola de Bièrges, a primeira escola belga integrada no movimento Escola Nova, para crianças onde aplica as suas ideias sobre educação.
            Talvez valha a pena enunciar alguns dos 30 princípios que nortearam aquele movimento e de que a Escola de Bièrges se orgulhava de seguir. Assim, a escola situa-se no campo, em plena natureza, mas próxima da cidade; há coeducação de sexos, em regime de internato, próximo da estrutura familiar, com uma figura masculina e outra feminina de educadores; o modelo escolar valoriza os trabalhos manuais, a cultura física, a formação prática e experimental e, como é óbvio, a formação científica e intelectual; os interesses dos alunos são aspectos centrais nos processos de aprendizagem; o trabalho individual e o trabalho de grupos estão sempre presentes; as visitas de estudo, as viagens e os acampamentos são meios ao serviço das aprendizagens; há uma preocupação pela educação moral, pessoal e social não imposta de fora, mas construída de dentro pela experiência reflectida; a educação valoriza o progresso individual, em que cada um compara os seus trabalhos presentes com os seus próprios trabalhos do passado e não tanto com os trabalhos dos companheiros… (Carlos Coelho e Abel Martins, in Para Uma Análise da Escola Nova de Faria de Vasconcelos - Universidade de Aveiro).
Com a invasão alemã, Faria de Vasconcelos decide ir para a Suíça, trabalhando no Instituto Jean Jacques Rousseau e, depois, para Cuba e Bolívia. Nestes países da América deu um contributo de tal modo relevante na criação e desenvolvimento das Escolas do Magistério Primário que, ainda hoje, é aí figura relembrada e estudada.
Durante os 18 anos que esteve fora, não esqueceu o País. São de destacar uma série de conferências que, em 1907, fez na Sociedade de Geografia de Lisboa sobre educação, tendo sido editadas, posteriormente, com o título Lições de Pedologia e Pedagogia.
Regressa a Portugal em 1920, tendo sido professor de Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa e o fundador do Instituto de Orientação Profissional de Lisboa. Faleceu em 1939.
                                                               Mário Silva Freire