segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

DESENVOLVIMENTO E SOLIDARIEDADE - 2


      Robert Schuman -  Uma referência de solidariedade para a Europa

Numa altura em que a Europa caminha um pouco à deriva, sem ter líderes que façam ressaltar aqueles valores que marcaram o sonho europeu, vale a pena recordar Robert Schuman.
Este político francês, ministro das Relações Exteriores, cinco anos após o termo da II Guerra Mundial, propôs aos Estados que tinham combatido que pusessem em comum a produção de carvão e de aço.
Ele pretendia assegurar uma paz duradoura. Exerceu, então, o seu empenho político como um apostolado, aplicando na vida pública os mesmos princípios da sua prática cristã. Ele experimentou as consequências da inimizade franco-alemã. Por isso, em 9 de Maio de 1950, Robert Schuman afirmou que “a paz mundial não poderá ser salvaguardada sem esforços criadores à medida dos perigos que a ameaçam. A contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização é indispensável para a manutenção de relações pacíficas”.
É a partir de realizações concretas que a solidariedade tem que ser afirmada. Por isso, ele propõe subordinar o conjunto da produção franco-alemã de carvão e de aço a uma Alta Autoridade, numa organização aberta à participação dos outros países da Europa.
E continua Schuman com a sua declaração: “Esta produção será oferecida a todos os países do mundo sem distinção nem exclusão, a fim de participar na melhoria do nível de vida e no desenvolvimento das obras de paz. Com meios acrescidos, a Europa poderá prosseguir a realização de uma das suas funções essenciais: o desenvolvimento do continente africano. Assim se realizará, simples e rapidamente, a fusão de interesses indispensável à criação de uma comunidade económica e introduzirá o fermento de uma comunidade mais vasta e mais profunda entre países durante muito tempo opostos por divisões sangrentas”.
Mais adiante, Robert Schuman avança que estas seriam as primeiras bases para a concretização de “uma federação europeia indispensável à preservação da paz”.
A partir daqui, gerou-se uma nova dinâmica de cooperação em vários domínios entre os países europeus a que os Tratados de Roma, em 1957, de Bruxelas, em 1965, de Maastricht, em 1992 e de Lisboa, em 2009 tentaram dar corpo a uma União onde a paz e a justiça social pudessem ser uma realidade.
Muito se avançou, é certo, em muitos domínios das infra-estruturas, ciência, educação e cultura entre os Estados-membros da União. Mas, nos dias de hoje, assiste-se a que cada líder europeu se preocupe mais com os resultados eleitorais no seu próprio país do que com os problemas que este capitalismo exacerbado, comandado exclusivamente pelo lucro, irá produzir na expansão da pobreza, no declínio da igualdade de oportunidades e na diminuição do emprego.
Onde se encontra aquele sonho de Schuman de fazer da Europa “uma federação europeia indispensável à preservação da paz”, quando no seu interior se semeiam sementes de violência que conduzem à guerra? Onde está o desígnio de contribuir para o desenvolvimento africano quando os que dele fogem, devido à fome e às guerras, são enclausurados e remetidos para a origem?
Robert Schuman (um visionário para uma nova Europa?) foi, pois, um homem que conseguiu ser coerente entre o que a sua fé de cristão lhe ditava e o que a sua prática de político lhe impunha. Alguém que bem poderia ser uma referência para os políticos dos nossos dias!

                                                     Mário Freire