Algumas questões que um modelo de desenvolvimento suscita
Vivemos num país em que os índices relativos à educação, ao acesso aos cuidados de saúde, às vias de comunicação, à esperança de vida, etc….nos colocam num patamar idêntico aos países mais desenvolvidos do mundo.
Mas este nível de desenvolvimento, tal como nos outros países com que nos comparamos, não impede que ainda haja pessoas que não têm onde dormir.
Por outro lado, está a tomar-se cada vez mais consciência de que o modelo em que assenta este desenvolvimento não pode continuar a subsistir. O Estado, essa entidade mítica que a todos (ou quase) socorria, está a deixar de ter capacidade de acorrer às necessidades que resultam do funcionamento da sociedade e às dificuldades de cada um.
O modelo de desenvolvimento que subjaz às nossas vidas coloca algumas questões. Assim:
- Será que os processos tecnológicos, cada vez mais sofisticados, e os modos de gestão cada vez menos humanizados, promovem a realização plena do homem?
- O emprego, para além de constituir um meio de sustentação económica individual e familiar e de ser um elemento fundamental de assunção da dignidade humana, é uma das primeiras preocupações dos decisores políticos? Que medidas têm eles tomado para que impeçam o crescente aumento do número de desempregados?
- Que tipo de desenvolvimento é este que permite que os chamados investidores bolsistas, num jogo de milhões de compra e venda, pouca riqueza produzam aos países, não criem emprego, desregulem economias, tendo, apenas, como objectivo o lucro?
- A taxa elevada de desemprego, especialmente a dos jovens, é de carácter transitório ou tende a transformar-se em realidade estrutural e permanente? Que futuro se lhes está a proporcionar?
- As qualificações disponíveis no mercado de emprego são as que se adequam às carências da sociedade?
- A precariedade no emprego é um acidente que decorre de uma conjuntura económica ou é uma realidade estrutural que vai permanecer?
- Em que medida o aumento da longevidade está a conduzir a um acréscimo dos anos de serviço efectivo no exercício de uma profissão e que consequências isso pode ter para a redução do número de postos de trabalho para os mais jovens?
- Por outro lado, como é que esse aumento de longevidade e a redução da natalidade tendem a diminuir, por parte dos Estados, a quantidade e a qualidade das respostas quer ao nível da saúde, quer da segurança social?
Eis algumas questões que este modelo de desenvolvimento suscita, atendendo apenas às realidades económicas que o envolvem, e de cujas respostas talvez se abrissem caminhos para a resolução dos problemas enunciados. Questões há, porém, de outra natureza, que serão tratadas em crónicas posteriores, que são contribuintes para as situações difíceis que se estão a viver.
Situando-nos na realidade económica, é nas empresas de sucesso, especialmente nas PME, a quem o Estado cabe fomentar e apoiar, que tem que se centrar a resolução de muitos dos problemas enunciados. Elas, além de procurarem os lucros para a satisfação dos seus compromissos e de se expandirem, procurando novos mercados, têm a função patriótica de contribuírem para a diminuição do desemprego e de financiarem o Estado com os seus impostos. Os seus empresários devem merecer todo o apoio e respeito. Não seria possível, porém, entre os objectivos estratégicos que essas empresas definem, relevarem ainda mais a importância do trabalho humano como factor de desenvolvimento pessoal e social, ainda que diminuíssem um pouco os seus lucros?
Mário Freire