A atenção é o
contrário de distração. É o contacto connosco próprios. É reconhecer o que
sentimos perante os estímulos exteriores. E quando andamos distraídos não
sentimos. Distraímo-nos para nos abstrairmos, porque é cansativo estar atento à
vida. É cansativo olharmos para nós, ficarmos no sentir, questionarmos as
escolhas que fazemos, assumirmos a liberdade de alterar tudo a qualquer
momento. Preferimos não pensar, não sentir, não sofrer, não nos molhar… e vamos
vivendo, ou melhor, sobrevivendo. Aceitar entrar no desconhecido assusta, mete
medo, cria-nos insegurança. É melhor não... É melhor optarmos pelo seguro, pelo
que nos é familiar e já conhecemos, pois assim sabemos com o que contamos. Como
se a vida fosse uma escolha entre certezas e incertezas… como se a vida pudesse
ficar imutável se escolhermos o conhecido. Resistimos. Resistimos. Resistimos.
Quem não resiste entrega-se à batalha. Só os grandes guerreiros se
disponibilizam às grandes batalhas. Batalhas que transformam a vida. Batalhas
onde nada se perde, a não ser o que já não nos serve ao nosso propósito de
vida.
Entrar numa batalha
para ganhar traduz-se em perder logo à partida. O objetivo deste tipo de
batalhas, ou desafios, não são a vitória sobre um inimigo, mas sim um enriquecimento,
uma transformação, no contacto com os outros, que não são nossos inimigos, mas
sim ferramentas para conseguirmos concretizar as nossas aprendizagens, sendo
que aprender e crescer implica superar obstáculos que tendemos a ver como
externos, mas que, na verdade, são apenas internos. Já só reconhecê-los é
difícil, implica atenção e perseverança num trabalho de olhar para si próprio,
o que nem todos estão dispostos a fazer.
Para os desafios nos enriquecerem há que estar
dispostos a ser afetado, no sentido de estar interiormente aberto para que
determinado momento possa provocar uma mudança. Entregar-se ao momento, deixar
que ele nos afete, acolher sem resistências para sentirmos a intensidade da
vida, no que ela tem de transformador, é só para quem tem a grande vontade de
valorizar e honrar a própria existência. Quando nos abrimos aos momentos e nos
deixamos afetar é sempre uma oportunidade para que o desconhecido passe a
conhecido. Mas até que ponto nos queremos conhecer? Na mesma exata medida em
que nos permitimos ser afetados pelos momentos que passam por nós. Ou os
apanhamos e corremos o risco de uma caminhada cada vez mais feliz, ou os
deixamos ir, na ilusória certeza de que a nossa vida continuará a mesma de
sempre.
Rossana Appolloni
www-rossana-appolloni.pt