quarta-feira, 9 de março de 2016

AS OMISSÕES DE UM INQUÉRITO EDUCACIONAL DE ÂMBITO INTERNACIONAL





Refiro-me a um inquérito feito pela HSBC a pais de alunos de 15 países de todos os continentes, excepto África. Lembro que aquela sigla identifica uma das maiores organizações de serviços financeiros e bancários do mundo.
Sem entrar demasiado no conteúdo desse inquérito, refira-se nele a ausência de qualquer país do continente africano. Será que “O valor da educação – trampolim para o sucesso”, tal como é intitulado o relatório que analisa as respostas do inquérito, não tem aplicabilidade à população africana, precisamente aquela que mais precisaria da acção transformadora da educação?
Na análise do inquérito apresentam-se percentagens que indicam que a Matemática, as Ciências e o Inglês são os ramos do saber que os pais mais valorizaram no ensino primário. Mais uma vez ocorre uma omissão que, julgo, de grande significado: a ausência de referência ao ensino da língua materna. Ora, este ensino é fundamental para que a criança possa desenvolver a capacidade de se expressar oralmente, de entender os textos que lê, de os produzir, de expandir, enfim, as suas capacidades cognitivas e relacionais. Como entender, então, esta omissão?
Na análise feita não se mostra aquilo que, directamente, foi inquirido. Fica-se, pois, na dúvida se esta omissão é devida a uma ausência de um item específico ou se os pais dos alunos desvalorizaram esta aprendizagem. Esta última situação, no entanto, parece-me não deve ser colocada, uma vez que muitos dos países inquiridos ou são de língua materna inglesa (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália) ou terem pertencido ou mantido relações próximas com o império colonial inglês (Hong Kong, Índia, Singapura, Malásia).
Será que os autores do inquérito já estão a partir do princípio de que a língua inglesa será aquela que irá substituir as línguas maternas, pelo menos nos países cujos PIBs per capita sejam dignos de figurar nas estatísticas internacionais?


                                 Mário Freire