Refiro-me a um
inquérito feito pela HSBC a pais de alunos de 15 países de todos os
continentes, excepto África. Lembro que aquela sigla identifica uma das maiores
organizações de serviços financeiros e bancários do mundo.
Sem entrar demasiado
no conteúdo desse inquérito, refira-se nele a ausência de qualquer país do
continente africano. Será que “O valor da
educação – trampolim para o sucesso”, tal como é intitulado o relatório que
analisa as respostas do inquérito, não tem aplicabilidade à população africana,
precisamente aquela que mais precisaria da acção transformadora da educação?
Na análise do
inquérito apresentam-se percentagens que indicam que a Matemática, as Ciências
e o Inglês são os ramos do saber que os pais mais valorizaram no ensino
primário. Mais uma vez ocorre uma omissão que, julgo, de grande significado: a
ausência de referência ao ensino da língua materna. Ora, este ensino é
fundamental para que a criança possa desenvolver a capacidade de se expressar
oralmente, de entender os textos que lê, de os produzir, de expandir, enfim, as
suas capacidades cognitivas e relacionais. Como entender, então, esta omissão?
Na análise feita não
se mostra aquilo que, directamente, foi inquirido. Fica-se, pois, na dúvida se
esta omissão é devida a uma ausência de um item específico ou se os pais dos
alunos desvalorizaram esta aprendizagem. Esta última situação, no entanto, parece-me
não deve ser colocada, uma vez que muitos dos países inquiridos ou são de
língua materna inglesa (Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália) ou terem
pertencido ou mantido relações próximas com o império colonial inglês (Hong
Kong, Índia, Singapura, Malásia).
Será que os autores do
inquérito já estão a partir do princípio de que a língua inglesa será aquela que
irá substituir as línguas maternas, pelo menos nos países cujos PIBs per capita
sejam dignos de figurar nas estatísticas internacionais?
Mário
Freire