O escritor libanês
Nassim Taleb chamou de cisne negro à
nossa incapacidade de prever o futuro a partir do passado e aos acontecimentos
que daí podem advir. É certo que hoje já se encontram meios para descortinar um
pouco do que há-de vir. Na ciência médica, por exemplo, o estudo da história
clínica de um doente pode ajudar a prevenir certas doenças e tratar melhor de
outras. No entanto, ainda há muito para fazer neste domínio de que certas
causas determinarão dadas consequências.
Quem pode prevenir-se
de uma catástrofe natural ou de um ataque terrorista?
Bertrand Russel
dizia-nos, já em 1912, de uma maneira muito prática: “uma galinha que é
alimentada todos os dias presume que continuará a sê-lo todos os dias. Nada na
vida dela aponta para o facto de um dia vir a ser morta.” Esta constatação
pretende dar resposta a duas perguntas formuladas por ele próprio e que são: Será
que o passado nos ajuda a prever o futuro? Porque é que não antecipamos os
acontecimentos inesperados? A tese do cisne negro, mais do que um modelo de
tomada de decisões, é uma rejeição do princípio de causa e efeito.
Perguntar-se-á, o que
é que isto tem a ver com a escola? Ora, na escola costumam fornecer-se aos
alunos receitas pedagógicas já feitas. Raramente se fomenta no aluno um
ambiente em que ele se sinta à vontade para discordar daquilo que lhe é
proposto e dado como certo ou evidente. É por isso que, segundo Russel,
“devemos sempre questionar as coisas que consideramos evidentes”.
Uma evidência é tudo
aquilo que pode ser usado para corroborar que uma determinada afirmação é
verdadeira ou falsa. Mas nem tudo o que é usado afirma a verdade. Quantas
fraudes foram detectadas em ciência e que, à partida, pareciam verdadeiras?!
Cite-se uma das grandes fraudes da Ciência, ocorrida há 100 anos que, até hoje,
envergonha e intriga a comunidade científica: o anúncio de um esqueleto que,
metade homem, metade macaco, seria o verdadeiro elo perdido da evolução.
Questionar, interrogar
o que se vê e ouve, é proporcionar o desenvolvimento do espírito crítico
construtivo que nos leva para um mundo com mais verdade.
Mário Freire