Caim e Abel eram irmãos,
filhos dos mesmos pais. Eles, no entanto, diferiam muito um do outro. Esta
fraternidade identificada na Bíblia não se distingue daquelas que a humanidade,
ao longo dos tempos, vai produzindo. A uma mesma natureza humana, com igual
dignidade, vão correspondendo, igualmente, pessoas diferentes, com capacidades
diversas, com especificidades próprias. Esta nossa humanidade, partilhando da
mesma natureza, por isso mesmo fraterna na sua origem, é portadora, pois, de
uma grande riqueza. É esta multiplicidade de dons que a faz avançar. Mas também
é esta variedade de personalidades, como as de Caim, “que interrompem tantas
vezes a nossa fraternidade de criaturas e deformam continuamente a beleza e
nobreza de sermos irmãos e irmãs da mesma família humana. Caim não só não
suporta o seu irmão Abel, mas mata-o por inveja, cometendo o primeiro
fratricídio” (Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz, 2015).
Mas a fraternidade
implica que cada um, independentemente das suas capacidades, do seu saber e do
seu poder, não coarcte o outro na liberdade de ser. Todo aquele que se vê
limitado de crescer, de se acrescentar mais naquilo que é, está a ser
maltratado na sua liberdade. Esta imposição da limitação da liberdade a outrem
provém quer de pessoas individuais, quer de instituições, quer do próprio
Estado e pode expressar-se em formas degradantes de trabalho, em condições de
vida não compatíveis com a dignidade humana ou, ainda, na descartabilidade da
pessoa, sendo esta tratada como um objecto. Todas estas situações em que se
nega a fraternidade humana são fomentadoras de guerra e de revolta e, daí, está
a atentar-se contra a liberdade humana.
Como é possível a
escola fomentar estes valores? Claro que o substrato que cada um trouxer de
casa sobre a prática da fraternidade e da liberdade muito ajudará a escola a
complementar a sua tarefa. Há, no entanto, sempre oportunidades, em todas as
disciplinas, de se sugerir que um aluno ajude um colega com mais dificuldades;
de abordar temas de âmbito curricular onde se discuta até onde pode ir o uso da
liberdade. Tudo depende da cultura da escola, da organização dos espaços mas,
fundamentalmente, da iniciativa dos professores.
Mário Freire