Fará no próximo ano,
no mês de Janeiro, oitenta anos que faleceu Leonardo de Coimbra. Para além de
filósofo, foi professor e interventor na sociedade, Ministro de Instrução
Pública (1919 e 1923). Nesta função criou as Universidades Populares, reformou
a Biblioteca Nacional e fundou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Como filósofo, o
criacionismo começou por ser a sua base
doutrinária. Este criacionismo não tem uma conotação biológica ou teológica
mas, antes, constitui uma filosofia em que coloca o pensamento como gerador de
uma actividade criadora impregnada de liberdade e libertada de determinismos
naturais e sociais. Ora, na base dessa actividade estaria a ciência. Duas
vertentes poderiam, então, ser consideradas na ciência.
Por um lado, a
razão seria a autoridade que, não se movendo ao sabor das modas e das
imposições do exterior, iria gerar uma comunidade livre e solidária. Por outro
lado, a ciência, mais do que da observação e da experimentação, construir-se-ia
a partir das representações mentais que formamos a respeito das coisas e dos
fenómenos, num caminho para uma realidade acrescida de sentido. Significa isto que
a realidade estruturar-se-ia a partir de um conjunto de noções elaboradas provindas
da acção criadora e ilimitada do pensamento.
O conhecimento, segundo Leonardo de
Coimbra, projectar-se-ia, então, mediante novas sínteses, de modo a fazer
surgir a arte, a filosofia e a religião. Se o pensamento científico se isenta
de imposições dogmáticas e contribui para a aproximação do homem ao mundo, dotando-o
de uma maior dignidade, então esta dignidade humana exigiria, “para a sua vida
essencial de acção moral, a arte, a filosofia e a religião”.
Defendeu a liberdade de ensino e, em consequência, apesar de toda a polémica
gerada, a possibilidade de ser administrado o ensino religioso nas escolas
particulares fiscalizadas pelo Estado. Mas, acima de
tudo, defendeu a liberdade pelo
ensino, isto é, o desenvolvimento do aluno nas suas várias facetas, a fim de
que ele adquirisse as capacidades e o conhecimento que o tornassem mais autónomo
e capaz, como sujeito de liberdade, de tomar as melhores decisões.
Reflicto nesta
grande meta do ensino, a do “desenvolvimento do aluno nas suas várias facetas”
e pergunto-me: será que só o Português e a Matemática são dignos das
preocupações dos nossos pedagogos oficiais, sendo as outras disciplinas ou um
resíduo escolar que não deve merecer muita atenção ou simplesmente serem
ignoradas (v.g. as artes)?
Mário Freire