quinta-feira, 12 de março de 2015

LEONARDO DE COIMBRA - A LIBERDADE DE ENSINO E A LIBERDADE PELO ENSINO

     

Fará no próximo ano, no mês de Janeiro, oitenta anos que faleceu Leonardo de Coimbra. Para além de filósofo, foi professor e interventor na sociedade, Ministro de Instrução Pública (1919 e 1923). Nesta função criou as Universidades Populares, reformou a Biblioteca Nacional e fundou a Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Como filósofo, o criacionismo começou por ser a sua base doutrinária. Este criacionismo não tem uma conotação biológica ou teológica mas, antes, constitui uma filosofia em que coloca o pensamento como gerador de uma actividade criadora impregnada de liberdade e libertada de determinismos naturais e sociais. Ora, na base dessa actividade estaria a ciência. Duas vertentes poderiam, então, ser consideradas na ciência.
Por um lado, a razão seria a autoridade que, não se movendo ao sabor das modas e das imposições do exterior, iria gerar uma comunidade livre e solidária. Por outro lado, a ciência, mais do que da observação e da experimentação, construir-se-ia a partir das representações mentais que formamos a respeito das coisas e dos fenómenos, num caminho para uma realidade acrescida de sentido. Significa isto que a realidade estruturar-se-ia a partir de um conjunto de noções elaboradas provindas da acção criadora e ilimitada do pensamento.
O conhecimento, segundo Leonardo de Coimbra, projectar-se-ia, então, mediante novas sínteses, de modo a fazer surgir a arte, a filosofia e a religião. Se o pensamento científico se isenta de imposições dogmáticas e contribui para a aproximação do homem ao mundo, dotando-o de uma maior dignidade, então esta dignidade humana exigiria, “para a sua vida essencial de acção moral, a arte, a filosofia e a religião”.
Defendeu a liberdade de ensino e, em consequência, apesar de toda a polémica gerada, a possibilidade de ser administrado o ensino religioso nas escolas particulares fiscalizadas pelo Estado. Mas, acima de tudo, defendeu a liberdade pelo ensino, isto é, o desenvolvimento do aluno nas suas várias facetas, a fim de que ele adquirisse as capacidades e o conhecimento que o tornassem mais autónomo e capaz, como sujeito de liberdade, de tomar as melhores decisões.
Reflicto nesta grande meta do ensino, a do “desenvolvimento do aluno nas suas várias facetas” e pergunto-me: será que só o Português e a Matemática são dignos das preocupações dos nossos pedagogos oficiais, sendo as outras disciplinas ou um resíduo escolar que não deve merecer muita atenção ou simplesmente serem ignoradas (v.g. as artes)?     
         

                                                                      Mário Freire