FALANDO DOS SOLOS
Para os romanos, solum
aludia não só ao solo, tal como ele é descrito em pedologia, mas também ao chão que pisavam, à terra onde
nasciam e ao território pátrio que foi o deles.
Alguns pedólogos
adoptaram este termo latino para designar apenas a parte superior, mais
alterada, do perfil pedológico, rica em matéria orgânica, designando por
alterito, rególito (do grego rhegós, cobertura, e lithós, pedra) ou saprólito
(do grego saprós, podre, e lithós, pedra) a restante parte do perfil que se lhe
segue em profundidade, representada pela rocha-mãe simplesmente meteorizada.
Em geologia planetária
fala-se, por exemplo, de “solo lunar”, embora sabendo que esta entidade não
possui a componente viva essencial à sua definição na Terra. São muitos os que
lhe chamam rególito, termo neste caso mais correcto, posto que alude à sua
condição de material incoerente de cobertura que não resulta de um processo de
meteorização (ali inexistente), mas sim, da pulverização da crosta rochosa
selenita (em especial, anortositos e basaltos), na sequência dos impactes
meteoríticos a que esteve intensamente sujeita num passado longínquo, há
milhares de milhões de anos, e ainda está, embora mínimo e sem expressão
actual. Do mesmo modo, o “solo marciano” não passa de areia solta e pedras (fragmentos de rocha dispersos) à
superfície do “planeta vermelho”.
No sentido a que se
referem pedólogos e geólogos, a composição do solo decorre da natureza da
rocha-mãe, da topografia e do clima, quer o decorrente da zonalidade
latitudinal, quer o relacionado com a altitude, e, consequentemente, dos
processos que lhe deram origem. A rocha-mãe começa por se descomprimir, por
diminuição da pressão litostática com a aproximação da superfície, e,
eventualmente, a sofrer alguma desagregação mecânica, abrindo-se à penetração
da água e dos gases atmosféricos
(oxigénio e dióxido de carbono) que promovem a sua meteorização química
abiótica (decomposição), mais ou menos pronunciada, em função das citadas
condições ambientais. Como resultado, a rocha evolui para um material terrígeno
(fenoclastos , areia, silte e argila) incoerente ou desagregado, ou seja, o alterito, como é, por exemplo, no
caso do granito ou do gnaisse, o saibro ou arena. Via de regra, a esta fase
segue-se a instalação de microorganismos e de plantas sucessivamente mais
exigentes (muscíneas, herbáceas, arbustivas e arbóreas), transformando o
alterito num solo.
A invasão desta capa
de alteração (ou de um qualquer tipo de depósito aluvionar) pela vida vegetal
acrescenta-lhe, ainda, os seus restos mortos em decomposição e os produtos da
sua actividade biológica, desenvolvendo processos bioquímicos hoje muito bem
estudados.
Consoante a
intensidade e a duração deste processo podemos distinguir solos imaturos ou
incipientes (pouco ou nada evoluídos), solos evoluídos ou maturos, havendo
todos os termos de passagem entre estes dois extremos.
Galopim de Carvalho