sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SABER FAZER PERGUNTAS


Existe um ditado já antigo no léxico pedagógico que diz que “bem perguntar é bem ensinar”. Na verdade, para um bom professor, tão importante como dar respostas correctas, é fazer perguntas adequadas, suscitar problemas para os quais possam, depois, haver respostas apropriadas. Foram as pessoas com espírito inquiridor, que viram problemas para resolver onde os outros os não viam, que fizeram avançar a humanidade.
Uma pergunta bem feita vai exigir de quem responde a elaboração de um raciocínio em conformidade com aquela. Vários têm sido os estudos que se têm debruçado sobre esta temática os quais, cada um à sua maneira, tentam fazer o seu modelo que possa, depois, ser aplicado à sala de aula.
Nestas mesmas crónicas tive já oportunidade de falar da taxonomia de objectivos cognitivos de Bloom, a qual veio, mais tarde, inspirar um modelo para a elaboração de questões (Sanders). Se estas, na sua grande maioria, se limitam a determinar o que se memorizou, o que se conhece, no seu nível mais básico, por exemplo, saber a percentagem da população dos Açores que vive da agricultura, muitas outras poderiam ser feitas, explorando níveis de cognição mais elevado.
Se apresentar um gráfico que relacione as temperaturas com a altitude, na Ilha do Pico, mediante uma extrapolação, os alunos estão em condições de responder sobre qual o valor plausível da temperatura para dada altitude não referenciada no gráfico.
Indo mais longe na exploração do campo da cognitivo, seria possível, por exemplo, solicitar-se, a partir de um texto que referisse um acontecimento, seja ele na Física, História, Ciências da Natureza…, com elementos importantes e outros dispensáveis e várias hipóteses explicativas para o mesmo, que fosse analisado o referido texto, tentando distinguir quer os dados relevantes, quer os não relevantes, quer as hipóteses.
Avançando ainda mais, solicitar-se-ia, por exemplo, a alunos do 4º ano que, a partir de vários números apresentados, na sua representação decimal e fraccionária, elaborassem um problema. A resposta adequada implicaria uma operação de síntese em que eles, a partir de vários elementos, teriam que os agrupar de modo a dar-lhes um todo coerente.
Poderia, ainda, propor aos mesmos alunos que elaborassem um juízo de valor, apresentando, por exemplo, as vantagens da utilização do quilómetro.
Muitas destas questões suscitariam mais interesse se fossem discutidas em grupo e, depois, cada grupo apresentasse as conclusões a que tinha chegado, gerando-se, assim, a discussão em plenário.
Enfim, a capacidade de iniciativa do professor, mitigada pelo bom senso, não deve ter limites quando posta ao serviço da aprendizagem dos seus alunos.


                                              Mário Freire